O médico Wang Jingming, que administra o Hospital Chang’an em Xi’an, no noroeste da China, anda cheio de ideias sobre como aumentar a renda auferida pela unidade, de mil leitos. Os planos não excluem formas de arrancar mais lucros de sua loja de conveniência, da lanchonete e até do necrotério. Ele já adotou cartões magnéticos para rastrear pacientes – e para identificar médicos com desempenho abaixo da média pela mensuração de seus tempos de tratamento. Se o ex-coronel do Exército de Liberação do Povo guarda muita semelhança com um atento investidor das firmas de “private equity”, está no seu direito: Chang’an vendeu em junho uma participação majoritária para a Concord Medical Services Holdings (CCM), respaldada pela empresa americana de “private equity” Carlyle Group. Wang chama a atenção para o quanto o setor de hotelaria e restaurantes na China foi beneficiando quando foram incentivados, na década de 80, o investimento e a experiência empresariais estrangeiros. “Agora são os nossos hospitais que precisam ser mais bem administrados”, afirma ele.

Os hospitais da China poderão receber um pouco mais do remédio administrativo a que se refere Wang depois do anúncio do governo, em março, de que 20% dos leitos hospitalares do país deverão ser controlados pelo capital privado até 2015. Com 260 milhões de chineses sofrendo de câncer, diabete e outras doenças crônicas, Pequim quer que os investidores privados contribuam para modernizar os serviços médicos. E depressa. Um dos atrativos para as operadoras privadas é que 95% dos chineses tinham seguro-saúde fornecido pelo governo em 2011. Melhor ainda: o mercado chinês de serviços médicos está crescendo 18% ao ano e deverá alcançar 3,16 trilhões de yuans (US$ 497,3 bilhões) em 2015, segundo a Deloitte China.

“O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu com rapidez surpreendente, mas a qualidade da assistência médica ficou bem para trás”, diz David Chow, presidente da empresa taiwanesa de “private equity” Harvest Medical Investment and Operation Group, que pretende adquirir fatias em hospitais do continente este ano. “O potencial de aprimoramento dos hospitais chineses é enorme, tanto no número total de leitos quanto nas tarifas cobradas por leito”.

No ano passado, a China tinha 3,7 milhões de leitos hospitalares, número 54% maior que o de 2005. Além do grande aumento da proporção de leitos administrados por operadoras privadas – a fatia ficou em 12% no ano passado -, o governo quer contar com pelo menos um ou dois hospitais em cada um de seus 2.853 condados até o fim de 2015. As metas poderão gerar 400 mil novos leitos hospitalares privados por ano, diz Roberta Lipson, principal executiva da operadora de hospitais Chindex International, sediada em Bethesda, nos Estados Unidos. A receita anual gerada pelos hospitais privados na China poderá alcançar 2,4 trilhões de yuans (US$ 377,7 bilhões) até 2015, diz Yvonne Wu, dirigente nacional do setor de ciências da vida e assistência médica da Deloitte China.

Empresas americanas e europeias só conseguiram investir de forma independente em hospitais desde 30 de janeiro, quando o governo tirou o setor de uma lista restrita que exigia que investidores não chineses tivessem um sócio local e que limitava em 70% a participação do capital externo.

A americana Chindex inaugurou o primeiro hospital controlado por capital estrangeiro na China em Pequim em 1997, seis anos após iniciar negociações com o governo, diz Lipson. Levou apenas um ano para conseguir uma licença para o mais recente hospital da Chindex, em Tianjin, diz ela. A construção de uma quarta unidade hospitalar está próxima de ser concluída em Cantão.

A Concord Medical, sediada em Pequim, pretende inaugurar não menos que oito hospitais privados nos próximos dez anos, a começar por Pequim, Xangai e Cantão. A IHH Healthcare, a maior operadora hospitalar da Ásia, sediada em Kuala Lumpur, na Malásia, também pretende construir um hospital em Xangai, que se acrescentará às sete clínicas em Xangai e uma em Chengdu que já possui.

O aumento do número de hospitais está intensificando a demanda por equipamentos médicos. A General Electric (GE), fabricante de aparelhos para diagnósticos por imagem de ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética, abriu em maio um centro de inovação em Chengdu para ficar mais próxima de seus pacientes hospitalares da zona rural. A GE planeja abrir um segundo centro neste terceiro trimestre em Xi’An, perto do Hospital Chang’an da Concord Medical. A Concord, que opera 131 centros de radioterapia e de diagnóstico por imagem em 24 províncias chinesas, assinou um acordo com a GE em agosto passado que inclui a utilização dos produtos médicos da empresa em seus centros de tratamento e a promoção dos equipamentos da GE na zona rural chinesa.

Fonte:  Daryl Loo, BloombergBusinessWeek, pulbicado no Valor Econômico, 07/07/2012