Esta época do ano costuma ser de muito trabalho para quem lida com consultoria e cursos, porque tabulamos os dados das bases de dados públicas (SUS, ANS, CNES, Receita Federal …) e privadas (dados de faturamento e epidemiológicas de empresas públicas e privadas)

Quem faz isso algumas vezes costuma dizer que andar de Bug na areia não dá emoção nenhuma … emoção é entender todos os vieses que existem nas informações e produzir bons indicadores … sem isso os números são imbatíveis: nada bate com nada !

Os estudos são fundamentais não só para consultorias privadas – estou acostumado a ver números que produzimos para o ambiente acadêmico serem publicados em materiais institucionais de empresas, serem utilizados em projetos na área pública e, evidentemente, serem apresentados em congressos e seminários. Também são utilizados, e isso na verdade é uma grande honra, em TCCs e aulas … é gratificante saber que ainda existem pessoas que se interessam por alguma coisa diferente de novelas, noticiários policiais …

Nas primeiras tabulações os números que mais chamam a atenção são os que demonstram que existem tendências no segmento, que com crise ou sem crise, vão se consolidando cada vez mais – indicadores que apontam firmes sempre para a mesma direção.

Enquanto o SUS tenta (mas, não consegue) equalizar o atendimento de acordo com a distribuição populacional, a saúde suplementar vai a aproveitando as oportunidades geradas pela ausência do SUS, e vai ocupando espaço onde existe dinheiro, e onde o SUS é mais carente.

Por isso os estudos são tão úteis … oportunidade de negócios !

Se contarmos todos os estabelecimentos de saúde existentes (hospitais, centros de diagnósticos, clínicas, unidades de atendimento de urgência, consultórios …) contabilizamos: 584.482, sendo 435.717 Privados e 148.765 Públicos.

(*) Pouca gente, mesmo do segmento da saúde, tem alguma ideia destes números – mais de meio milhão de estabelecimentos de saúde. Morro de rir quando escuto alguém dizendo que o sistema de saúde do país das maravilhas é bom e que o Brasil deveria adotar os mesmos princípios … quero ver este milagroso sistema tabajara atender um país do nosso tamanho (geográfico e populacional) e com tantas diferenças étnicas !!!

Quando dizemos que não existe sistema de saúde no Brasil, porque não existe atenção assistencial real planejada para quem não seja milionário, mas sim 2 sistemas de financiamento que se regem apenas pelas implicações financeiras, muita gente critica.

Mas, tanto no sistema de financiamento SUS, como na saúde suplementar, os estabelecimentos não se distribuem proporcionalmente em relação à população, mas sim de acordo com a renda da população.

Em SP se concentram 29 % dos estabelecimentos, para uma população que representa 21 % do total (~ 7% a mais), mas em SE se concentram apenas 1 % dos estabelecimentos, enquanto a população representa 5 % (~ 4 % a menos) !

Quem não lida com epidemiologia pode achar 1 ou 2 % coisa pouca … quem lida com epidemiologia sabe o quanto representa 0,1 % de milhões de habitantes, ou 0,1 % da arrecadação de tributos no Brasil !!!

Esta tendência de concentração onde está o dinheiro tem se acentuado ano a ano. Outras tendências também têm ficado cada vez mais evidente ano a ano:

  1. Os estabelecimentos que ofertam leitos, são na maioria cada vez menores. E os grandes estabelecimentos que ofertam leitos, estão cada vez maiores

Percebe-se, por exemplo, que apenas 7,8 % dos estabelecimentos SUS têm mais que 150 leitos, mas estes estabelecimentos respondem por 37,2 % dos leitos.

E na Saúde Suplementar 3,5 % dos estabelecimentos têm mais que 150 leitos, mas respondem por 24,1 % do total dos leitos !

2. Os leitos, tanto no SUS como na saúde suplementar, estão distribuídos cada vez mais em função da renda do local do que em função da população que necessita deles.

No SUS, por exemplo, a relação número de habitantes por leito, é 777 em Sergipe, e 576,5 no Rio de Janeiro, ou seja, cada leito no RJ atende em média 576,5 pacientes, enquanto no SE tem que atender 777 pacientes – uma diferença de quase 35 %.

Na SS a tendência fica ainda mais evidente nesta relação – por exemplo: no RJ 599,1 e em SC 1.325, ou seja, cada leito no Rio deve atender 600 pacientes, enquanto em Santa Catarina 1.300 … se estiver pensando em investir no “negócio leitos”, qual Estado você escolheria ?

Em breve os estudos, que estão na fase de formatação, estarão espalhando diversas análises como estas – a cada ano vamos aprimorando.

Neste ano já conseguimos consistir os dados para descer ao nível de algumas especialidades: cardio, onco, psico e mais algumas … e tirando a emoção que dá trabalhar os dados brutos, o resultado é muito prazeroso !!!