Na academia de uma forma geral, mas principalmente na faculdade de Medicina, o conhecimento é extremamente valorizado. No 5º ano da faculdade, próximo da prova de residência, a pressão para estudar cada vez mais, devorando os livros-textos e treinando nas provas anteriores é ainda maior. Isso é excelente e é o que permite uma boa prática profissional e um desenvolvimento científico sustentado ao longo da história da humanidade. Além disso, estudos populacionais mostram que o estudo está diretamente relacionado com maiores níveis de renda.

Aí me deparo com o fenômeno Mark Zuckerberg (provocação número 1), 26 anos com uma empresa de 70 bilhões de dólares de valor de mercado (para quem não sabe o que eu estou falando, cheque: www.facebook.com). E tantos outros fenômenos anteriores como Steve Jobs, Bill Gates, Sergey Brin e Larry Page etc, e me sinto provocado. Para eles, a execução foi muito mais importante que qualquer educação (necessária pois computadores não se programam sozinhos, mas de longe o fator menos importante).

Entrando para o ambiente de empreendedorismo e as “amostras grátis” do Vale do Silício que tem surgido no Brasil uma vez escutei em um evento 2 empreendedores digitais tirrando sarro da educação formal. Vindo de uma universidade de primeira linha e dando duro tanto para entrar como para sair, fiquei ainda mais provocado (provocação número 2).

Perto do fim da minha graduação e podendo analisar mais criticamente o que aprendi na universidade e o que o mercado me ensinou (e me entristecendo pela forma que o mercado remunerou os que confiaram cegamente no que a universidade lhes dava) me sinto provocado quase que diariamente a pular fora do barco, virar o famoso “dropout”, que acreditou mais em seu próprio potencial de aprender no que no potencial da universidade em lhe ensinar e foi fazer melhor uso do seu tempo criando algo transformador (provocação 3).

Há muitas outras coisas que vi que me fortalecem esse sentimento, muitas habilidades importantes para se ter um negócio na saúde que a faculdade de medicina (e provavelmente nenhuma faculdade) vai me ensinar.

Porém, uma vez em um desses eventos mesmo, um amigo me disse “Não há nada acontecendo lá fora que justifique você sair da faculdade, novas oportunidades aparecem todos os dias, elas te esperam”. Mesmo sem entender completamente o significado disso ainda, isso me ajuda muito a esperar o meu diploma, eu senti que ele me disse sincera e enfaticamente, como com conhecimento de causa, apesar de ter concluído a própria graduação.

Outra coisa que observei é que quase todos (“quase” só porque na Medicina aprendemos a nunca dizer “nunca” ou “sempre”) esses superjovens empreendedores são da área de TI, onde o conhecimento muda muito rápido e com alguns poucos anos de estudo (poucos meses ás vezes) é possível ser o melhor em determinado software ou linguagem de programação, e onde a tecnologia permite ganhos de escala que facilitam muito a criação de um negócio sustentável.

Edson Bueno ou Jorge Moll largaram a faculdade? Pararam de estudar para focar na execução da empresa? Criaram centros para estimular jovens a largarem a faculdade para irem trabalhar na Amil ou na Rede D´Or e aprenderem on the job?

Definitivamente há uma curva de aprendizado na saúde que passa por muito conhecimento técnico (necessário sim para o gestor de saúde, tenho realizado consultorias que me mostraram na prática a necessidade real desse conhecimento) e acompanhamento e atualização contínua das melhores práticas (do que está sendo feito no mercado).

A velha frase “o aluno é que faz a sua formação” é o que conta aqui, acreditar que alguns profissionais velhos e fora do mercado (algo como o Conselho dos Anciãos de Esparta), que não entendem mais as necessidades ou as características do jovem, podem decidir bem 6 anos da sua vida, parece muita passividade para alguém que quer ser chamado um dia “Empreendedor”.

Vitor Asseituno é acadêmico do 5º ano de Medicina da UNIFESP e do 2º ano de Gestão Financeira da UNICID. Participou durante curtos períodos da SP Anjos e do fundo de venture capital BR Opportunities, e é atualmente do Conselho de Colaboradores da Anjos do Brasil. É um dos fundadores da EPM Júnior e do EmpreenderSaúde.