Não só do Brasil, o envelhecimento da população é um desafio global e os sistemas de saúde estão no cerne deste fenômeno, como agentes do cuidado populacional e para equilíbrio do setor. Apesar da transição demográfica ter ocorrido nos países europeus ao longo de 100 anos, ao passo que no Brasil a estimativa é de ocorrer em 30 anos, os países europeus também precisam repensar seus modelos assistenciais. A evidência foi apresentada durante a abertura do 2° Congresso Nacional de Hospitais Privados, nesta quarta-feira (02/10), em São Paulo. De tamanhos e estruturas organizacionais diferentes, o fato comum entre países como Japão, França e Estados Unidos é que existe a possibilidade de gastar de maneira mais eficiente e de realizar uma medicina ainda mais integrada e descentralizada. Japão
De acordo com o presidente da Associação de Hospitais do Japão (JPN, na sigla em inglês), Tsuneo Sakai, o Japão organizou um Comitê para conduzir uma reforma no setor, passando inclusive pelo sistema tributário. A porcentagem da população acima de 65 anos aumentou de 6% para 23% nos últimos 50 anos e a previsão é de chegar a 40% em 2030. ?Precisamos mudar nossa mentalidade para tratar e enfrentar o envelhecimento, e considerar uma saúde integrada entre profissionais e estabelecimentos?, afirmou Sakai, sugerindo um modelo de co-pagamento para idosos. França
Na mesma linha de pensamento, o diretor de comunicação da Federação dos Hospitais da França (French Hospital Federation), Cédric Lussiez, diz que é preciso destruir a fronteira entre serviços sociais e cuidados hospitalares. ?20% de todos os pacientes nos hospitais da França têm mais de 75 anos, e 40% destas internações são inapropriadas?, disse Lussiez, ressaltando a utilização massiva dos hospitais. ?Fazer um trabalho pré hospitalar e pós seria uma alternativa. Mas, para isso, o sistema de pagamento precisa ser redesenhado, e já estamos fazendo isso?, contou. No país a cobertura é universal, existindo algumas opções complementares que são privadas. Emergências e unidades geriátricas em todos os hospitais é um dos caminhos que o país tem encontrado para lidar com o envelhecimento. ?Temos equipes móveis que visitam asilos e casas de repouso, fazendo um trabalho preventivo. Vejo a transformação saindo do hospital como centro para uma nova relação com a atenção primária?, afirmou. EUA
Mais jovem como são os países do continente americano e não com menos desafios, assim é a situação dos EUA, que possui um gasto estrondoso na saúde de US$ 2,7 trilhões, contabilizados em 2011, o equivalente a 18% do PIB. A estimativa é de que 20% de seus 314 milhões de habitantes devem ser considerados idosos até 2030. Tratar e prevenir doenças relacionadas à demência, como Alzheimer, e outras como depressão, foi a tônica da apresentação do presidente emérito do Colégio Americano de Executivos de Saúde (ACHE, na sigla em inglês), Thomas Dolan. O país gasta US$ 109 bilhões por ano com esse tipo de patologia em que a prevalência em idosos é muito maior, incluindo doenças físicas e tendências ao isolamento social. Para se ter uma ideia, cerca de 20% das pessoas com mais de 65 anos sofrem de depressão e mais de cinco milhões de Alzheimer, e, segundo Dolan, esses números devem dobrar até 2050. Investir em educação e conscientização foi uma saída apontada pelo executivo. ?Apenas 3% dos depressivos acima dos 65 anos recebem tratamento. Eles precisam entender quais são os sintomas e mudar o estilo de vida?, concluiu.
Saúde europeia sofre com envelhecimento da população
Tendo envelhecido em 100 anos o que o Brasil irá envelhecer em 30, países europeus também enfrentam problemas estruturais. Remodelar os sistemas parece uma necessidade global
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