As profundas e rápidas transformações demográficas, epidemiológicas e sociais acarretaram, nestas últimas décadas, consequências consideráveis sobre o sistema de saúde em todo o mundo, representando modificações profundas no perfil epidemiológico da população brasileira e determinando novas e crescentes necessidades de atenção à saúde no Brasil.
O predomínio das doenças crônicas não transmissíveis, somado ao aumento da expectativa de vida e o envelhecimento populacional, tem trazido profundas consequências sobre os serviços de saúde. São também estas doenças crônicas não transmissíveis o fator relacionado à saúde de maior impacto sobre a produtividade e o absenteísmo entre os trabalhadores além de serem ainda as principais causas da utilização de serviços de assistência e consequentemente do custo assistencial.
No quadro demográfico e epidemiológico atual não é suficiente cuidar dos episódios agudos de adoecimento que, muitas vezes, significam pontos de agravamento de doenças crônicas de longa duração. Este tipo de modelo de atenção tem como características a centralização no consumo de procedimentos, nas ações pontuais (agudas) sobre o indivíduo e na fragmentação dos serviços prestados, cuja consequência primordial é a divisão do evento da doença e a atenção por partes que não se comunicam, rompendo o princípio da continuidade e tendendo a incentivar financeiramente os pontos de atenção à saúde de maior densidade tecnológica.
É necessário superar a fragmentação da atenção à saúde dos trabalhadores e buscar uma efetiva participação das estruturas, dos profissionais da saúde ocupacional e do próprio indivíduo no cuidado com a sua saúde. Tal integração implica na definição de objetivos complementares e no compartilhamento de metas. A utilização de sistemas de informação, comunicação e educação, conjuntamente com desenhos estratégicos de incentivos para a melhoria contínua do estilo de vida e para a racionalização do uso dos recursos, serão as fontes de transformação do modelo atual de atenção à saúde.
O cuidado em saúde deve ser uma combinação de tecnologia, humanização e integralidade dos serviços, tendo como centro o usuário/paciente e suas necessidades, modelo denominado ?indivíduo-centrado?. Para que essa combinação aconteça é necessário um programa de saúde que organize, monitore, avalie e corrija de forma simples e integrada os diversos processos que constituem o modelo de atenção, dando aos profissionais e aos planejadores de saúde capacidade para potencializar os resultados esperados em torno de uma estratégia clara.
Neste cenário, a informação passa a ser um insumo fundamental para a organização dos serviços no novo modelo de atenção à saúde. Porém, não há como se fazer gestão efetiva e eficiente quando a informação encontra-se fragmentada, pois isso facilita o desperdício de recursos, falhas de organização da assistência e muita dificuldade no acompanhamento dos processos e na medição dos resultados.
Faz-se necessário um sistema para captura, processamento e integração dos dados provenientes de todos os prestadores de serviços em saúde disponíveis, de modo que a equipe especializada em gestão possa ter uma compreensão abrangente e precisa da situação da saúde da sua população, bem como elaborar um planejamento estratégico específico de gerenciamento para cada situação identificada e os respectivos indicadores de performance.
* Gustavo Guimarães é médico infectologista e diretor técnico da Funcional