Neste meu primeiro artigo para o portal Saúde Business, para o qual estou muito honrada pelo convite de assinar uma coluna, poderia dedicar boa parte do meu conteúdo à gestão no SUS e a todos os seus desafios em um país de dimensões continentais como o Brasil, e causa pela qual tenho dedicado boa parte de minha carreira há alguns anos. Mas abro este espaço para falar também de outros temas que são muito caros para mim e minha forma de fazer gestão, assim como diversidade, inclusão, acesso à saúde, liderança feminina, inovação social e a governança.
Para que vocês entendam um pouco o porquê da escolha por esses temas, creio que faça sentido contar minha trajetória.
Sou uma mulher negra, do extremo da zona leste da capital paulista, caçula de cinco filhos de uma empregada doméstica e de um torneiro mecânico vindos do estado de Pernambuco. Ainda jovem eu percebi que eu somente mudaria do que chamo de arquitetura social (este tema sozinho vale um artigo), por meio da educação.
Costumo dizer que a educação é o maior ato de rebeldia contra qualquer sistema. E foi essa rebeldia que me levou a ser a primeira da família a frequentar a universidade e, anos mais tarde, a alcançar o título de mestra em saúde e competitividade.
Voltando no tempo, iniciei minha carreira em 2005 como recepcionista em uma das mais reconhecidas instituições de saúde do país e aonde venho até hoje trilhando minha trajetória profissional, ocupo um cargo de direção há cerca de seis anos. E isso só foi possível graças à minha resiliência, mas, especialmente, por eu ter buscado agregar conhecimento durante esses quase 20 anos. Considero que a educação vai além da sala de aula; creio que seja um meio de romper barreiras e conquistar espaços historicamente inacessíveis.
Tenho plena consciência de que sou uma das poucas mulheres com o meu histórico a alcançar isso. Por isso, a importância de que as instituições e seus gestores tenham um olhar mais acurado para a diversidade e a inclusão, tema deste meu primeiro artigo.
Conceitualmente, diversidade é a pluralidade de pessoas e suas características, enquanto a inclusão é a capacidade de acolher e respeitar essas diferenças. Para ser mais explícita, gosto muito de usar uma frase da Vernā Myers, VP de Inclusão da Netflix, que diz: “diversidade é convidar para a festa e inclusão é chamar para dançar”. Ou seja, do ponto de vista empresarial, entendo que seja preciso que a instituições, incluindo as de saúde, tenham estratégias desenhadas de aumento da representatividade de diferentes grupos étnicos, de gênero e socioeconômicas nas equipes, baseadas em políticas de equidade.
Quem está na sala com você planejando o futuro importa? Importa e muito! Porque empresas que valorizam a diversidade tendem a ser tornar mais competitivas e melhoram seus resultados, já que profissionais de origens diversas costumam ter opiniões distintas sobre temáticas cotidianas. E isso amplia a visão de mundo da empresa. Do ponto de vista da inovação, a diversidade se mostra importante, pois pessoas com vivências e perspectivas diferentes colaboram com um repertório cultural mais rico, o que as torna capazes de propor novas alternativas para as mais diversas questões e desafios.
Nas instituições com diversidade, de fato, em seu quadro de colaboradores, o respeito e a tolerância às diferenças também tendem a estimular a capacidade de escutar e de buscar acordos, fazendo com que se lide com mais facilidade e flexibilidade frente às divergências. Essa cultura de respeito mútuo e compreensão ajuda a prevenir conflitos desnecessários e promove um ambiente de trabalho mais harmonioso.
Como relações públicas de formação, não posso deixar de citar os ganhos de reputação que se tem ao se assumir uma postura ligada à diversidade e os impactos positivos para a sociedade. Quando mensagens consistentes das práticas de diversidade extrapolam os muros das empresas não é incomum o ganho de credibilidade ao negócio e, eventualmente, de acesso a novos mercados, vide todas as mudanças que as práticas ESG têm feito no mundo dos negócios (este tema vale também um outro artigo).
Nos ambientes nos quais circulo hoje, muitas vezes sou uma das poucas mulheres e, quase sempre, a única negra. Porém, isso nunca me impediu de me posicionar e galgar novos espaços. Se uma menina como eu, com um prognóstico desfavorável a uma carreira executiva de sucesso conquistou seu espaço (sucesso profissional é mais um tema que vale um artigo dedicado), tenho certeza de que outras meninas também conseguirão.
Cada novo degrau em minha vida não é somente uma vitória pessoal, mas uma vitória coletiva para todas as mulheres que, como eu, sonham em romper ciclos e ocupar espaços de liderança.