?Odeio computadores?, diz David Gelernter, importante cientista da computação da Universidade de Yale. ?Preciso de softwares para trabalhar em 30 segundos.? Estas podem ser palavras surpreendentes para um cientista da computação, mas elas mostram os sentimentos de um número incontável de médicos e pacientes que se sentem da mesma forma quando interagem com softwares de registro eletrônico de saúde (EHR), portais de paciente e outros recursos do tipo.
Caso você não tenha reconhecido o nome de Gelernter, seu pai é considerado um dos inventores da inteligência artificial, e David fez contribuições importantes para o desenvolvimento da computação paralela.
Conforme os EUA lentamente se recuperam do desastre promovido pelo governo americano chamado HealthCare.gov [NdT: site desenhado para adesão ao Obamacare, seguro saúde obrigatório financiado pelo governo federal do país], na tentativa patética de ajudar os pacientes a ganhar acesso rápido à assistência médica de qualidade, precisamos achar gênios da TI que saibam pensar como tecnofóbicos, colocar de lado qualquer senso de superioridade intelectual e criar ferramentas muito mais fáceis de usar e que sirvam melhor à rotina diária de médicos e pacientes.
Posto de outro modo, precisamos encontrar designers de software que pensem como leigos. O perfil de David Gelernter feito pelo Wall Street Journal oferece uma pista do tipo de raciocínio necessário. Em suas palavras: ?Qualquer sucesso que tive com a computação se deve ao fato de eu me encaixar tão mal nesta área.?
Gelernter não está sozinho em sua frustração com os computadores. Nos anos 90, Walt Mossberg, editor de tecnologia do Wall Street Journal, prenunciou o sentimento do cientista de Yale. ?Computadores pessoais são simplesmente tão difíceis de usar, e isto não é sua culpa.?
Ao longo dos anos, Mossberg admitiu que os computadores ficaram mais fáceis de usar, e concedeu muito do crédito aos designers da Apple. O que leva a uma questão: se Steve Jobs ainda estivesse conosco, que tipo de plataforma de EHR ele teria desenhado? Como um portal de paciente feito por ele se pareceria?
A maioria dos médicos com que conversei ao longo dos anos aconselhou os designers de TI em saúde a adotarem uma abordagem mais colaborativa, a ouvirem um grande número de médicos e enfermeiras em serviço para ter melhor noção de suas necessidades e de como os sistemas de TI podem servir mais elegantemente ao seu fluxo de trabalho.
Apesar de este plano de ação fazer sentido até certo ponto, Jobs provavelmente não iria nesta direção. Se ele estivesse desenhando um EHR, provavelmente ignoraria muito do que seus consumidores pedem e procuraria de alguma forma um caminho para dar a eles o que realmente precisam. O mais estranho sobre o tipo de genialidade de Jobs é que ele sabia o que seus clientes precisavam antes mesmo deles próprios. Afinal, o público por acaso pediu pelo iPad?
De toda forma, Jobs e Gelernter tem muito em comum. Os dois nunca tiveram muito respeito pelo status quo ? este foi e é seu dom. Esse tipo de destemor traz à mente um dos melhores anúncios já veiculados.
?Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os causadores de confusão. Os parafusos redondos nos buracos quadrados… Enquanto alguns os veem como loucos, nós vemos gênios… Porque as pessoas malucas o suficiente para pensar que podem mudar o mundo são aquelas que o fazem.? A visão da Apple neste comercial descreve o tipo de fabricantes e designers de software que vão transformar a tecnologia para saúde em um paraíso dos tecnofóbicos ? e que provavelmente se tornarão bilionários no processo.
Por Paul Cerrato, da InformationWeek Healthcare