Presidente da Associação Mundial de Hospitais (IHF), Francisco Balestrin, participou do debate e mostrou a importância de remunerar a partir da qualidade do serviço

Para marcar o lançamento em Goiás do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEX), os apoiadores da instituição, a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) e a empresa The1, promoveram um debate sobre o modelo de remuneração baseado em valor. O evento, realizado na manhã do dia 20, na Faculdade ESUP, em Goiânia, contou com a participação de Francisco Balestrin, presidente da Associação Mundial de Hospitais (IHF), e de Daniel Greca, sócio-diretor de Healthcare da empresa de consultoria KPMG.

Em sua fala, Balestrin destacou a importância de se discutir tal assunto ao expor o atual cenário da saúde brasileira. Ele alertou que fatores, como o envelhecimento populacional e as doenças crônicas da terceira idade, a baixa taxa de nascimentos e doenças infectocontagiosas que ressurgiram, além de causas externas, como a violência e acidentes de trânsito, pressionam os hospitais públicos e privados do País.

Com tantas demandas, ele afirma que o modelo de remuneração Fee for service não é sustentável. Para resolver a situação, um dos modelos mais adequados, de acordo com Balestrin, seria o de remuneração pelo valor. “Na saúde, o serviço é oferecido a partir do preço e não da qualidade, o que é errado. Temos que oferecer algo de qualidade e, depois, precificar”, explica o presidente da IHF.

Haikal Helou, presidente da Ahpaceg, concorda, mas ressalta que não há um único modelo de remuneração perfeito e a transição de um para outro não será abrupta. “O que nós discutimos é adaptar para cada segmento. Na cirurgia geral, por exemplo, há maior previsibilidade, então é possível fazer uma pacotização. Já a psiquiatria não permite isso”, explica. O importante, continua ele, é recompensar o bom resultado.

Definição de valor

Para precificar de acordo com a qualidade, é preciso primeiro entender o que é valor. Francisco Balestrin e Daniel Greca apresentaram que um dos meios de definir é pelo equilíbrio entre os desfechos clínicos (que envolvem a evolução do paciente no hospital) e a experiência deste a longo prazo. “O valor é pessoal e esse é um dos desafios. Porém, uma conversa transparente entre médico e paciente já é capaz de definir o que é valor para cada tratamento”, afirma Greca.

Ele também orienta que as experiências dos pacientes devem envolver os seguintes itens: personalização, integridade, expectativas, resolução, tempo/esforço e empatia. Cumprir com esses fatores não requer sempre o uso de tecnologias, como mostrou o especialista nos cases de sucesso que levou ao evento.

Com esses esforços para a mudança do modelo de remuneração, os maiores beneficiados não serão os hospitais e, sim, os pacientes, segundo Greca. “Eles receberão os cuidados na medida certa e na hora certa. Porém, essa discussão ainda está um pouco tímida no Brasil. Temos que analisar o que deu certo em países que avançaram mais, como Reino Unido e Holanda, e adaptar à nossa realidade”, relata.

Aplicações em Goiás

Conhecer os modelos aplicados em outros locais foi o que levou a gestora de tesouraria do Hospital Infantil de Campinas, Leydiane Souza, ao debate. “Onde trabalho, já temos uma planejamento para mudar o modo de remuneração, mas é preciso antes ouvir dicas e estratégias para podermos prospectar nosso 2019”, conta.

Outra preocupação dos participantes é encontrar formas da área financeira dos hospitais não dependerem tanto dos valores pagos pelos planos de saúde, como citou o gerente administrativo do Hospital Amparo, Luís Carlos Pedreira. Já para a médica infectologista Ludmila Costa, instituições com remuneração pelo valor se diferenciam no mercado. “O que se espera é que as fontes pagadoras remunerem esses hospitais de forma diferente, pois eles têm a qualidade como primor”, observa.

CBEX

O capítulo goiano do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde, lançado durante o debate, trabalhará com educação e certificação dos profissionais de saúde do Estado, o relacionamento entre eles e será ainda um representante do setor, segundo informa o presidente Christiano Quinan.

“Queremos promover mais eventos como o de hoje e, com eles, auxiliar na formação de gestores e líderes da área da saúde. Assim, entregaremos uma excelência em gestão que refletirá no atendimento ao paciente”, assegura Quinan. Ele acrescenta que, para 2019, já estão planejados mais quatro encontros e um fórum.

Os interessados em se associar ao CBEX de Goiás podem preencher um formulário no site da instituição. Após análise do conselho, já será possível participar dos eventos promovidos pelo Colégio.

ENTREVISTA – “ Teremos um sério problema de sustentabilidade”

Em entrevista, Francisco Balestrin, presidente da Associação Mundial de Hospitais (IHF), reforça que é preciso implantar novos modelos de remuneração, uma vez que o Fee for service não suportará o atual cenário da saúde.

Quais as atuais formas de remuneração no setor hospitalar e porque elas precisam mudar?

Existem vários modelos. Temos os menos complexos, mas mais complicados de controlar, como o Fee for service, que podemos relacionar com um restaurante: a cada coisa que você pede, há um custo. Então, toma um medicamento, paga pelo medicamento. Fica no quarto, paga pelo quarto. Porém, esse é o modelo mais difícil porque estimula o consumo.

Outros modelos mais controlados, envolvem mais coisas, como os pacotes e até o chamado Per capita, em que é feito um contrato e quem vai financiar – seja público ou privado – paga por cidadão e todos os cuidados com determinado valor. É uma situação mais difícil para a gestão, pois é preciso conhecer vários dados, a população atendida e as doenças existentes naquele local. Caso contrário, o hospital pode fazer menos do que deve ou fazer mais e receber menos.

Quais serão os benefícios para os hospitais e pacientes se for feita a transição para o modelo de remuneração por valor?

Esse modelo leva em consideração o custo e a satisfação do cliente, é focado nas pessoas que recebem os cuidados. É uma relação entre o que se gasta e o que se consegue prover de valor, levando em consideração os resultados clínicos. É usar uma determinada quantidade de dinheiro para receber algo que te traga apreciação, mas devemos lembrar que nem tudo tem valor.

Como o setor deve lidar com o contexto de menores investimentos na saúde e aumento da demanda pelo envelhecimento da população?

Além das pessoas mais velhas, temos também menores taxas de nascimentos e mais tecnologias, que tornam a assistência mais cara. Tudo isso sem a possibilidade da área privada investir mais nem de conseguir recursos no público. Se nós não mudarmos e encontrarmos um modelo de remuneração que gere um equilíbrio no sistema, teremos um sério problema de sustentabilidade.