Desde o seu início, no último trimestre de 2008, a crise financeira que se alastra pelo mundo mostra suas garras e começa a refletir na área da saúde, com redução do crédito, aumento dos preços com manutenção e remédios, além do alto custo dos exames. Com o desenrolar de 2008, passamos da crise financeira (onde somente foram afetadas as entidades financeiras) para a crise econômica (diminuição de consumo, alta de estoques, parada da produção), entrando hoje em uma terceira fase, que é a crise social representada pelo desemprego.
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Inevitavelmente, a crise já afeta a população, da forma mais cruel: através do desemprego. Este, por sua vez, provoca a diminuição do consumo (menor demanda), aumento dos estoques de produtos – como tem acontecido no setor automobilístico, por exemplo – e os empresários diminuem a sua produção, gerando uma paralisia no setor de bens.
Já a oscilação cambial é a primeira preocupação dos investidores da área. Como boa parte dos insumos e medicamentos é proveniente do exterior, a desvalorização do real soa como um alarme do encarecimento da assistência médica.
Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados pelo Ministério do Trabalho, em 2008 foram fechados 654 mil postos de empregos formais. Fazendo as contas, se por trás de cada uma dessas pessoas tiver uma família possuidora de um plano de saúde empresarial, aproximadamente dois milhões de pessoas ficaram sem assistência médica da saúde privada, tendo que migrar para o serviço público, que é insuficiente e não consegue atender essa nova demanda.
No caso das empresas da saúde suplementar – os planos de saúde -, com a diminuição do número de empregados, a receita irá diminuir e haverá um comprometimento de toda a sua saúde financeira, pois a receita cairá com o aumento histórico das despesas. Ao governo, fica a tarefa de flexibilizar temporariamente os diversos impostos que podem inviabilizar a operacionalização dessas empresas no médio e curto prazo.
Como medida para reduzir os impactos do desemprego para o setor, o seguro desemprego, direito do cidadão, deveria estar acoplado a um seguro de saúde para esse período. Esse seria um exemplo da portabilidade de carência regulamentado pela ANS (Agência Nacional de Saúde) em janeiro, onde o cidadão pode migrar de um plano coletivo para outro individual sem carência. No caso específico do desemprego, teria um efeito social muito mais benéfico para a população trabalhadora.
Logo, a pequena marola dita no começo da crise financeira poderá virar um furacão no setor da saúde. O governo deve ser o grande artista para que a população e empresas de capital privado não afundem nesse momento. Em um cenário de crise, investir bem é o primeiro passo. Por isso, deve-se pensar cada vez mais em gerenciar os gastos e os custos com a saúde de forma eficiente, além de propiciar um ambiente favorável ao desenvolvimento, tais como amenizar as exigências tributárias. Principalmente nesse momento, os investimentos não podem perder o foco. Com grande necessidade de mudança, o setor deve sofrer os impactos da crise, porém, deve se preocupar em melhorar cada vez mais, a fim de atender a população em sua necessidade mais gritante: a saúde.
* Shinomata é formado em Medicina pela Universidade Santa Casa de São Paulo, possui MBA Executivo Internacional em Ohio (EUA). É mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e superintendente da Unimed Seguros.
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