Seu surgimento se deu em meados da década de 60 e disseminaram-se a partir dos anos 90. No Brasil, não há dados oficiais sobre sua utilização, mas sabe-se que 40% dos médicos ainda não tem acesso a um computador no estabelecimento de saúde em que trabalham.

Em 1968, o médico Lawrence Weed, antevendo os potenciais benefícios da digitalização dos registros médicos, propôs um novo modelo de prontuário médico, passível de informatização. Nascia assim o Problem Oriented Medical Record (Prontuário Médico Orientado para o Problema). Weed vislumbrou um sistema de registro que fosse capaz de manter dados confiáveis a respeito de queixas, diagnósticos e exames, que pudessem ser facilmente resgatados para monitoramento de cuidados, uso em pesquisas, auditorias ou processos judiciais.

Quase meio século depois, a visão de futuro de Weed para o prontuário clínico ainda permanece incrivelmente atual e lamentavelmente distante da nossa realidade. Além disso, o uso do genial método de registro proposto por ele ainda é marginal, sendo mais conhecido entre médicos de família e comunidade.

Médicos, aliás, são parte importante do problema com os prontuários eletrônicos. Se você conhece algum, experimente perguntar a ele:

  • “Você teve durante o curso de Medicina alguma aula sobre como um utilizar um prontuário eletrônico?”
  • “Como exatamente aprendeu a utilizar a CID (Classificação Internacional de Doenças) para codificar seus diagnósticos?”
  • “Você conhece o Prontuário Orientado para o Problema/Paciente?”

Ao ouvir suas respostas, você provavelmente começará a entender parte do problema. Médicos via de regra não recebem treinamento para utilização da tecnologia da informação, seja durante graduação ou na vida profissional. Não sabem muito bem como codificar com a CID. E não se pode culpá-los: simplesmente não lhes foi ensinado! O resultado é que passam demasiado tempo escrevendo/digitando, registrando informação em texto livre, de baixa utilidade (até para eles próprios). Geram CID’s pouco confiáveis, que muitas vezes não traduzem bem a realidade clínica observada.

Portanto, gestores devem conter as expectativas – mesmo quando forem adquirir uma Ferrari. Até porque implantar um sistema hospitalar não é comprar um carro de corrida, e sim um circo completo de escuderia de Formula 1. Médicos são os pilotos, porém é preciso ainda um time inteiro por trás para fazer tudo girar.

Fica claro assim que uma boa prática é investir em treinamento. Profissionais bem preparados podem ser mais rápidos no uso da ferramenta. Pequenos truques, como usar atalhos do teclado, podem poupar valiosos minutos. Utilizar o Prontuário Orientado para o Problema pode mudar o paradigma de muitos profissionais, qualificando o registro clínico com ganho de agilidade.

Sendo pilotos principais dos sistemas de prontuário, os médicos precisam ser muito bem treinados para terem condições de aportar sua habilidade, conhecimento e técnica. E não apenas eles, mas todos os demais profissionais que o utilizarem. Além disso, ter uma equipe de TI que domina a ferramenta e tem condições de fazer ajustes e melhorias otimiza o resultado final. Em unidades hospitalares principalmente, um suporte ágil e resolutivo é essencial, pois dificuldades com o sistema impactam diretamente na assistência.

Não é novidade que as organizações de saúde são os stakeholders que de fato arcam com os custos de informatização do prontuário. Isso talvez explique a razão de tais sistemas terem evoluído tanto no que se refere ao faturamento e informações para a gestão (backoffice) – e tão menos na tratativa dos dados clínicos. Infelizmente, a realidade brasileira ainda parece ser que as operadoras e gestores de hospitais se beneficiaram muito mais com a digitalização do registro médico do que seus clientes (ou pacientes).

Os pacientes, aliás, podem ser parte da solução e irão cada vez mais interagir com os dados clínicos do prontuário eletrônico – inclusive com entrada de informações clínicas. A recente integração do do aplicativo da Unimed BH ao Healthkit  da Apple já é um sinal disso.

Enfim, para que prontuários eletrônicos tenham condições de impactar positivamente em indicadores de saúde, ainda há mais a ser feito além de treinar usuários, dar suporte, ter uma boa infraestrutura e escolher uma excelente solução. É preciso embarcar inteligência.

Mas isso é assunto para outro post