Em relação à Saúde, disse nossa Presidente da República em recente pronunciamento: “… na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com saúde. E vamos ampliar cada vez mais”. E nada mais de importante…
O problema é que, não apenas no discurso, mas na prática, o Brasil dá sinais de que não sabe por onde começar para também gastar melhor na saúde. E gastar mais, sem gastar bem, pode ser o que falta para o colapso do setor, não o contrário. Por mais que gráficos divulgando mais investimentos possam até servir como propaganda pré-eleitoral, as conseqüências a médio/longo prazo disto como ato desconectado de projeto inovador podem ser fatais (sequer comentarei a importação de médicos estrangeiros como proposta adicional – única oferecida na perspetiva de onde gastar mais, na verdade -, pois, separada de uma reforma mais ampla de modelos e de uma análise mais profunda das relações entre custos e desfechos de diferentes alternativas, com o objetivo de identificar aquelas capazes de oferecer aos brasileiros o melhor resultado por unidade monetária investida, parece piada de mal gosto, ou simplesmente representa outros interesses).
É um desafio mundial a racionalização dos gastos na saúde, que, ao crescerem em espiral, e, no nosso caso, sem controle algum dos desvios da corrupção, irão justamente nos levar ao buraco. Cabe lembrar que até mesmo em países onde se faz saúde de melhor qualidade e a carência de recursos não é tão grande, boas evidências científicas sugerem que o resultado não se relaciona bem com dinheiro gasto isoladamente. E é impossível não suspeitar que por aqui mais gastos deverão representar apenas números para propaganda e marketing, e mais recursos saindo pela tangente.
Faço parte de um grupo de médicos que estaria disposto a arriscar por novos modelos de remuneração, onde inclusive é provável que mais percamos do que ganhemos a curto prazo. Aceitaria também incentivos e privilégios para fortalecimento da atenção básica, apesar de atuar em hospital de alta complexidade. Mas assim não dá… Querem nos roubar também a disposição e a esperança. Saúde a caminho do apagão!