A Global Postlaryngectomy Rehabilitation Academy (GPRA), fundada em 2009 pelo Netherlands Cancer Institute (NKI), da Holanda, com a proposta de promover workshops ao redor do mundo para difundir as técnicas de reabilitação da voz, da capacidade pulmonar e olfativa e também a deglutição (capacidade de engolir) de pacientes com câncer que foram submetidos à retirada total da laringe, se associou ao A.C.Camargo Cancer Center, trazendo para a cidade de São Paulo – pela primeira vez – uma edição do evento. A programação científica do Workshop, que acontecerá de 23 a 24 de maio, está disponível em www.accamargo.org.br/files/Arquivos/gpra-2014.pdf. A coordenação é do cirurgião oncologista e diretor do departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo, Luiz Paulo Kowalski e também do cirurgião e diretor do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Michiel van den Brekel e da fonoaudióloga, Anne Kornman, ambos do instituto holandês. A programação inclui outros especialistas do A.C.Camargo e também a cirurgiã de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional do Câncer (INCA), Izabella Costa Santos.

Destinado a cirurgiões oncologistas de Cabeça e Pescoço, otorrinolaringologistas, residentes, fonoaudiólogos, enfermeiros e oncologistas clínicos, dentre outros profissionais envolvidos no suporte interdisciplinar para o paciente laringectomizado, o Workshop visa discutir e abordar na prática aspectos detalhados das diferentes modalidades de reabilitação, dentre elas a eletrolaringe, voz esofágica e prótese traqueoesofágica, com ênfase nesta última.

Luiz Paulo Kowalski ressalta que muitos dos pacientes operados no A.C.Camargo e que obtiveram sucesso com a reabilitação pós-laringectomia fazem parte hoje do Coral Sua Voz, grupo que já realizou apresentações na instituição e também no MASP e no Auditório do Ibirapuera, sempre acompanhados pelas fonoaudiólogas (que fazem a segunda voz). Estes pacientes ensaiam uma vez por mês e cantam por meio de três métodos diferentes: laringe eletrônica (que deixa a voz metalizada), prótese traqueoesofágica e voz esofágica, em que a pessoa treina para fazer o ar passar pelo esôfago e, então, conseguir falar.

PRÓTESE TRAQUESOFÁGICA – A vantagem da prótese traqueosofágica, segundo Kowalski, é que ela possibilita que em cerca de 90% dos casos os pacientes voltem a falar, com uma voz mais forte, fluente e compreensível do que a obtida com a voz esofágica. “No A.C.Camargo, o paciente com indicação para o procedimento (em geral o não submetido à quimio ou radioterapia) está recebendo a prótese no momento da laringectomia. Já os pacientes que receberam radioterapia nós, muitas vezes – para se evitar complicações pós-operatórias – aplicamos a prótese em um segundo tempo, em média três a quatro meses após a laringectomia”, detalha Kowalski.

EXPERIÊNCIA HOLANDESA – Pioneiro e com a maior casuística do mundo com modalidade de reabilitação pós-laringectomia por prótese traqueoesofágica, o Netherlands Cancer Institute vai, assim como o A.C.Camargo e o INCA, compartilhar ao longo do evento a sua experiência em manejo do paciente antes, durante e após a cirurgia, incluindo a colocação e manutenção da prótese e os resultados obtidos com a reabilitação fonoaudiológica de seus pacientes. Parte desta experiência está descrita em artigo da revista científica Otolaryngology & Head and Neck Surgery: http://migre.me/j4qut.

ELETROLARINGE E VOZ ESOFÁGICA – As duas modalidades, segundo os especialistas, são menos eficazes que a prótese traqueoesofágica. A eletrolaringe é um aparelho no qual o paciente encosta no pescoço e fala. “Algumas pessoas se adaptam bem, mas outras não gostam da voz obtida. Em linhas gerais, o nível de resposta é baixo”, destaca Kowalski. Com a voz esofágica, o paciente aprende a engolir o ar e a falar, mas é um método demorado, nem sempre com voz satisfatória. “Alguns pacientes têm um resultado muito bom, mas é uma minoria. Menos de 30% dos pacientes operados conseguem adquirir a voz esofágica, isso porque nem sempre a faringe restante tem um volume que permite armazenar ar para poder falar”, acrescenta.

QUANDO INICIAR A REABILITAÇÃO? – Alguns procedimentos, exemplifica Kowalski, podem ser feitos antes da operação, principalmente em se tratando dos pacientes que vão para laringectomia total. “É aconselhável encaminhar o paciente com doença avançada à Fonoaudiologia antes da cirurgia, para que ela possa iniciar a orientação tanto de fala, quanto de deglutição. A continuidade deve ser dada já no pós-operatório, com o paciente ainda internado, para que ele já possa se familiarizar com o método ideal de reabilitação. “Não há como se pensar em reabilitação vocal sem associação entre fonoaudiólogos e cirurgião oncologista de Cabeça e Pescoço. As duas equipes precisam trabalhar sempre coordenadamente”, complementa Kowalski.

REALIDADE ATUAL NO BRASIL: DIAGNÓSTICO TARDIO – Embora o objetivo de cada médico seja preservar a laringe, na maioria dos casos isso não é possível. A razão para isso é o fato de que 75% dos casos de câncer de laringe são diagnosticados hoje no Brasil em fase avançada da doença, para os quais a laringectomia total é uma opção inevitável. O grande complicador da doença avançada, acrescenta Kowalski, é que os tumores mais agressivos não podem ser tratados de forma conservadora. Em linhas gerais, a indicação de cirurgia depende da localização e extensão da doença.

Na casuística do A.C.Camargo Cancer Center, o diagnóstico tardio está na faixa dos 60% a 70%, sendo que de cada 10 pacientes, 4 passam pela laringectomia total. “São pacientes com estadio 4, cuja doença está muito extensa e a laringe já está destruída completamente, não passível de conservação”, alerta. Para os pacientes diagnosticados em estadio 3, quase sempre a indicação é de radio e quimioterapia, sendo que em 60% a 70% das vezes é possível preservar a laringe. “A laringectomia total é o tratamento de escolha na doença muito avançada, na qual a laringe não mais funciona. Para aqueles que fazem a quimio e radioterapia há um grupo de 30% a 40% que vão recidivar e, por sua vez, também serão tratados com laringectomia total”, explica Kowalski. O melhor cenário é diagnosticar até o estadio 2, no qual há indicação de cirurgia conservadora (endoscópica ou à laser) ou radioterapia exclusiva, tratamentos com maior percentual de controle da doença e que geram menos sequelas para o paciente.

SERVIÇO

Workshop Global Postlaryngectomy Rehabilitation Academy

Realização: A.C.Camargo Cancer Center e Netherlands Cancer Institute

Data: 23 e 24 de maio de 2014

Local: A.C.Camargo Cancer Center – Auditório Dr. Humberto Torloni

Endereço: Rua Professor Antônio Prudente, 211, Liberdade, São Paulo – SP

Informações e inscrições: www.accamargo.org.br/evento-detalhe/global-postlaryngectomy-rehabilitation-academy-workshop/156

Cobertura de imprensa: [email protected]