De um lado, a cidade de Porto Alegre enfrentava uma epidemia crescente de pessoas em situação de rua e envolvidas com álcool e drogas, sobretudo, com o crack. Do outro, o Sistema de Saúde Mãe de Deus, cujo caráter filantrópico exige contrapartidas para a sociedade. Em terceiro plano, o Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS-AD), unidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Os três juntos formaram uma aliança que ajuda diariamente no tratamento de dependentes químicos na capital gaúcha.
O melhor exemplo da parceria é a unidade do IAPI, bairro da capital gaúcha e disponível para cerca de 200 mil habitantes. Desde 2009 em funcionamento, já são 1722 prontuários ativos. O centro é caracterizado como ?portas- abertas?, o que possibilita a entrada de qualquer pessoa que precise de ajuda. Fora isso, os cidadãos que necessitam de auxílio podem ser encaminhados via assistência social, hospitais e etc. De cunho filantrópico, a parceria é desenhada em um modelo 60% recursos privados e 40% de repasse via SUS. A iniciativa recebeu os prêmios Top Cidadania ABRH/RS 2011 e do Top de Marketing ADVB/RS 2011.
Sem a parceria de todos os elos não seria possível o projeto. É isso o que diz a gestora de Responsabilidade Social do Sistema de Saúde Mãe de Deus, Arlete Fante. Segundo ela, a viabilidade faz parte de uma rede muito maior do que abordada nesta página, ?são comunidades terapêuticas, o Programa Saúde da Família, Conselho Tutelar, Ministério Público, o Samu, o controle social e como essa rede e esse serviço se organizam?, explica.
Todos eles estão juntos para combater um dos principais problemas dos dependentes químicos: o crack. Para ajudar a resolver a situação, a parceria entre prefeitura e a entidade foi feita e hoje o CAPS-AD 3 IAPI é um dos centros cuja gestão é feita pelo Mãe De Deus. Para a realização deste empreendimento social foram investidos R$ 496,8 mil, sendo R$ 384 mil advindos de transferências do Poder Público, e outros R$ 112,8 de contrapartidas do Sistema de Saúde Mãe de Deus.
Só em 2012, o custo anual do centro foi de R$ 929 mil, sendo que o repasse do poder público municipal foi de R$ 404 mil e do Hospital Mãe de Deus R$ 525 mil. Valores de lado, o CAPS IAPI hoje funciona como uma espécie de ?incubadora SUS?, um projeto que repercute na qualidade do serviço da Saúde Mental. São profissionais da saúde que fazem uma espécie de estágio no local. ?É um espaço de trabalho do CAPS, que absorve esse novo profissional por uma semana e com isso ele ganha experiência para dar mais qualidade ao serviço?, afirma.
A Prefeitura de Porto Alegre e o Sistema de Saúde Mãe de Deus são parceiros há 28 anos. A aliança com o CAPS IAPI se deu em um momento em que cidade sofria com o aumento de casos de dependência química, principalmente, do crack. Outro fator desencadeador foi a mudança de gestão municipal, de acordo com o subsecretário de Saúde de Porto Alegre, Marcelo Bósio. ?O sistema de atenção era muito fraco e havia duas emergências muito focadas em leitos de internação e desarticulação na atenção. Começamos a organizar e construímos o plano para fortalecer a rede substitutiva à rede internação. Dentro dessa nova articulação estava o projeto de rede em Saúde Mental e entre eles o CAPS 3- IAPI, em parceria com o Mãe de Deus.
O prédio pertence a prefeitura, o Mãe de Deus faz a contração de pessoal, o desenvolvimento dos planos terapêuticos e toda a gestão da unidade. A prefeitura, por sua vez, fica com a parte de regulação de política pública, o município ressarce os custos de operação do centro. A parceria está desenhada em um formato 60% (privado) e 40% (público), e um CAPS como o IAPI custa, em média, R$ 170 mil por mês. E é nesse momento que Bósio diz que a entidade é muito mais que parceira. ?A parceria é ainda maior porque hoje eles colocam um recurso, que o governo não está pagando. Se eles não aplicassem esse recurso, não conseguiríamos.?, comenta. Para os próximos passos está a extensão da parceria com a entidade. ?Temos apostados muito nessa parceria, a instituição está nos apoiando tecnicamente, o que nos dá a condição de ter um serviço altamente qualificado para ampliação?, finaliza
O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD IAPI) começou a funcionar em 2009. Após uma portaria do Ministério da Saúde, o CAPS entrou em operação 24 horas e com leitos de internação de até 15 dias e é assim que funciona o do bairro de IAPI, que hoje possui 10 leitos. A unidade está disponível para uma população de 200 mil habitantes e tem 1722 prontuários abertos. O CAPS é originalmente um serviço de ?portas-abertas?, com acesso para qualquer pessoa que queira procurar atendimento, mas esse encaminhamento pode ser feito por meio de órgãos da sociedade e pela rede de atenção do SUS.
No CAPS IAPI são 27 profissionais trabalhando entre psicólogos, assistentes sociais, terapeuta ocupacional, psiquiatra, clínico geral, enfermeiro, técnico administrativo. São cerca de 90 pacientes por dia. ? Os pacientes tem cerca de sete recaídas em média?, comenta a assistente social e coordenadora do CAPS, Ilan Ramos. ? Eles sentem vergonha e inseguros?, completa, dizendo que para ajudar as pessoas na recuperação, o organismo entra em contato via visita e busca ativa por telefone. Para ajudar nesse processo, o papel da família é fundamental. Por isso, o centro também desenvolveu uma série de atividades que engloba a família do acolhido e a comunidade do entorno. ? Há muito preconceito e por isso fazemos atividades com a comunidade. O centro é aberto para informações sobre drogas, e percebemos que a comunidade já nos enxerga com muito respeito?, finaliza.
Sistema de Saúde Mãe de Deus
O Sistema de Saúde Mãe de Deus é composto pelo Hospital Mãe de Deus, localizado em Porto Alegre (RS), cujo atendimento é privado e mais nove hospitais espalhados entre a grande Porto Alegre e o litoral norte gaúcho, onde o atendimento é voltado ao Sistema Único de Saúde(SUS). Na capital, ainda há uma unidade básica de saúde e uma rede de Saúde Mental, composta por: três CAPS, unidade de internação exclusivamente feminina, uma emergência e uma unidade de Atenção Primária.
CAPS ? Centro de Atenção Psicossocial
Os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) são serviços de saúde municipais abertos e comunitários que oferecem atendimento diário. O organismo faz parte da política de saúde mental do Sistema Único de Saúde e com a criação desses centros se possibilita a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no País. Os CAPS-AD são exclusivos para o tratamento de pessoas dependentes de Alcool e Drogas. Esse é o caso do CAPS-AD 3 IAPI, localizado no bairro de mesmo nome e que está disponível para uma população de 200 mil habitantes. O espaço pertence à prefeitura, mas a gestão é realizada pelo Sistema de Saúde Mãe de Deus. Na foto. a coordenadora do CAPS-AD 3 IAPI, Ilan Ramos.
Secretaria de
Saúde de Porto Alegre
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre gerencia um sistema de saúde para uma população em torno de 1, 4 milhão de pessoas (IBGE, 2010) que vivem na capital. Ela também é referência para 3 milhões de munícipes da região metropolitana, além de atender alta complexidade para as demais cidades do Estado e da Região Sul do País. A maior parceria na área de Saúde Mental é com o Sistema de Saúde Mãe de Deus.