A síndrome coronariana aguda, popularmente conhecida como infarto, é a principal causa de morte no Brasil, vitimando 140 mil pessoas por ano. Para reduzir o número de vítimas fatais na rede pública de saúde, atendida pelo SUS, o Hospital do Coração (HCor), em parceria com o Ministério da Saúde, desenvolveu o projeto BRIDGE (Brazilian Intervention to Increase Evidence Usage in Practise).
O responsável pelo Instituto de Ensino e Pesquisa HCor, Otávio Berwanger, conta que mudar o comportamento clínico para melhorar a qualidade no atendimento ao paciente cardíaco é um desafio. Para ele, muitas vezes o paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) não recebe as terapias adequadas para o tratamento, resultando na complicação do paciente e gerando mais gastos para a saúde pública.
O projeto selecionou 34 hospitais públicos de todo território nacional, que foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo de 17 hospitais, foi apenas monitorado para verificar como era atendido o paciente que chegava no hospital com sintomas de síndrome coronariana aguda.
O segundo grupo de hospitais recebeu treinamento para aplicação da intervenção multifacetada, que incluía materiais educacionais, listas e lembretes que tinham como base evidencias científicas de controle da síndrome coronariana aguda. Berwanger afirma que ao chegar no hospital o paciente passa por uma triagem. Se apresentar algum sintoma, um lembrete é anexado ao formulário para que o médico saiba que é um paciente de risco e já siga as orientações baseadas nas evidências. Além da notificação no formulário médico, o paciente recebe uma pulseira que identifica o paciente de acordo com a categoria de risco, sendo a vermelha para casos de alto risco, amarelo para riscos moderados e pulseira verde para risco baixo.
Os hospitais contavam com uma enfermeira treinada, que atuava como gerente de caso, cujo trabalho era garantir que as ferramentas adequadas estavam sendo usados ??corretamente e com frequência e para garantir que terapias baseadas em evidências estavam sendo prescritos. Cartazes também foram exibidos em torno dos hospitais e diretrizes de bolso foram distribuídas.
Foram incluídos apenas hospitais públicos de grandes áreas urbanas que dispõem de um serviço de emergência que recebem pacientes com síndrome coronariana aguda. Foram excluídos hospitais privados, institutos de cardiologia e hospitais nas áreas rurais. A lista de hospitais elegíveis foi fornecida pelo Ministério da Saúde.
O acompanhamento nos 34 hospitais envolveu 1.150 pacientes entre 15 de março a 2 de novembro de 2011, que foram acompanhados até o dia 27 de janeiro de 2012. A idade média dos pacientes foi de 62 anos, sendo 68,6% homens e 31,4% mulheres.
Entre os resultados mensurados está a porcentagem de pacientes que receberam todas as terapias baseadas em evidências (aspirina, clopidogrel, anticoagulante e estatinas) durante as primeiras 24 horas após a entrada do paciente no hospital.
Os pacientes elegíveis totalizaram 80,3% dos pacientes atendidos no período. Nos hospitais que receberam treinamento e material de apoio do BRIDGE a utilização das terapias indicadas foi de 50,9%, enquanto que nos hospitais que foram apenas observados a porcentagem foi de 31,9%.