Não é de hoje que pessoas importantes da economia brasileira antevêm estratégias para pesquisa e desenvolvimento no mercado de dispositivos médicos e material de enfermagem. Já dizia Joaquim Murtinho, ministro da indústria em 1897: “Nenhum povo dispõe nem das aptidões, nem dos elementos naturais, nem dos recursos econômicos para estabelecer empresas de todos os gêneros”. E apesar dos fatores tecnológicos de pesquisa e desenvolvimento mudarem consideravelmente no último século, a idéia do ex-ministro ainda continua atual.

Ainda que esta idéia seja válida para todo o setor industrial, quando observada na ótica do mercado de dispositivos médicos hospitalares brasileiros encontramos uma duplicidade entre capacidade de inovação e metodologia para criação de novos instrumentos de medicina e material de enfermagem. O país, que atualmente gasta aproximadamente 10,2% de seu PIB em saúde, ainda encontra uma certa dificuldade de se inserir como um grande player de pesquisa e desenvolvimento deste setor. E justamente estes dados e a articulação deste setor brasileiro foram apresentados no último dia 27 no evento do MedTechWorld MD&M Brazil 2014, um dos principais eventos de dispositivos médicos do Brasil, no Transamérica Expo Center em São Paulo.

O evento, que reúne aproximadamente 3000 profissionais e 40 expositores, contou com o estudo conduzido pelo Dr. Kleber Stelmasuk e pelo Dr. Vitor Asseituno, ambos do Empreender Saúde, com o objetivo de apresentar um panorama do mercado pesquisa e desenvolvimento de Medical Devices no Brasil. A apresentação contou ainda com a presença de Carlos Goulart, diretor executivo da Abimed, Dr Robson Capasso e Ravi Pamnani, mentores do curso de biodesign na Universidade de Stanford – Califórnia, um dos principais programas dos EUA para pesquisa e desenvolvimento de novos instrumentos de medicina. Reunindo dados da ABIMO, da ABIMED, da ANAHP e de várias outras instituições do setor, a equipe desenvolveu um panorama do setor hospitalar, principalmente de produtos hospitalares.

Dentre os vários pontos apresentados, foram divulgados os pontos fortes e fracos para ampliar a exportação, ampliar o contato entre universidade e indústria para pesquisa e desenvolvimento, além de identificar quais são as propostas para consolidar o Brasil como um importante competidor global de dispositivos médicos e material de enfermagem. E ainda que este mercado seja novo na América Latina, a necessidade de inovação e produção de novos medical devices é um imperativo, segundo evolução do déficit entre produção e consumo destes devices.

Como a demanda e o crescimento de leitos hospitalares não acompanha a evolução da demanda de pacientes nos hospitais, buscam-se novas formas de realizar o atendimento médico de forma a otimizar o diagnóstico e o tratamento. Neste âmbito produtivo, a demanda por inovação acompanha a demanda por produtos que otimizem o atendimento e supram o cliente com informações de qualidade sobre sua condição médica.

Por fim, um debate entre os palestrantes e a platéia permitiu fomentar uma discussão daqueles que ainda buscam soluções para fazer parte do rol de empresas competidoras no mercado de dispositivos médicos hospitalares. A apresentação mostrou que a busca pela inovação com foco empreendedor, acompanhando tendências tecnológicas do setor internacional com foco local (seja uma produção low-tech ou high-tech) permite que a empresa se adeque ao mercado e ganhe espaço entre os compradores de produtos hospitalares e material de enfermagem, se destacando por setor de pesquisa e desenvolvimento robusto e empreendedor.

Um dos dados que mais chamam a atenção quando se olham os dispositivos médicos do setor hospitalar no Brasil é que, apesar do crescimento do mercado com novos produtos a cada dia, que tornam a farmácia hospitalar um inventário sem fim, a parcela desses produtos que são de origem nacional tem caído a cada dia, gerando um déficit crescente na balança comercial hospitalar.

Foi discutido também a necessidade da criação de novos produtos hospitalares e dispositivos médicos, uma vez que a farmácia hospitalar já está tão cheia de diferentes soluções. A principal questão é que ainda há várias doenças sem tratamento, ou seja, que necessitam de novas técnicas, novos instrumentos de medicina e novos medicamentos, ou seja, altos investimento em pesquisa e desenvolvimento. Ao mesmo tempo, muitos dos dispositivos médicos já desenvolvidos são muito caros para poderem ser consumidos por boa parte do setor hospitalar, o que faz com que o acesso à maioria das tecnologias fique restrita às classes mais ricas da população. Ou seja, não apenas novos medical devices são necessários, mas também versões mais baratas dos atuais equipamentos médicos são necessárias.