Na metade do século XIX, o Brasil enfrentava uma das mais graves epidemias de sua história, a cólera. Considerada uma dos grandes flagelos da época, a doença, que chegou à colônia por meio de navios vindos da Europa e Ásia se alastrou rapidamente pelas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do País, chegando a matar cerca de cem pessoas por dia.

Além desse mal, o Brasil ainda sofria com epidemias de varíola, tuberculose e febre amarela, que também fizeram milhares de vítimas, principalmente no Rio de Janeiro, capital do império.

Para conter a epidemia e oferecer tratamento aos enfermos em Recife (PE), o médico lusitano e presidente do Gabinete Português de Leitura, José D?Almeida Soares Lima Bastos, reuniu membros da colônia portuguesa no Brasil para fundar, em 1855, o primeiro hospital de beneficência da região.

Instalado provisoriamente no bairro de Boa Vista, na capital pernambucana, a instituição atendeu 62 enfermos no início de 1856. Nesse mesmo ano, para expressar o apoio de Portugal às atividades do hospital, o rei D. Pedro V colocou a instituição sob sua Real proteção e posteriormente confirmado, em 1907, pelo rei D. Carlos I, que outorgou o título de Real ao Hospital Português de Beneficência.

Ao longo da história o RHP expandiu sua relevância no cenário da saúde em Pernambuco e ganhou novas instalações. Hoje, a instituição ocupa uma área de 117 mil metros quadrados, possui 594 leitos de internação, 176 de UTI e 16 salas cirúrgicas distribuídos em nove prédios. Até o final de 2012, outros 328 leitos e sete salas cirúrgicas serão inaugurados, além da concentração de todo o serviço oncológico em um único edifício.

?Contamos com oncologistas clínicos, cirurgias de cabeça e pescoço, radioterapia e serviço de diagnóstico. Com o novo prédio, nosso objetivo é congregar todo esses serviços em uma estrutura totalmente adequada para acompanhar o paciente oncológico?, acrescenta a diretora médica do hospital, Maria do Carmo Lancastre.

Considerado uma das maiores unidades hospitalares das regiões Norte e Nordeste, o RHP é um hospital geral e referência em cardiologia, neurologia, cirurgia torácica e diagnóstico por imagem, sendo também o primeiro na região a realizar transplante renal intravivos e responsável por cerca de 18 mil atendimentos de emergência todos os meses. Para dar conta de toda essa operação são necessários quatro mil colaboradores, distribuídos entre áreas de apoio, administrativa e assistencial, além de 700 médicos.

O Real Hospital Português atende a população em quatro diferentes modelos assistenciais, o primeiro e mais antigo, criado há 157 anos, é o beneficente, direcionado à população carente, onde a própria instituição arca com os custos assistenciais. O segundo tipo de atendimento é feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e os outros, por meio de operadoras de saúde e atendimentos particulares, que auxiliam no custeio da instituição, uma vez que a remuneração feita pelo SUS é defasada.

Novos rumos

?Aqui no hospital nós temos um lema: português com muito orgulho e brasileiro com muito amor?, brinca Maria do Carmo, com sotaque carregado que faz lembrar o contexto do nascimento da instituição há dois séculos. Mas longe de ser uma instituição ultrapassada, que antes atendia doenças infecciosas e voltado para um perfil de população de um Brasil moldado pela Colônia, hoje se prepara para um salto rumo à educação.

Em 2009, o RHP decidiu estender suas atividades tornando-se uma instituição voltada também ao ensino e pesquisa com programas de residência médica. ?Em 2009 começamos a residência em pediatria, em 2010, ortopedia e já estamos submetendo nosso programa de residência para as áreas de clínica médica, nefrologia, cirurgia torácica e medicina nuclear?, acrescenta Maria do Carmo.

Para confirmar essa mudança, o hospital criou no ano passado o instituto de ensino e pesquisa Alberto Freire da Costa. ?O hospital tem um campo enorme de atuação e esses programas poderão beneficiar a região permitindo que os médicos tenham treinamento com ensino e tecnologia de ponta?, completa a executiva.

No início do mês de março, os ministérios da Saúde e da Educação propuseram parcerias com alguns dos hospitais de excelência, mais o Hospital Aliança (BA) e o Real Hospital Português para a criação de novos centros de formação médica, com o objetivo de aumentar o número de profissionais e a qualidade do ensino. De acordo com a diretora médica do RHP, essa é uma questão nova e a viabilidade do projeto está sendo analisada.

Segundo Maria do Carmo, o lançamento de um curso de medicina já vem sendo considerado pelo hospital, no entanto ele ainda não se posicionou ao ministério da saúde com uma resposta sobre a proposta. ?Está muito claro para a entidade que um de nossos objetivos é transformar o RHP em um hospital escola e já começamos com alguns cursos de pós-graduação na entidade?.

OLHO

?Está muito claro para a entidade que um de nossos objetivos é transformar ?o RHP em um hospital escola? ?Maria do Carmo, do RHP