A placa “Sob nova direção” não está pendurada do lado de fora do Hospital 9 de Julho, mas as mudanças do lado de dentro do endereço, onde funciona há 53 anos, estão fervilhando. Reformas, expansão no número de leitos e definição das áreas de competência do hospital estão em andamento para consolidar um processo de profissionalização e melhorias que começou com os antigos proprietários, a família Ganme, e se intensificou após a venda do hospital, em janeiro, para a Empresa de Serviços Hospitalares – ESHO, controlada pelo empresário Edson de Godoy Bueno, principal acionista da Amil.
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Pela falta de espaço físico para crescer, a empresa está fazendo um gerenciamento de espaços que inclui a mudança de setores da administração para casas, salas e andares inteiros alugados nos prédios vizinhos para liberar metros quadrados para as atividades hospitalares. “É o que chamo de “”deshospitalização”” da área administrativa”, diz Luiz Alberto de Luca, superintendente geral do 9 de Julho, explicando que não faz sentido departamentos administrativo, financeiro, suprimentos, marketing e jurídico permanecerem dentro do hospital, o que, além do mais, representa um custo muito alto.
O segundo andar, por exemplo, que abriga algumas dessas atividades, vai ser totalmente esvaziado e reformado para se transformar em uma ala VIP, com oito suítes – quarto, sala e banheiro – maiores que os demais apartamentos, com área de 60 ma 70 m, e atendimento exclusivo com pequenos luxos como concièrge, garçons, cardápio de travesseiros e roupa de cama de alto padrão. Alguns andares já passaram por um processo de retrofit e já estão modernizados enquanto outras alas ainda passarão por um trabalho de atualização.
Para os próximos dois anos, estão previstos 78 novos leitos para ampliar a capacidade atual de 250 leitos. A UTI (Unidade de Terapia Intensiva) também vai crescer dos atuais 50 para 80 leitos, com melhorias no serviço hoteleiro dos quartos. A reforma envolverá também o pronto-socorro, que, por sua localização estratégica, é um dos mais procurados da cidade e hoje realiza cerca de 9 mil atendimentos por mês. Até mesmo a sala de espera do hospital passará por uma ampliação e modernização para melhorar as condições de bem-estar dos pacientes durante a espera da consulta ou do atendimento. As áreas de circulação ficarão mais amplas e o paciente poderá circular livremente pelo hospital, ir até a cafeteria, e o hospital terá sempre a informação de onde ele está por meio de um sistema de radiofreqüência.
Todas essas melhorias estão absorvendo investimentos totais entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões para o biênio 2008/2009, incluindo o programa de reposicionamento do hospital no mercado paulistano, saindo da gestão familiar para uma gestão de resultados que começou antes da venda. Segundo dados fornecidos por Luca, o hospital passou de um prejuízo de R$ 2 milhões em 2006 para um lucro líquido de R$ 11 milhões em 2007.
Para este ano, a expectativa é de chegar a um faturamento de R$ 230 milhões, um aumento de quase 8% sobre os R$ 213 milhões faturados no ano passado. O crescimento é atribuído a dois fatores: o mercadológico, que é reflexo do maior acesso da população à saúde, e o da eficiência empresarial, que resultou de uma série de medidas adotadas internamente, como, por exemplo, a reabertura de 16 leitos que estavam desativados. Esse aquecimento do mercado vem ocorrendo, segundo ele, desde 2006. Naquele ano, o 9 de Julho realizou uma média mensal de 880 procedimentos cirúrgicos e este ano a média está em 1,3 mil procedimentos mensais. O centro cirúrgico do hospital tem capacidade para até 14 cirurgias simultâneas. A ocupação média do 9 de Julho também aumentou e este ano está em 85%, contra 82% do ano passado, e 77% em 2006.
O relacionamento com os médicos também está sendo intensificado, uma vez que são eles, geralmente, que indicam o hospital para os pacientes em casos cirúrgicos. Segundo Luca, há cerca de um ano o 9 de Julho vem cadastrando todos os médicos que passam pelo hospital e hoje tem perto de 3,5 mil nomes cadastrados, com os quais pretende estreitar o relacionamento.
Uma das principais medidas que estão em andamento no 9 de Julho é o reposicionamento do hospital, que atualmente já é uma referência em medicina de alta complexidade, redefinindo quais serão as principais competências do hospital nos próximos anos, trabalhando essa nova imagem, diferenciando-o dos demais e mudando a percepção dos pacientes. “Não adianta mais querermos ser somente um hospital geral, temos que definir áreas de competência”, afirma Luca.
Essa definição já começou. O hospital vem trabalhando para se tornar referência nas áreas de gastro, oncologia, trauma do esporte, centro da dor e neurologia funcional e centro do rim – aproveitando que já é forte nas áreas de urologia, diálise de internados e ambulatorial, litotripsia (quebra do cálculo renal por ondas de choque) e transplante renal – traumas de emergência (ferimentos por faca ou projéteis) e a área de cardiologia.
Sobre a possibilidade de a crise financeira mundial afetar o ritmo de crescimento do 9 de Julho, o executivo diz que a crise preocupa, mas a vantagem para o hospital é estar em uma fase de investimentos, feitos com recursos próprios. “Se for preciso vamos aproveitar o período da crise para fazermos a reforma”, declara.