O que significa cuidados com saúde ?
Saúde não é meramente ausência de doença. Se um paciente recebe alta de um hospital e volta para uma situação que inclui estresse, má alimentação, abrigo e saneamento inadequados, ele está suscetível a ficar doente continuamente, colocando pressão sobre os recursos escassos da família, aprofundando a pobreza e aumentando o sofrimento.
“Eu assisti este ciclo vicioso muitas vezes: internação, volta, reinternação”, disse Cordeiro sobre seus primeiros anos como pediatra. “E eu sabia que precisávamos fazer alguma coisa.” No entanto, repensar radicalmente nem sempre é sinônimo de mudanças grandiosas. Elas podem ser mais sutis. “Quando pensamos em como mudar o mundo, pensamos em grandes milagres, quantias de dinheiro, um monte de tecnologia”, diz a fundadora e CEO da Associação Saúde Criança no Brasil. “Nós não precisamos disso. Precisamos de pequenos milagres, todos os dias.”
Para as famílias que Cordeiro tem ajudado nas favelas do Rio de Janeiro, os pequenos milagres provavelmente se qualificam como os grandes. Em vez de serem condenadas a um ciclo de repetição e agravamento da doença que, muitas vezes, acomete indivíduos pobres, as pessoas que chegam através das portas dos hospitais onde o modelo de Cordeiro de cuidados em saúde é usado têm outro tipo muito diferente de prescrição – um que leva em consideração muitos fatores que contribuem para uma vida saudável.
Quando uma mãe chega a um dos hospitais públicos com uma criança doente, por exemplo, Vera diz, “nós investimos tempo em uma entrevista mais profunda, quando tentamos saber tudo sobre o quanto ela ganha, que tipo de casa ela possui, e, claro, a doença de seu filho.”
A equipe de saúde, em seguida, faz um plano de ação de dois anos para a família – uma espécie de receita integrada que vai muito além da medicação típica e é significativamente mais eficaz do que qualquer pílula poderosa sozinha. A família recebe apoio psicológico, assistência nutricional, assistência jurídica, capacitação profissional e melhorias em sua casa.
Para uma família com duas filhas que tinham sofrido ataques repetidos de pneumonia, por exemplo, uma visita domiciliar, o “algo” incluído no atendimento, descobriu excesso de umidade e má nutrição que estavam contribuindo para a doença das crianças. Como parte da intervenção da Associação Saúde Criança, a equipe providenciou um teto seguro para ser construído, matriculou a mãe em um curso profissionalizante de cabeleireiros e, eventualmente, ajudou-a a construir um salão de cabeleireiro em sua casa para gerar renda. “Assim como uma lagarta”, diz a mãe, “com a ajuda da Saúde Criança, nos tornamos borboletas.”
A Associação Saúde Criança é o tipo de inovação que é replicável em todo o mundo, razão pela qual foi escolhida como vencedora em um desafio global, o Mais Saúde: Melhorando a vida de pessoas, famílias e comunidades, da parceria entre o Changemakers da Ashoka com a Boehringer Ingelheim.
Os dois outros vencedores incluíram Cola Life, que criou a “AidPod”, engenhosamente concebida para transportar medicamentos para locais remotos, de forma segura em espaços não utilizados da caixa que carrega a bebida. Ela permite levar cuidados em saúde para pessoas e pacientes de localidades de difícil acesso e faz isso de uma maneira fácil.
De maneira semelhante, o vencedor Unidos pela Visão chega até os que mais precisam através do aumento de recursos que já existem no local: oftamologistas localizados nas regiões pobres que têm especialização mas não possuem recursos materiais, humanos e financeiros para oferecer o que eles têm de melhor. Através do apoio de empresas e trabalhadores locais de cuidados em saúde, a Unidos pela Visão tem aumentado dramaticamente sua capacidade de oferecer serviços de cuidado do olho.
“Oitenta por cento da deficiência visual pode ser prevenida e 36 milhões de pessoas no mundo estão desnecessariamente cegas”, diz Jennifer Staple-Clark, que fundou a Unidos pela Visão quando era estudante universitária. “Enquanto isso, a cirurgia de restauração da visão – cirurgia de catarata – custa cerca de 50 dólares em média nos países onde a Unidos pela Visão atua. Receber serviços de qualidade para cuidado com os olhos pode ser acessível para todos.” Para ela, era uma questão de descobrir como conectar pacientes com recursos para eliminar a deficiência visual evitável.
Foi a partir de uma cozinha onde se prepara sopa em New Haven, CT, em 2000, que a Staple-Clark começou a conectar pessoas com piora da visão aos recursos existentes que elas não conheciam. Hoje, a Unidos pela Visão atua em todos os EUA, em Gana, Índia e Honduras. Eles têm parceria com clínicas oftalmológicas existentes e empresas locais, o que fortalece a sustentabilidade das empresas locais.
“Todos esses programas de cuidado com os olhos são conduzidos localmente e gerenciados por oftalmologistas locais”, diz ela. Até o momento, a organização ajudou a trazer cuidado com os olhos para mais de 1,3 milhões de pacientes, incluindo mais de 49 mil cirurgias de restauração de vista.
“Ver as pessoas com tanta alegria em seus rostos depois de terem sua visão restaurada é o que me inspira todos os dias”, diz Staples-Clark.
Esses inovadores e outros especialistas que estão trabalhando tão apaixonadamente para trazer mais saúde para mais pessoas, se reuniram em um “Hangout do Google” para discutir o aumento do acesso aos cuidados em saúde. Saiba mais sobre a conversa deles aqui.
Nota do Editor: Este post foi escrito por Alison Craiglow Hockenberry, jornalista do Changemakers, e publicado originalmente no Huffington Post
Fonte: Changemakers
Vídeo TEDex Rio Vera Cordeiro:
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