A inauguração de unidades especializadas de saúde tem sido um marco do Governo do Estado do Rio de Janeiro nos últimos sete anos. Oferecer atendimento altamente resolutivo em polos de excelência em suas respectivas áreas a pacientes que necessitam de cuidados específicos é uma estratégia que vem se mostrando eficaz. A prova é o alto índice de sucesso dos tratamentos que antes não existiam na rede pública de saúde, o baixo registro de óbitos e a satisfação dos pacientes constatada através de pesquisas realizadas nessas unidades.

O próximo passo foi dado essa semana, com a inauguração do centro cirúrgico do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer. Trata-se do primeiro centro voltado exclusivamente à neurocirurgia. Não há nada igual em termos de equipamentos, serviços e equipe reunidos em um só lugar no país, nem na rede privada.

A unidade vem se juntar a outras que, apesar do pouco tempo de existência, já se tornaram referência no estado do Rio de Janeiro em suas respectivas áreas de atuação. O caso, por exemplo, dos Hospitais Estaduais da Mãe e da Mulher, voltados para atender gestantes e todo o acompanhamento da saúde feminina, do preventivo ao diagnóstico de tumores; o Hospital Estadual de Traumatologia e Ortopedia Dona Lindu, em Paraíba do Sul, focado nas vítimas de trauma, é hoje um dos maiores realizadores de mutirões de cirurgias ortopédicas do país; e o Hospital Estadual da Criança, especializado em cirurgias pediátricas, inclusive o transplante de rim e fígado.

O Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer conta com o primeiro centro de tratamento de epilepsia do estado, vai tratar de doenças do sistema nervoso central e periférico, como tumores e doenças vasculares e degenerativas, e Mal de Parkinson. O primeiro operado, inclusive, sofria com o Mal de Parkinson há mais de três anos. Na última quinta-feira (1), o paciente – um senhor de 62 anos morador de Cabo Frio -, saiu do centro cirúrgico já livre dos tremores em decorrência da doença. Não há registro de procedimento como este ? uma talamotomia estereotáxica ? em uma unidade pública de saúde do país. O paciente já recebeu alta.

O hospital vem ajudar a resolver também um grave problema de saúde pública, o tratamento do Ataque Cerebral, conhecido no meio médico como Acidente Vascular Cerebral (AVC). Hoje o AVC representa cerca de 1/3 das mortes por doenças vasculares no Brasil, principalmente nas camadas sociais mais pobres da população e entre os mais idosos. O IEC será referência no atendimento de pacientes com AVC isquêmico (nos casos em que o paciente é levado a emergência dos hospitais estaduais nas primeiras 4 horas do início dos sintomas. O chamado tempo de ouro).

À frente do serviço de neurocirurgia, a equipe do renomado neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho estará disponível para atender os usuários do Sistema Único de Saúde. Não à toa que o primeiro Instituto do Cérebro do país leva o nome dessa família. O pai, um dos maiores neurocirurgiões do mundo, responsável por desenvolver no Brasil técnicas até então nunca testadas. O filho, sempre dedicado ao atendimento de quem não podia pagar pelas complexas cirurgias, aguardava uma unidade pública com recursos dignos de sua equipe. Agora estão novamente juntos.

Neste primeiro momento, foram inaugurados 100 leitos entre internação, UTI e estabilização ? a segunda fase do projeto prevê a instalação de mais 100, totalizando 200 leitos -, quatro centros cirúrgicos e a previsão é realizar entre 8 e 10 cirurgias por dia; transformando-se, quando estiver operando em pleno vapor, na maior produção deste tipo de procedimento no país. O Instituto Estadual do Cérebro será o primeiro serviço público do país a contar com uma sala cirúrgica ligada à sala com ressonância, permitindo a realização de exames para confirmar a retirada de tumores complexos ainda durante a cirurgia. Estamos investindo em todo o projeto cerca de R$ 80 milhões e implementando de forma inédita em nossa rede o uso de cromoterapia nos leitos de enfermaria infantis através de iluminação de LED, com a possibilidade dos pequenos pacientes escolherem entre quatro diferentes cores.

Desde 24 de junho, a unidade está aberta ao público para atendimento ambulatorial. De lá pra cá, mais de 180 atendimentos foram realizados. A partir de agora, o hospital começa a receber pacientes para procedimentos mais complexos, como neurocirurgias, inclusive utilizando técnicas inéditas na rede pública.

Esse projeto representa para nós a possibilidade de atender a população carente do Rio de Janeiro em condições dignas com foco exclusivo nas doenças neurocirúrgicas, diferentemente do que acontece nos serviços de emergência. Acreditamos que a estrutura de ponta que montamos na unidade e os profissionais com grande experiência que nela vão atuar farão com que o Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer faça a diferença para as vítimas de AVC e outras doenças do cérebro em nosso estado.

* Sérgio Côrtes é cirurgião ortopédico e secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro

** Artigo originalmente publicado no jornal O Globo em 8 de agosto de 2013