Resultados obtidos por uma pesquisa desenvolvida pelo Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, mostra que as doenças cardiovasculares podem ter um novo tratamento. O estudo concluiu que o procedimento de injeções de células-tronco pode levar à regeneração a longo prazo do músculo, além da criação de novos vasos sangüíneos cardíacos. A descoberta beneficiará principalmente o tratamento de pacientes em estágio terminal da doença.
Vinte e um pacientes se submeteram a um estudo clínico conduzido pelo hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, em parceria com a UFRJ e o Texas Heart Institute. Todos eles tinham insuficiência cardíaca severa, que não responderia a nenhum tipo de procedimento de revascularização. Catorze pacientes foram submetidos a injeções de células-tronco autólogas, enquanto outros sete casos semelhantes foram acompanhados como grupo de controle. O objetivo principal era o criar novos vasos sangüíneos nas áreas do miocárdio que não estavam recebendo sangue suficiente e, em função disso, não se contraíam adequadamente.
Três pacientes morreram ao longo do ano que durou a pesquisa, sendo que um deles pertencia ao grupo de controle e morreu apenas duas semanas depois do início do estudo. Os outros dois haviam recebido tratamento e morreram respectivamente três meses e meio e onze meses após o início do estudo. Na autópsia deste terceiro paciente morto, os pesquisadores chegaram a uma conclusão surpreendente depois de comparar a parede do ventrículo que havia recebido as injeções com as áreas saudáveis e necrosadas do coração. Nenhum sinal de evento adverso, crescimento anormal de células ou lesão do tecido foram verificados na parcela do órgão submetida a injeções. Por outro lado, foi encontrada uma grande densidade de vasos sangüíneos.
A análise morfológica e imunocitoquímica (imunológica e química) da área que recebeu injeções de células-tronco verificou o aumento da vascularização na fibrose e no músculo cardíaco ao redor da área tratada, onze meses após o início do tratamento. Algumas das células próximas aos vasos adquiriram a morfologia de células do músculo cardíaco, o que sugeriu a possibilidade das células-tronco se tornarem tanto tecido vascular quanto músculo cardíaco. Os benefícios do tratamento também foram observados nos cinco pacientes do grupo que esperavam por um transplante de coração, incluindo maior capacidade de contração e melhora da qualidade de vida. Os resultados dos testes de exercício melhoraram tanto que quatro destes pacientes não precisaram mais recorrer ao transplante. As injeções de células-tronco autólogas também não causaram qualquer reação adversa neste grupo em estado mais crítico da doença e resultaram em uma melhora significativa na capacidade física e na qualidade de vida dos pacientes.