A demanda por eficiência impulsiona as instituições que estão investindo cada vez mais em soluções de Medical IT como o PACS (Picture Archiving and Communication System) para os serviços de diagnóstico por imagem. Com a solução pode-se comparar exames, reconstruções em 3D, alterar brilhos, contrastes e medidas, impossíveis com o filme radiográfico. E o médico os visualiza dentro ou fora do hospital, emitindo laudos rapidamente para a comodidade do paciente.
Embora o índice estimado de digitalização dos hospitais ainda seja pequeno no Brasil, em torno de 10%, enquanto nos Estados Unidos é de 100%, também revela um potencial a ser explorado já que os ganhos de eficiência com o PACS são expressivos nas instituições que já o utilizam. Assim, tanto a oferta quanto a venda das soluções cresceu nos últimos cinco anos, com a Agfa liderando o market share, na posição antes ocupada pela Carestream Health, como observa o diretor da Health Consulting e responsável pela implantação do PACS no Hospital das Clínicas de São Paulo em 2007, Érico Bueno.
Nesse sentido, a Agfa analisa dados de importação de equipamento do setor e projeta um crescimento de mais 50% em 2010. A GE tem o PACS como uma área estratégica e seu avanço na América Latina é de 45% por ano, enquanto seus estudos sobre o mercado nacional apontam um incremento geral das vendas em 20%. Por sua vez, a Philips pretende consolidar sua posição entre os três maiores fornecedores e alcançar a liderança em soluções PACS e RIS em 2012.
E a iniciativa pública também tem interesse em PACS. “O HC da Unicamp e o Grupo Conceição, em Porto Alegre, são exemplos de retorno de investimento nessa área e conseguiram reduzir o uso de filme e reinvestir em CRs, tomografia e ressonâncias, modernizando-se através dos aperfeiçoamentos nos processos internos”, assegura o diretor de Tecnologia e sócio-proprietário da Pixeon, Fernando Peixoto. A provedora tem o PACS Aurora, com tecnologia 100% nacional, instalada nos hospitais e lançará mais três soluções durante a Jornada Paulista de Radiologia por Imagem, de 29 de abril a 2 de maio, no Transamérica Expo Center em São Paulo.
Desafios
Se antes esbarrava no custo, hoje o êxito das soluções PACS depende do alinhamento dos módulos opcionais aos objetivos da instituição de saúde, um ponto crítico na experiência das provedoras de TI.  “Conheço hospitais que inviabilizaram seu projeto por não determinarem passos, saber onde queriam chegar ou escolher as ferramentas. E sai caro a não aderência dos usuários ao projeto ou problemas de compra incorreta de produtos e soluções”, comenta Bueno.
“O problema não é só escolher a solução, é a aderência para mudar hábitos que é difícil. Então, quanto mais fácil a implantação do PACS, melhor a solução e mais fácil a transição cultural no grupo hospitalar”, comenta o diretor de Healthcare IT da GE Healthcare para a América Latina, Juan Pablo de Hoyos. A empresa tem seu PACS Centricity IW no Grupo Medial, Clínicas Villas Boas (DF), Sabedoti (Sul) e em unidades do Fleury.
Daí que a instituição deve exigir uma implantação direcionada aos seus interesses, como reforça Peixoto, da Pixeon. “O PACS vale a pena mesmo para um hospital pequeno com um CR, um tomógrafo e um Raio X que não atinjam uma redução de custos expressiva como quem tem um parque de máquinas superior, mas cria uma condição de diferenciação e qualidade diagnóstica em sua região disponibilizando exames pela internet. E um complexo hospitalar cria conceito de entidade, independente da unidade em que o exame foi feito.”
Planejamento
Para os especialistas no assunto, os problemas encontrados com a implantação do PACS estão relacionados à gestão da ferramenta e não à qualidade dos produtos.
“Temos um índice que aponta que 65% dos problemas com soluções PACS são causados por usuários que não souberam usar o sistema ou  por entrada de vírus, que não são questões específicas da solução ou equipamento”, aponta Hoyos, da GE Healthcare.
“A maioria das intercorrências não são técnicas e sim dúvidas operacionais de procedimentos”, acrescenta o gerente de vendas TI da Agfa Healthcare, Robson Miguel.
Características suscetíveis a erros no processo analógico, o mau aproveitamento da agenda de exames, extravios, troca de dados e imagens ou processos desconexos dificultam a implantação e devem ser identificados anteriormente, com ressalta Miguel. “No momento do levantamento dos fluxos identificamos isso e propomos melhorias”.
Para o gerente de Health Care Information System (HCIS) da Carestream Health, Leonardo Sasso diz que, para dar certo, a solução precisa ser customizada, amigável para evitar o uso de apenas 10% do potencial e escalonável ao crescimento da instituição. “Para atingir os usuários, criamos treinamentos para analistas de processos, TI, radiologistas, porque sabemos que a equipe é heterogênia, e a ferramenta precisa ser diferenciada para cada time.”
Devido à complexidade para a instalação das soluções, a Philips desenvolveu, em conjunto com a Delloite, uma ferramenta de suporte aos gestores, o Philips Management Tool que permite mapear o quadro atual e estabelecer os objetivos mensuráveis para as metas de resultados.
Estrutura
Outro ponto relevante para o sucesso em projetos de PACS e o alinhamento de toda a equipe. O diretor da Health Consulting, Érico Bueno afirma que, sem comunicação e comprometimento com apoio da alta direção da empresa, não se consegue implantar um projeto em PACS e que, antes da escolha do fornecedor da solução, é preciso um check up interno. “Em primeiro lugar veja a situação da rede de dados, pois muitas vezes a solução e servidor são excelentes, mas há problemas no cabeamento estruturado. Precisa ter um profissional interno para cuidar disso antes e depois do PACS.”
Um bom exemplo é o do Hospital e Maternidade Dr. Christóvão da Gama. Um comitê de tecnologia formado pela alta direção, dois médicos, um consultor, e um profissional de TI levantou a situação de cabeamento, rede elétrica e fluxos e dividiu a implantação do PACS em quatro etapas para execução em um ano. Na integração do HIS (Hospital Information System) e do RIS (Radiology Information System) ao novo PACS, a infraestrutura foi trocada para cabeamento em fibra ótica, de dois canais. “Em uma indisponibilidade de rede, temos a impressão do filme seco através de uma reveladora e também dois equipamentos PCR que faz o link do envio em conexão segura VTM com protocolo TCPIP e os backups em Storages, com discos de capacidade de 5 TeraBytes de armazenamento”, explica o gerente de TI, David Oliveira.
Como o parque de equipamentos de imagem era antigo e não suportaria o PACS, no segundo semestre de 2009 eles foram trocados por novos da Philips, que também provê a solução num investimento total de R$ 300 mil. Além disso, 100 novos computadores foram adquiridos para estações de trabalho utilizadas por cerca de 800 médicos. “Agora esbarramos na mudança cultural. Não trabalhamos mais com o filme e para a aderência do corpo clínico ao digital temos uma médica e os enfermeiros incentivando o uso da ferramenta por parte dos profissionais”, comenta Oliveira.
Critérios
Com dois administradores de PACS – um biomédico e um técnico de informática -, a Santa Casa de São Paulo iniciou sua implantação esse ano e está em fase de integração do RIS/PACS da Agfa ao seu HIS. Com consultoria da ET Care montou seu documento RFP, de requisitos para implantação do sistema. “Foram empregados um ano no processo. Definimos zerar os filmes dos 25 mil exames/mês e a contratação de serviços, porque não tínhamos como investir na compra de equipamentos”, comenta o diretor de TI, Gilberto Rocha Ribeiro Júnior.
Nesse sentido, o consultor Bueno salienta ainda que o gestor de PACS da instituição tem quatro parâmetros para o briefing de seus fornecedores. “Volume de exames, de usuários, de equipamentos e especificações, por exemplo, ter 20 unidades, mas 15 são de ultrassom é diferente de um hospital com 10, porém distribuídos entre tomografia, ressonância, Raio X, medicina nuclear, entre outros de alta complexidade e digitais.”
E aí que está um dos principais problemas já que o parque instalado de Raio X no Brasil é antigo, sendo que em alguns hospitais chegam a ter mais de 30 anos. O quadro tende a mudanças, pois atualmente a maioria dos de ultrassons, tomógrafos e mamógrafos novos já são totalmente digitais. Para os equipamentos de Raios X analógicos, a saída é utilizar um escaner de Computer Radiography (CR), que digitaliza os dados e o transfere em até três minutos para o PACS.
Essa foi uma das opções da Santa Casa de São Paulo, que adquiriu da Agfa 10 CRs de cassete para digitalização dos exames de seus equipamentos de Raio X. A contratação se deu em regime de serviços, com implantação de PACS, suporte e manutenção, por cinco anos, ao custo total de R$ 6,2 milhões. Fora do contrato de PACS ainda foram gastos mais R$ 1,4 milhão em 750 micromputadores com processadores Intel Core Duo de 4 GB de memória e monitor LCD de 19 polegadas de 1.280 x 1.024, ambos da Dell, e infraestrutura de rede. Para esses equipamentos, a Agfa apenas homologou a configuração dos monitores e processadores para visualização seguindo o protocolo DICOM (Digital Imaging and Communications in Medicine). Com eles, serão montadas 10 estações de trabalho com monitores de 3 e 5 Megabytes para os médicos radiologistas visualizarem exames de tomografia, ressonância, ultrassom e Raio X, mamografias e ortopedia, sendo dois monitores de 2 Mb exclusivos para laudos.
Etapas
Bueno observa que um projeto do PACS pode ser feito em passos, substituindo gradualmente o filme, reduzindo-se em um terço os custos na documentação. Mas, é um erro manter a impressão paralelamente por muito tempo, já que outras despesas associadas com a equipe de TI, software, manutenção, entre outros. “Estabeleça metas de redução em 70% no primeiro ano, e 90% em um ano e meio, considerando que você grava milhares de imagens em CD, e que alguns exames já são aceitos em papel de qualidade especial ao invés de filmes.”
A frente desse processo estará o gestor de PACS que também elabora e insere na rotina do hospital o plano de contingência, antecipando-se aos problemas no produto, processos e pessoas. “Um plano com poucos pontos, como queda de energia, rede, parada de um equipamento, mas bem definidos, é mais fácil de aplicar”, afirma Bueno.
Investimentos
Não há uma métrica para o preço. “A quebra de paradigmas é que não depende do volume de exames, mas o que ele busca com a implantação da solução, seus processos e nível de informatização”, comenta o gerente de vendas TI da Agfa Healthcare, Robson Miguel, que fornecersoftware e CR de Raio X e mamografia e tem parcerias globais com Dell e SAM para servidores, EMC para Storages, e Barco para monitores.
Bueno vê a variação do investimento de acordo com volume de exames, quantidade de estações, usuários, ferramentas ou licenças especiais que podem encarecer o projeto, como sistemas de reconstrução de perfusão cerebral, cardíaca, ou as que utilizam templates de ortopedia, softwares de detecção de nódulos e tumores como CAD (Computad Aided Diagnosis), que detecta diferenças na densidade do tecido.
Há projetos de solução completa de PACS, para unidades com 100 leitos, em torno de U$ 300 mil por cinco anos, com manutenções e garantia, e outros menores orçados em R$ 30 mil. Bueno diz que a contratação em modalidade EaaS (software como serviço) nesses casos é extremamente indicada. “A maioria dos fornecedores oferecem a opção e é um excelente modelo já que seu custo é variável e você não se preocupa com a atualização da solução”.
Assim, cada caso demanda um estudo, segundo o gerente de Produtos e Marketing da Philips Healthcare Informatics, Benvenuto Somera, que atende HC e Instituto do Câncer paulistas, a  Unimed Bragança Paulista e o hospital carioca São Vicente de Paulo. Os equipamentos podem ser de qualquer fabricante, desde que sigam a linguagem DICOM e as soluções começam na faixa de R$ 50 mil. Em equipamentos, um Raio X sai R$ 100 mil, ultrassom R$ 70 mil, mamógrafos R$ 150 mil, tomógrafos R$ 400 mil, hemodinâmicas a R$ 1,2 milhão, ressonâncias e PET CT a R$ 2 milhões. “Nosso modelo de pagamento por uso permite uma visão completa do fluxo de caixa ao longo do ciclo de vida do projeto e equipamento.”
Já a Pixeon adota uma prestação de serviço que diminui o investimento inicial do cliente em locação de sistema. “Um custo entre R$ 50 mil a R$ 100 mil para uma pequena unidade de saúde, na prática, sai cerca de R$ 5 mil por mês e para um complexo hospitalar é na ordem de R$ 30 mil/mês para software, sem custo de hardware, que é comprado com os fornecedores tradicionais da instituição”, comenta Peixoto.
Protocolos
A escolha das soluções também reclama critérios bem estabelecidos. Por isso, Bueno diz que para identificar bons fornecedores a premissa básica é ver o nível de certificação da solução oferecida em PACS, se segue os padrões estabelecidos por organizações internacionais como HIPPA (Health Insurance Portability and Accountability Act) e IHE (Integrating the Healthcare Enterprise) para desenvolvimento de aplicações destinadas à área médica. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina aprovou a resolução 1890/2009 para normatizar a Telerradiologia, porém, o documento não faz menção a parâmetros técnicos nos equipamentos, enquanto a Anvisa ainda tenta aprovar a Denominação Comum Brasileira de Produtos para a Saúde (DCB-PS) baseada na Global Medical Device Nomenclature (GMDN) e envolve equipamentos e soluções de PACS. Mas como as fornecedoras de soluções e hardwares no país mantêm operações mundiais, seguem legislações como as da NEMA/Medical (National Electrical Manufacturers Association); a norma 510 (k) do Food and Drug Administration (FDA); a TG18 da Associação Americana de Físicos em Medicina (AAPM) e o protocolo DICOM (Digital Imaging and Communications in Medicine), que padroniza imagens geradas, visualizadas, transmitidas, trocadas e tratadas entre equipamentos e computadores dentro de um hospital e são essenciais para os monitores radiológicos digitais de alta definição.Para a mamografia, o padrão é o BI-RADS (Breast Image Reporting and Data System), padronização criada pelo NCI (National Cancer Institute), o CDC (Centers for Disease Control and Prevention), os colégios americanos de radiologia, cirurgiões, patologistas e a FDA.
Você tem Twitter? Então, siga http://twitter.com/SB_Web e fique por dentro das principais notícias do setor.