A tecnologia digital já demonstrou seu poder disruptivo em diversas áreas de atividade, como os mercados fonográfico, de mídia, financeiro e varejo, apenas para citar alguns dos exemplos mais conhecidos. Há um setor, no entanto, que vive neste momento uma revolução tecnológica silenciosa cujo impacto na sociedade, embora profundo e de longo alcance, talvez ainda não tenha sido plenamente percebido: o da saúde.
Os exemplos de tecnologia aplicada à medicina são cada vez mais comuns. Seguindo a tendência de personalização por que passa o mercado de internet, os equipamentos digitais que ajudam os usuários a cuidar melhor da saúde, por meio de aplicativos de monitoramento de temperatura, pressão e calorias – o chamado health tracking – se popularizam rapidamente.
Eles são muito comuns entre pessoas que treinam ou buscam uma ferramenta para auxiliar nos cuidados com a nutrição. Na edição deste ano da Consumer Eletronics Show (CES), uma das principais feiras mundiais da indústria de tecnologia, realizada em janeiro em Las Vegas, esse segmento foi um dos destaques.
Na outra ponta da história, inovações que auxiliam no tratamento ou acompanhamento médico a distância estão igualmente em expansão. E aqui é interessante observar que, além de aproximar médicos e pacientes, os equipamentos da chamada telemedicina são especialmente importantes se pensarmos em municípios do interior ou distantes dos grandes centros onde faltam profissionais e estrutura adequada.
Já existem no Brasil e em outros países, por exemplo, produtos que realizam remotamente exames cardiológicos, entre outros, e cujos laudos são transmitidos pela Internet.
Dessa forma, centros de saúde de pequenas cidades em regiões remotas podem atender seus pacientes, enviar os exames pela Web e receber rapidamente os laudos de médicos especialistas que trabalham em cidades cuja oferta de profissionais especializados é maior. Além de viabilizar o atendimento à população em áreas desassistidas, isso ajuda a reduzir custos e tempo na realização de exames e emissão de laudos.
Assim, a tecnologia se coloca como uma aliada tanto do médico, do paciente e dos hospitais como do poder público. Apenas para citar um exemplo, a Secretaria de Saúde de Santa Catarina começou, em 2005, um projeto de telemedicina criado com o objetivo de facilitar o acesso da população a exames.
Pela Internet, é possível acessar ou enviar exames e emitir laudos. Em 2012, o sistema estava presente em 287 municípios catarinenses, possuía mais de dois milhões de exames armazenados em sua base de dados e envolvia diversas modalidades de relatórios de imagens.
Há outras iniciativas em curso no sistema público de saúde no Brasil que poderiam ser mencionadas. Ainda assim, o País dá apenas seus primeiros passos nessa área. A tendência, no entanto, é o avanço, tanto na área pública como na privada, no Brasil e no exterior.
É o que aponta, por exemplo, um estudo internacional da consultoria IDC divulgado em novembro de 2014. Entre outros aspectos, a pesquisa aponta que, nos próximos três anos, até 42% dos dados médicos serão acessados em plataformas móveis, como tablets e smartphones, em vez de dispositivos de mesa, como computadores desktop. Além disso, os dados do IDC indicam que, neste ano, até 80% das informações médicas, em algum momento, estarão na nuvem.
Como se vê, a revolução tecnológica na medicina já está em curso. O importante nesse cenário é refletirmos sobre os benefícios proporcionados pelo casamento entre medicina e tecnologia e aproveitá-los da melhor maneira possível.
(*)sócio-proprietário da Ventrix e
Doutor em Engenharia Biomédica pela Universidade de São Paulo.