É bastante difícil entender o significado de empreender, mais que isso, entender as dificuldades do empreendedor no Brasil em um segmento dependente da legislação da Anvisa e com as cargas tributárias mais altas que conhecemos.
Analogicamente a um comércio varejista, as dificuldades do empreendedor de medical devices vão desde fazer parcerias com fornecedores, formar uma equipe administrativa e de vendas para expor seus produtos, vender, faturar e receber.
“Abrir as portas” é apenas uma das dificuldades do empreendedor, pois é necessário passar por avaliações municipais (visa local), estaduais e federais (ANVISA), que demoram em média de 1 a 3 anos para que aprovem seu funcionamento e comercialização completamente, porque sem as certificações, hospitais e operadoras de saúde entendem que a empresa não está devidamente capacitada ao manuseio, conservação e logística dos produtos que serão utilizados em seus usuários, o que particularmente concordo, o que não dá para concordar é com o prazo que levam para certificar, e também com os funcionários nem sempre capacitados para tais avaliações, fazendo com que as exigências sejam cumpridas até mesmo mais de duas vezes, o que causa perda de tempo, irritação e muitas vezes indignação por parte de quem já está tendo as dificuldades do empreendedor, ao mesmo tempo em que se certifica e investe em marcas prontas para serem comercializadas.
Escolher fornecedores muitas vezes é uma parte cruel do segmento em questão, e dificulta ainda mais para o empreendedor, uma vez que a grande maioria dos importadores são sufocados por metas anuais impostas pelas fábricas, o que ocasiona uma falta de comprometimento (ainda que existam contratos vigentes). Detalhando, é comum um distribuidor começar a empreender e divulgar um produto novo, que ainda não é uma marca forte, com reconhecimento, e no momento em que começa o feedback do mercado o fornecedor acaba cedendo as pressões, abrindo a venda a outros distribuidores quebrando assim uma exclusividade contratada inicialmente, e o que seria o momento de alavancagem de vendas, feedback de investimentos, acaba se tornando uma venda disputada com baixa de preços e concorrências desleais o que acarreta uma perda de tempo e investimento que compromete a saúde financeira da empresa e o estímulo dos sócios empreendedores. É das grandes dificuldades do empreendedor conseguir um “bom casamento” entre ele que é o distribuidor e o fornecedor (que é importador), mas também quando acontece o resultado em credibilidade, fortalecimento e retorno financeiro de uma marca é muito bom. Nossa dificuldade em empreender não foi diferente até conseguirmos nos solidificar com uma marca.
Formar uma equipe administrativa é bastante difícil para o empreendedor de medical devices assim como é também em qualquer segmento, mas formar uma equipe de vendas e de especialistas técnicos é bastante complexo. O empreendedor que é regulamentado pela Anvisa necessita não somente de vendedores, mas de pessoas técnicas para capacita-las a auxiliar o cirurgião no procedimento cirúrgico com a utilização do produto. E Contratar um funcionário técnico é bastante caro, então deixa de ser uma contratação para ser um investimento porque leva um tempo médio de 6 meses no mínimo até que esse profissional fique apto a trabalhar sozinho de forma competente, e durante todo esse tempo todos os custos de contratação e treinamento são arcados pela empresa o que dificulta para o empreendedor a formação dessa equipe.
É preciso pontuar ainda uma das dificuldades do empreendedor para finalizar esse esboço do que é a vivência cotidiana de um empresário do segmento de medical devices. Vender, faturar e receber não é rápido e nem simples. Existe uma janela de tempo que gira em torno de 120 dias entre a venda e o recebimento, o que faz com que o empreendedor necessite de um capital de giro robusto que ofereça muita segurança, e é necessário que essa espera seja margeada na hora de calcular preço de venda juntamente com todos os investimentos e custos do produto, o que faz com que os valores praticados sejam quase sempre muito altos onerando as operadoras e hospitais que cada vez tem mais dificuldade em manter esses pagamentos.
A Neurosurgical passou por essas dificuldades em sua primeira fase que compreendeu entre 2004 e 2007 ficando com sua base da pirâmide mais fortalecida a partir de 2008 depois de uma dissolução societária e perdas financeiras. Desde então estamos a cada ano progredindo e agregando novos produtos, novos investimentos, e mais informação nesse segmento. E investir em informação é uma meta, ou melhor, uma quebra de paradigma para 2014.
Empreender é estar disposto a trabalhar muito, muitas vezes com a sensação de estar sozinho, investindo capital e tempo sem ganhar dinheiro, para realizar um sonho, um ideal, e se tudo der certo a longo prazo como consequência um retorno financeiro satisfatório somado a sensação de que valeu a pena ter perseverado as adiversidades.