Com a recente morte do ator Robin Williams, a depressão voltou a ser capa de revistas e assunto discutido pela sociedade e especialistas, o que é bom, já que a doença segue firme a tendência de ser a doença crônica que mais acomete a sociedade, e merecer o apelido de “doença do século”.
Atualmente a depressão é diagnosticada através de um exame físico e psicológico, porém depende muito do auto-relato de sintomas subjetivos como humor, falta de motivação, mudanças no apetite e no sono. Muitas pessoas que buscam evitar esse diagnóstico, por razões diversas, podem mentir durante o exame, fazendo com que a doença seja sub-diagnosticada.
Porém um teste mais objetivo pode tornar o diagnóstico mais assertivo e próprio. Cientistas da Northwestern Univerity podem ter criado essa ferramenta, uma que não precisa de mais que um tubo de coleta de sangue.
Um time de pesquisadores, liderados pela Dra Eva Redei e Dr David Mohr, descobriu que o nível de 9 biomarcadores – moléculas encontradas no corpo e associadas com alguma doença em particular – estão significativamente diferentes em adultos depressivos ao ser comparados com adultos sem a doença.
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O novo estudo, publicado na última edição do “Translational Psychiatry”, construído a partir de um estudo anterior da Dra Redei, que encontrou 11 outros biomarcadores que estão alterados em relação a adolescentes depressivos e não depressivos.
Enquanto esse trabalho ainda esteja em fase inicial, representa um grande avanço para diagnósticos e tratamentos mais assertivos de depressão, que hoje tem uma prevalência de 17% na população adulta americana, e 25% na população brasileira.
O novo teste avalia os níveis de 9 marcadores RNA do sangue do paciente. Caso você não se lembre muito bem de biologia molecular (não o culpo), o RNA é uma molécula mensageira criada a partir do DNA. Em resposta, as células utilizam o RNA como um modelo para criar proteínas, que são as verdadeiras máquinas que trabalham para o DNA.
A ideia é que alguns genes podem estar muito ou pouco expressados durante a depressão, e se esses genes podem ser identificados ao olharmos os RNAs que foram produzidos por eles, uma maneira objetiva de se identificar a depressão pode ser criada.
Os pesquisadores na Northwestern olharam inicialmente para os níveis de RNA de 26 genes em adolescentes e adultos jovens (15 a 19 anos). Encontraram que 11 deles estavam significativamente diferentes em pacientes que já haviam sido diagnosticados com depressão, em relação aos que nunca tinham tido esse diagnóstico. Tentaram então replicar a técnica para adultos e encontraram diferenças em 9 biomarcadores.
Interessante foi que os biomarcadores alterados em depressivos e não depressivos estavam realmente diferentes em jovens adultos e adultos, implicando que a depressão é geneticamente diferente se compararmos diferentes grupos etários.
Além disso o teste também foi capaz de identificar diferenças entre aqueles que ficaram sob terapia comportamental cognitiva e mostraram melhoras contra os que não. Esse tipo de informação pode ajudar a determinar o melhor regime terapêutico para pacientes, aumentando as suas chances de combater a depressão e caminhar para sua remissão.
Embora os estudos ainda estejam em fase inicial e precise de mais exames para comprovar sua eficiência e acurácia, já representa um grande avanço e dá mais esperança a pacientes e envolvidos com a patologia de alguma forma, como eu, que tenho um familiar muito próximo que sofre desse mal.
Com os avanços da medicina e genética a partir do desenvolvimento da poderosa e custo-eficiente tecnologia, é de se esperar que fiquemos cada vez melhores em identificar e tratar doenças antes que elas se tomem grande significado.
Esse novo teste sanguíneo tem o potencial de mudar o approach que fazemos para diagnosticar a depressão, assim como selecionar o melhor tratamento para a patologia, caso-a-caso.
Infelizmente muitos pacientes portadores de depressão são resistentes aos tratamentos mais comuns que temos, o que torna necessário a criação de novos tipos. Encontrar diferenças na expressão de certos genes durante a depressão, podem levar inclusive a um entendimento mais claro da doença, o que consequentemente pode levar a melhores tratamentos.
Depressão é uma patologia horrível, ela rouba a alegria de viver das pessoas e a produtividade de milhares de pessoas espalhadas pelo mundo. Pessoalmente torço muito para esse tipo de solução, que pode transformar a depressão uma doença do passado, como a Varíola.
Fonte: SingularityHub