Uma bagunça! CID 10, AMB 90, AMB 92, AMB 96, TUSS, tabela SUS…Quem é familiarizado com os códigos de classificação de doenças e procedimentos assistenciais do sistema de saúde brasileiro conhece o emaranhado de tabelas existentes, assim como os gargalos na hora de avaliar o consumo de serviços de acordo com o tratamento de cada paciente internado. Apesar das tentativas de padronização, a realidade é que este legado tem comprometido a visão sistêmica que o gestor deveria ter sobre a relação da qualidade assistencial e seus custos. Nem os hospitais considerados excelentes, como é o caso do Sírio Libanês, de São Paulo, escapam dessa falta de clareza.
Para acabar de vez com essa, digamos, obscuridade no patrimônio clínico, o Hospital Sírio Libanês fechou parceria com a consultoria espanhola Everis e a gigante norte-americana 3M afim de desenvolver um Grupo de Diagnósticos Relacionados (DRG) adequado à realidade brasileira.
Oriundo nos EUA do fim da década de 60 e, atualmente, utilizado por todos os países da Europa ocidental, o DRG tem o propósito de qualificar os atendimentos de internação dos hospitais, segundo o grau de utilização dos serviços prestados. Para isso, por meio de um software realiza a categorização dos casos hospitalares. Apesar de cada paciente ser único, o sistema cruza aspectos comuns como o diagnóstico, a idade e os procedimentos realizados e, dessa forma, estabelece pacotes clínicos ou cirúrgicos, que contemplam a quantidade de recursos necessários para o tratamento.
Por exemplo: dois pacientes são internados com pneumonia. Um deles é diabético, hipertenso e tem 80 anos, enquanto o outro tem 20 anos e nenhuma complicação. Neste caso, com base no código DRG, fica nítido que o custo da internação será diferente.
Estudioso do assunto, o superintendente de novos negócios do Hospital Sírio Libanês, André Osmo, ressalta o benefício da comparabilidade da performance clínica entre equipes médicas e hospitais que seguem a metodologia. Por isso apostamos em utilizar um DRG reconhecido internacionalmente, contou Osmo com exclusividade ao Saúde Business 365.
Ao longo dos anos, o MS-DRG, usado nas relações comerciais dos hospitais americanos, vem sendo atualizado, e a 3M foi responsável por alguns desses ajustes em parceria com o Estado de Nova Iorque. Com isso, a empresa acabou patenteando essas alterações, dando origem ao AP e APR-DRG, estes não sendo de domínio público, como é o caso da codificação original MS-DRG.
No caso do acordo voltado para o Brasil, a intenção é colaborativa. Segundo o sócio da área de saúde da Everis no Brasil, Vicente Olmos, o interesse da organização está na expansão de suas soluções de análises da gestão do conhecimento clínico, podendo ser realizadas a partir, por exemplo, das informações geradas pelo DRG; do Sírio em se lançar à frente nesta reorganização das informações quanto aos atendimentos e custos; e da 3M em ter seu algoritmo comercializado no País.
Se conseguirmos desenvolver algo consistente, o Sírio, além se conhecer melhor internamente, também tem por objetivo oferecer ao Ministério da Saúde a possibilidade de adotar esse modelo, ponderou Osmo, lembrando que a solução abre a possibilidade de atrelar a remuneração com a performance e qualidade assistencial das instituições. Mas este nunca deve ser o aspecto central do DRG, concluiu Osmo.
Complexidade brasileira
O grande trabalho a ser enfrentado para a implantação no Brasil está no cruzamento dos dados necessários (idade, CID da doença principal, CID das comorbidades etc) para a geração do DRG, já que as instituições de saúde não possuem uma tabela de procedimentos padronizada.
Para se ter uma ideia, os americanos usam mais de 80.000 códigos de procedimentos e no Brasil temos 7.200 códigos TUSS (na saúde suplementar) e aproximadamente a mesma quantidade no SUS.
Apesar da complexidade, o superintendente do Sírio diz estar otimista quanto aos trabalhos, até pelo respaldo da 3M e conhecimento da Everis a respeito da experiência europeia. A Everis tem em seu time Eduardo Vigil, atual diretor médico global e ex-diretor de planejamento sanitário da Espanha no início do governo de Felipe González (1982-1996).
Tendência?
Mesmo na fase inicial, outros prestadores de saúde também estão de olho no DRG como estratégia de gestão no longo prazo, como é o caso da verticalizada Unimed BH, com mais de 5 mil médicos cooperados, 350 prestadores credenciados, tendo iniciado o projeto de implantação em 2013.