Com mais de um século de existência, o tradicional e reconhecido Hospital Samaritano, localizado na capital paulista, não hesitou em transformar de maneira radical seu posicionamento no mercado para, de forma estratégica, acompanhar a tendência e a demanda do setor de saúde. No início de janeiro de 2012, a medicina considerada generalista cedeu lugar à especializada, passando a caracterizar-se como um hospital de especialidade.

Mesmo em meio a um longo processo de gestão de mudanças ? tanto nas estruturas assistenciais como administrativas ? a forma mais precisa de receber e direcionar o paciente à especialidade adequada já repercute positivamente entre médicos, operadoras e concorrentes. E, como confirma o superintendente corporativo da entidade, Luiz De Luca, ?esta é uma transformação irreversível que se inicia?. 

?Saímos de um olhar segmentado para uma assistência integrada?, ressalta De Luca, lembrando que o novo posicionamento foi elaborado pela conselho de administração juntamente com a diretoria da instituição. ?A direção implementa e cabe ao conselho fazer o acompanhamento. Cuidamos para que as mudanças estejam alinhadas nos dois níveis?, diz.

A estrutura de governança do Samaritano, que já é sólida e contempla comitês de finanças, clientes, patrimônio, recursos humanos, TI, entre outros, acaba permeando a implementação do planejamento estratégico, sempre em conjunto com os gestores do Samaritano.

Aspecto central

A criação dos até então sete Núcleos de Especialidades (Oncologia, Ortopedia, Cardiologia, Neurologia, Urologia, Gastroenterologia e Ginecologia Obstetrícia e Perinatal) e seus respectivos protocolos e centros integrados organizam a linha assistencial perseguida com afinco pelo Samaritano, que ?desembolsou? mais de R$ 5 milhões com mídia, marketing e novas contratações – tanto médicas como administrativas – em pouco mais de um ano de projeto.      

No comparativo com 2011, o ano passado contabilizou um crescimento de 27%, o equivalente a um salto de R$ 305 milhões para R$ 388 milhões. A projeção de faturamento para 2013 é de R$ 435 milhões, alcançando um crescimento de 12%. Os números estão de acordo com o objetivo do hospital de aliar os resultados financeiros à humanização no atendimento.

Com as equipes reorganizadas pelas especialidades de maior competência, os núcleos permitem aos pacientes realizar todo o diagnóstico, o tratamento e o acompanhamento no hospital. A triagem, ocorrida tanto na emergência, ambulatório ou em pacientes cirúrgicos, e os procedimentos decorrentes são realizados com base nos protocolos e na expertise dos profissionais. ?Foram desenhadas linhas de assistência e não blocos de departamentos. Essas linhas que conduzem a medicina especializada e os núcleos têm o papel de definir os protocolos em todas as áreas, desde a emergência, diagnóstico, estudo clínico?, explica De Luca. 

Médicos hospitalistas, com especialização em cardiologia, estão disponíveis 24 horas para dar suporte à enfermagem e atender códigos críticos, sendo uma peça importante para o interfaceamento entre os núcleos. O superintendente explica que cada um possui ramificações. O centro de mama, previsto para ser lançado em dezembro, está integrado, por exemplo, aos Núcleos de Oncologia e Ginecologia.

De Luca admite que foi preciso comprar brigas internas para mexer em uma estrutura já acomodada. Médicos cardiologistas, por exemplo, que estavam acostumados a praticamente atuarem como clínicos gerais, tiveram que mudar a forma de trabalhar para, dessa forma, direcionar o cuidado e identificar os possíveis riscos do paciente com maior precisão, priorizando sempre a doença prevalente.  ?Quem quer cuidar de tudo, não consegue cuidar de nada?, diz, explicando que o paciente tende a pular de médico em médico quando a linha assistencial está centralizada no clínico geral. ?Dessa forma a permanência é maior, resolutividade menor, há dificuldade de conduta homogênea e determinada, fica mais caro, desgasta o paciente e a operadora?.

De olho constante nas possíveis melhorias do atendimento, novos centros e núcleos são sempre considerados. Um dos recentes exemplos de sucesso foi a inserção de um neuroclínico presente na emergência durante 24 horas, trazendo mais atenção para a identificação de pacientes que apresentam distúrbios no sistema nervoso. O conceito de emergência especializada já estava sendo trabalhado pelos cardiologistas e ortopedistas de plantão.

Dentre as novidades que virão estão: um projeto para tratamento de câncer de próstata por meio de radiação, ou seja, sem a necessidade de procedimento cirúrgico, transformar a cardiologia em especialidade crítica, desenvolver os cuidados da mama e obesidade, fortalecer os transplantes de medula óssea, entre muitas outras. 

?Longe de estar pronto, o caminho está sendo pavimentado, mas uma coisa é certa: o Samaritano jamais será o generalista de cinco anos atrás?.