A explicação seguinte, que já fica mais complexa, envolve a maneira como a inovação é disseminada e através de quem ela acontece. A inovação ocorre com muito mais frequência onde as melhores cabeças estão. Cabeças criativas, insatisfeitas com a qualidade atual das coisas, inquietas. E essas cabeças naturalmente procurando seus semelhantes, e eles geralmente se encontram em grandes centros de excelência e renome.
Colocar boas pessoas juntas é uma condição sinequanon para que a inovação floresça. O problema é quando ela floresce (e ela sempre faz, “não há nada mais poderoso do que uma idéia cuja hora chegou”, como diria Victor Hugo), e essa inovação precisa ser disseminada pra de fato ter impacto.
O fato de essa inovação ter surgido em um grande centro com uma marca forte sem dúvida facilita muito que as pessoas a sigam, repliquem e aceitem as novas idéias. O problema é que os gestores, muitos deles responsáveis principais pela criação dessa marca forte, agora tem um nome a zelar. Um nome que é tido quase como infalível, com alto padrão de processos e experiência para seus clientes.
E o erro? Onde fica nisso? Vai esse grande centro de renome aceitar erros quando padronizar seus serviços com ISO, Sigma, PMI, JCI, ONA, significa exatamente diminuir a frequencia de erros? Se você procura um hospital inovador com uma marca reconhecida, o que diria se eles “errassem” no seu atendimento em nome da inovação?
A verdade é, inovar significa estar fora dos padrões, pensar fora da caixa. E qualidade e processos signifcam exatamente padrões e caixas. Como aceitar os dois dentro de uma mesma organização? Como fazer com que monstros tão distintos vivam em harmonia? Como criar um padrão de atendimento e ao mesmo tempo entender que “tentativa-e-erro” é o único método de inovar, mesmo em um setor em que erros muitas vezes significam a vida de alguém?
Ética, ousadia, e preocupação pelo futuro se degladiam enquanto as instituições brasileiras tentam não apenas copiar o que os Estados Unidos fazem, mas criar suas próprias soluções para colocar o Brasil numa melhor posição no cenário internacional, e entender que nem tudo que é importado de fato tem importância.
Artigo originalmente escrito para a Revista DOC pelo mesmo autor.