O déficit relativamente baixo nas transações correntes (de US$ 2,86 bilhões, a menor cifra em 10 meses, com exceção de maio) é o dado que mais chama atenção nas informações divulgadas hoje pelo Banco Central do Brasil (BCB) relativas ao setor externo brasileiro em agosto. Esse desempenho relativamente favorável, todavia, ancorou-se em três resultados totalmente atípicos, que não devem se repetir nos próximos meses. Assim, a tendência de deterioração da conta corrente em curso desde outubro de 2009 (na comparação com o mesmo mês do ano anterior) deve ser retomada nos próximos meses.
Em primeiro lugar, a balança comercial em agosto foi superavitária em US$ 2,44 bilhões, o melhor saldo em 11 meses (também com exceção de maio), que foi obtido graças à alta dos preços de alguns produtos básicos. As exportações de bens manufaturados seguem pouco dinâmicas, enquanto as importações, sobretudo de bens de capital, continuam em aceleração na esteira da recuperação dos investimentos.
Em segundo lugar, o déficit da conta de serviços foi o menor dos últimos 4 meses, mesmo com os gastos em viagens registrando novamente um recorde histórico (maior cifra para o mês de agosto da série do BCB). Contribuiu para atenuar esse déficit a menor saída de divisas em dois itens de serviços (“Computação e informação” e “Governamentais”), evolução, ao que tudo indica, pontual.
Em terceiro lugar, a conta de rendas teve o melhor resultado dos últimos 5 meses (déficit de US$ 3 bilhões) em função da redução das rendas de investimento de portfólio (que somaram somente US$ 526 milhões, a menor cifra desde fevereiro do corrente ano), que são mais voláteis. Provavelmente, os investidores optaram por adiar as remessas de dividendos diante das expectativas de uma taxa de câmbio mais favorável (ou seja, de uma apreciação do real), alimentadas tanto pelo elevado diferencial entre os juros internos e externos como pela futura entrada de divisas decorrente da capitalização da Petrobrás. Já as rendas de investimento direto externo atingiram US$ 2,2 bilhões, cifra superior às registradas em julho de 2010 e em agosto de 2009 (US$ 1,57 bilhões e US$ 1,05 bilhões).
Também é importante mencionar – especialmente para aqueles que acham que o diferencial entre os juros interno e externo vigente no Brasil não tem efeito sobre a taxa de câmbio – outro resultado relevante divulgado hoje pelo BCB, qual seja, o expressivo ingresso de investimentos estrangeiros de portfólio em renda fixa no país (essencialmente, em títulos públicos). Esse ingresso atingiu US$ 2,74 bilhões em agosto, o maior valor desde agosto de 2009, atraído exatamente por esse diferencial, o mais alto do mundo. Com isso, a participação dos investidores não-residentes no estoque da dívida pública mobiliária (que atingiu em julho 8,6% do total, o maior percentual da série histórica do BCB) deve ter atingido um novo recorde em agosto.
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Em contrapartida, as demais modalidades de investimento estrangeiro de portfólio (ações e renda fixa no exterior), os “Outros investimentos estrangeiros” e o Investimento direto externo (IDE) tiveram um desempenho menos favorável que o observado em julho. Com isso, o ingresso total de recursos externos somou US$ 10,5 bilhões (contra US$ 11,9 bilhões no mês anterior) e a conta financeira foi superavitária em US$ 6,6 bilhões. Essa cifra foi mais que suficiente para financiar o déficit em transações correntes, resultando num superávit de US$ 4,4 bilhões no Balanço de Pagamentos, o melhor desempenho desde maio do presente ano (US$ 4,6 bilhões).
No que diz respeito aos fluxos de IDE, ingressaram US$ 2,5 bilhões em agosto, resultado inferior ao verificado em julho (US$ 2,6 bilhões), mas 27,6% maior que o observado em agosto de 2009. Considerando os aportes brutos do IDE, o setor de serviços foi o líder, absorvendo 48,1% do total (US$ 1,2 bilhão). Em comparação ao mesmo mês de 2009, houve um crescimento de 35,2%. Os destaques foram os segmentos de Comércio (exceto veículos) e Serviços financeiros e atividades auxiliares. A Indústria foi o segundo destino desses aportes (equivalente a 31,2% do total ou US$ 759 milhões, cifra 35,9% superior à registrada em agosto de 2009), que se destinaram, sobretudo, às atividades de “Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis” e produtos químicos.Por último, aparece o setor agropecuário, com participação de 20,7% no mês, com US$ 503 milhões.
Resultados Gerais. O Balanço de Pagamentos em agosto registrou superávit de US$ 4,4 bilhões,. Para esse resultado de agosto, é importante destacar o resultado das Transações Correntes, que registraram déficit de US$ 2,8 bilhões e o resultado positivo da Conta Capital e financeira (US$ 6,7 bilhões). Na primeira conta, o saldo comercial foi superavitário na ordem de US$ 2,4 bilhões e a conta de serviços e rendas, assinalou um resultado negativo de US$ 5,5 bilhões (US$ 2,5 bilhões em serviços e US$ 3,0 bilhões em rendas).
Entre janeiro e agosto, o Balanço de Pagamentos apresentou um superávit acumulado de US$ 22,9 bilhões, contra US$ 24,2 bilhões no mesmo período de 2009. As Transações Correntes, por sua vez, apresentaram déficit acumulado na ordem de US$ 31,1 bilhões em 2010, frente resultado também negativo de US$ 9,6 bilhões no ano anterior. A conta capital e financeira passou do acumulado no ano de US$ 33,0 bilhões em 2009, para US$ 55,2 bilhões este ano.
IDE no Acumulado do Ano. No acumulado do ano, o IDE já é 8,0% maior que o resultado de 2009. O setor de serviços foi o líder, absorvendo US$ 7,9 bilhões (32,6% do total), sendo que Comércio (exceto veículos) e Serviços financeiros e atividades auxiliares foram os maiores receptores (ambos com US$ 1,1 bilhão). A indústria ficou em segundo lugar, com os ingressos de US$ 12,5 bilhões (51,5% do total). Destes, o setor de produtos químicos foi o líder, com fluxos de US$ 5,3 bilhões. Por último, aparece o setor agropecuário, com US$ 3,8 bilhões, em função, sobretudo, dos investimentos em Extração de minerais metálicos (US$ 1,8 bilhão) e Extração de petróleo e gás natural (US$ 1,5 bilhão).
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