O mercado de saúde está em crescimento. As oportunidades são muitas. De maneira geral, as pessoas estão ficando mais doentes (e/ou se detecta mais doenças antes ignoradas) e consumindo mais serviços. Entretanto, eu ainda vejo uma grande dificuldade nos relacionamento dentro do setor e muitas consequências negativas dele decorrentes. Isso vale na relação entre os médicos, entre médicos e enfermeiras, entre médicos e equipe, entre administradores e médicos, entre administradores e equipe, enfim, entre todos. E qual o maior problema nestes relacionamentos? As próprias pessoas.
Sei que esta resposta parece ridícula, pois isso é muito óbvio (afinal, se não existissem pessoas não existiram problemas nos relacionamentos, aliás, nem relacionamentos), mas às vezes precisamos correr o risco de passarmos por ridículo para lembrarmos do básico, de onde começam as coisas.
As pessoas carregam um senso de identidade e querem, de maneira geral, que a sua forma de pensar seja aceita e reconhecida pelos outros, muitas vezes de maneira infantil, querendo que as coisas sejam do seu jeito. Quando isso não aconteça, vem muita birra.
Esse senso de identidade também alimenta uma das principais matrizes que gera problemas nos relacionamentos. Eu chamo esta matriz de orgulho. Como as palavras muitas vezes têm múltiplos sentidos, devo deixar claro que não estou falando do orgulho de pertencer a algo bom, que me faz sentir parte de um todo, onde sou inspirado e quero contribuir para aquilo. Falo de um sentimento de que eu sou especial, melhor que os outros, que estou certo e quero que todos façam da minha forma. Uma filha muito conhecida do orgulho é a vaidade, que atrapalha bastante a vida de quem a tem e de quem convive com ela. Ela quer mostrar que sabe, que tem, que é. Sustenta uma imagem e quer que os outros acreditem nesta mentira.
O orgulho causa separação. Na prática da empresa significa menor engajamento, baixa motivação, falta de liderança (pois o orgulho não inspira ninguém, aliás, ele gera raiva), dificuldade no trabalho em equipe e implantação de projetos, queda na qualidade do atendimento aos pacientes e colegas, entre muitos outros aspectos negativos.
E o que fazer com ele? A principal ação é observá-lo de perto. Entretanto, de quase nada serve observar o orgulho dos outros (exceto se você tem a função de ajuda-lo a perceber, de forma construtiva ? mas cuidado para não se enganar e julgar, condenar, pois será o seu orgulho atuando). O grande foco é olhar a si mesmo. Ao escrever este artigo eu tenho que me lembrar que na minha psique o orgulho também habita. E quanto mais eu o observo, consciente de sua existência, menos força eu dou a ele. Isso acontece porque eu só posso escolher agir diferente se tenha consciência de que há mais de uma opção.
Uma vez recebi um e-mail que dizia que havia dois cães dentro de nós. Um dócil, brincalhão e leal. Outro raivoso, vingativo e traiçoeiro. E qual destes nós somos? Aquele que alimentamos, com pensamentos, palavras e ações. Para lidar com o orgulho, a humildade é o melhor antídoto.
Traduzindo em ações objetivas no dia a dia das empresas de saúde, humildade significa ouvir os outros, ter empatia, dividir as escolhas e os méritos, respeitar as regras e protocolos, enfim, não se colocar acima de ninguém (nem abaixo, pois reconhece que todos viemos do húmus, da terra, e para ela voltaremos). A humildade não significa inatividade ou passividade. Ela pode ser bem ativa, mas caminha lado a lado dos outros, nem acima, nem abaixo.
Não se preocupe em como ajudar os outros a trabalhar com o seu orgulho. A melhor ação é pelo exemplo. Se você fizer a sua parte estará contribuindo bastante para melhorar os relacionamentos na sua empresa e no setor como um todo. Que cão você quer alimentar?