O primeiro projeto conhecido para construir um robô foi feito pelo pintor, matemático e escultor italiano Leonardo da Vinci, por volta de 1495, em pleno Renascimento. Mas apenas no século XX, os robôs saíram dos livros de ficção para o mundo real. E foi com o sistema da Vinci, desenvolvido pela Intuitive Surgical, que conquistaram definitivamente um lugar de honra nas salas de cirurgia. Em 2008, o equipamento desembarcou em três hospitais de ponta de São Paulo: no Alemão Oswaldo Cruz, no Israelita Albert Einstein e no Sírio Libanês. Agora, chega à rede pública. Neste mês, o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), do Rio de Janeiro, realizou seis intervenções com o sistema, todas na especialidade de cabeça e pescoço.
A decisão de importar o Da Vinci é justificada com o mesmo argumento: a necessidade de incorporar avanços tecnológicos que tragam benefícios aos pacientes. “No exterior, há uma crescente migração das cirurgias laparoscópicas para a robótica, principalmente na urologia”, afirma o médico Sérgio Samir Arap, gerente do centro cirúrgico do Sírio Libanês. “A compra do robô faz parte de um projeto de inovação para ampliar e melhorar o atendimento aos pacientes do SUS. Os conhecimentos resultantes desse projeto serão repassados para outros estabelecimentos e profissionais da rede”, afirma Luis Antônio Santini, diretor geral do Inca.
O Sírio Libanês adquiriu dois equipamentos, um para a sala de cirurgia e outro para ser instalado no centro de treinamento por onde passaram cerca de 120 profissionais brasileiros e de outros países da América Latina desde 2009, a um custo de R$ 8 mil por pessoa. Desde que realizou a primeira intervenção de retirada da próstata, em 2008, cerca de 400 cirurgias foram realizadas com o auxílio do Da Vinci no Sírio – no Hospital Israelita Albert Einstein, foram cerca de 1 mil intervenções e no Alemão Oswaldo Cruz, entre 400 e 450.
O aparelho é composto por três partes: o robô propriamente dito, com quatro ‘braços’ equipados com instrumentos cirúrgicos (a exemplo de pinças e bisturi) e uma câmera que gera imagens ampliadas e em 3D do interior do organismo; um visor e uma espécie de joystick com o qual o médico movimenta as pinças, inseridas no corpo do paciente por meio de pequenos cortes, a exemplo do que acontece na laparoscopia. As primeiras equipes habilitadas para trabalhar com o Da Vinci foram treinadas e certificadas nos EUA..
Na rede privada, as cirurgias iniciais foram na área de urologia. Hoje, abrangem cabeça e pescoço, ginecologia, aparelho digestivo, e cardiologia, entre outras. “No Einstein, foram realizadas as primeiras intervenções cardíacas robóticas na América Latina e para a retirada de tumores no esôfago e na cabeça do pâncreas”, diz o cirurgião geral do hospital, Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo. No Inca, do Rio, os procedimentos foram iniciados na clínica de cabeça e pescoço. Os benefícios para os pacientes começam a ser medidos no Brasil e batem com os resultados no exterior. Levantamento do urologista Anuar Ibrahim Mitre, do Sírio Libanês, mostra que, em sua especialidade, a internação média de uma cirurgia normal, de 5,8 dias, cai para 1,55 na realizada com o robô. O uso da sonda, por em média duas semanas, é reduzido à metade, assim como a recuperação. A disseminação da técnica esbarra no fato de a despesa para compra e manutenção do sistema e a cirurgia, entre R$ 7 mil a R$ 8 mil, ser mais alto que a cirurgia tradicional.
Fonte: Jane Soares,Valor Econômico, 29/03/12