As pessoas que acharam exagero a matéria do SaudeWeb do ano passado com o Dr. Claudio Lottenberg, que discorreu sobre a crise no atendimento emergencial no Fórum Internacional Horizontes Anahp, poderiam ter presenciado o verdadeiro show de horror da saúde suplementar que tive o desprazer de vivenciar na virada e início do ano.
O que acontece de ruim na Cidade de São Paulo, que tem enorme rede de atendimento hospitalar de emergência é infinitamente menor do que acontece nas pequenas cidades.
Pegue o exemplo de uma cidade do litoral que já não tem infraestrutura de saúde para atender a pequena população nativa, e recebe veranistas. Não é só o fato da cidade ter que acolher até 10 vezes mais pessoas em um período do que abriga na rotina habitual: é que esta população que chega se aventura em fazer coisas que não está acostumada:
- Permanecer longo período de tempo ao sol;
- Fazer exercício físico não habitual;
- Consumir grande volume de álcool.
A relação acidentes/pessoa comparada com a vida normal da cidade é multiplicada por 100!
E o que a gente vê com tristeza são pessoas que pagam mais caro por um plano de saúde que tem rede credenciada nestas cidades pensando que serão atendidos dignamente se uma emergência ocorrer.
Os segurados de planos de saúde envolvidos neste cenário (população da cidade e veranistas) só se dão conta do problema quando necessitam da rede e não conseguem utilizar.
Não existe mecanismo eficaz para controlar a venda de planos de saúde por parte das operadoras: tudo que é feito atualmente neste sentido não funciona !
O que o Dr. Lottenberg relata já é absolutamente inaceitável quando comentamos que temos problemas para atender dignamente em um pronto socorro em São Paulo, mesmo tendo a opção de andar uns poucos quilômetros em busca de outro, se necessário. Quando vemos este problema em pequenas cidades nos perguntamos: como é possível a saúde suplementar ter chegado a este ponto?
É muito ruim a constatação de que ?não há luz no fim do túnel?, porque ao mesmo tempo que sofremos com o ?overbook? da saúde suplementar, somos bombardeados com notícias de que a ANS trabalha para divulgar o ?Glossário Saúde Suplementar?, a padronização para cobrança da ?Conta Aberta Aprimorada?, a padronização para cobrança de ?Procedimento Gerenciado? … grande esforço que infelizmente não tem nada a ver com a proteção do segurado.
Fico perplexo quando alguém discorda que a ANS não pode ser responsável pelo relacionamento ?operadora x serviço de saúde? e ao mesmo tempo pelo relacionamento ?segurado x operadora?: são coisas incompatíveis e necessitam de agências independentes que briguem ?uma contra a outra? (no bom sentido, é claro) !
Não é mais possível que nós, os beneficiários de planos de saúde, continuemos a ?ser não atendidos? ou ?atendidos com má qualidade? por uma rede que pagamos, enquanto a ANS fica discutindo a melhor forma de padronizar contas hospitalares.
É urgente a criação de outra agencia reguladora que se preocupe exclusivamente com a qualidade da assistência à população na saúde suplementar, e assim a ANS possa continuar concentrando seu foco na ?briga? entre hospitais e operadoras.