A medicina conta com avanços diários em tecnologia, novos medicamentos e aperfeiçoamento de práticas clínicas. A rápida evolução, que cria os melhores diagnósticos e terapias, tem a cura como principal objetivo. No entanto, a atenção aos pacientes não deve parar por aí – precisa ir além do convencional com um reforço que busque promover qualidade de vida. Isso é bom para quem é tratado e quem trata, garantindo melhor performance. 

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Protocolos de oncologia podem contar agora com um sistema que integra a chamada saúde complementar ou integrativa a seus processos. Com isso, a instituição de saúde, de um lado, ganha com uma diminuição de custos e eficiência de resultados. Do outro lado, o paciente ganha com mais bem-estar, motivação e mais chances de cura.  

Traumas físicos e psicológicos gerados por tratamentos e algumas alterações físicas podem permanecer durante longos períodos em grande parte dos pacientes. Isso gera mais internações e mais despesas com medicamentos que buscam amenizar a agressividade de diversos tipos de procedimentos. 

Estes efeitos colaterais criaram o fenômeno social que é caracterizado pelo fato de muitos pacientes procurarem terapias não-convencionais, durante ou após tratamentos – cerca de 80% não revela ao médico que faz algum tratamento análogo. O intuito destas pessoas é justificável, mas pode ser perigoso e compromete resultados médicos. Sem orientação, pacientes começam a fazer exercícios físicos, massagens, consumir produtos naturais diversos vendidos como terapias, entre outras coisas, paralelamente à atuação médica. Isso pode impactar diretamente em um protocolo médico, pois efeitos colaterais dos tratamentos complementares podem alterar a ação de drogas e demais tratamentos convencionais, gerando impacto na gestão de processos de tratamento destes pacientes.

Uma saída para se lidar com esta realidade, já adotada no Hospital Israelita Albert Einstein desde o primeiro semestre de 2008, é trazer as terapias complementares para dentro dos avançados procedimentos médicos. Esta iniciativa é pioneira na América Latina e abre um precedente importante no setor hospitalar brasileiro. A maior parte dos pacientes que contaram com um plano de tratamento criado pelo hospital que incluiu as terapias integrativas relatam que se sentiram melhores, incluindo em diversos casos a diminuição da freqüência no hospital para cuidados imprevistos.    

Superando qualquer resistência um pouco mais conservadora da comunidade médica, meditação, yoga, reiki, acupuntura, musicoterapia e diversas outras práticas são cada vez mais usadas como complemento à medicina de ponta no mundo. Elas são, inclusive, recomendadas e utilizadas pelos melhores especialistas e instituições, incluindo o maior centro oncológico do mundo, o MD Anderson Cancer Center, do Texas (EUA), desde que realizadas com as devidas supervisões médicas. A instituição tem em seu mix de serviços 75 práticas disponíveis, complementares à medicina tradicional. O objetivo é garantir o bem-estar de pacientes, amenizando os efeitos muitas vezes agressivos de tratamentos, e potencializar o desempenho de uma área oncológica.  

Esta iniciativa tem um impacto relevante na sociedade. Quando uma instituição médica de peso endossa que práticas como esta podem ser usadas, desde que da maneira correta, incentiva os pacientes a não esconderem que pretendem utilizar ou que utilizam outros meios para buscar a cura ou bem-estar. Para um hospital ou clínica que trata o câncer isso pode ser um enorme avanço, pois permite lidar com a medicina complementar por meio de evidências mais sólidas para assim garantir uma melhor performance. O desafio é fazer com que oncologistas reconheçam esta nova fase da medicina, com base nas comprovações já existentes. 

É claro que não basta apenas que médicos “receitem” terapias complementares – a nova prática exige alta qualificação de profissionais que realizam as terapias não-convencionais, além de um planejamento médico baseado em evidências e em modernos modelos administrativos. Precisa fazer parte da prática médica. Cada situação necessita de personalização dos serviços, ou seja, uma análise detalhada e um plano de ação coerente ao perfil do paciente. Afinal, um tipo de exercício é bom para alguém que passou por um certo procedimento, mas, para outro, pode não ser adequado.  

O tratamento oncológico pode causar complicações agudas, persistentes e de surgimento tardio, como a obesidade, que é um problema comum em mulheres que trataram um câncer de mama. Uma dieta realizada sem a supervisão de um nutricionista, por exemplo, pode ser desastrosa. Um centro oncológico que pretende ser realmente reconhecido não pode ignorar esta realidade: deve buscar se capacitar para validar práticas que antes eram consideradas alternativas e hoje comprovadamente complementam a medicina moderna. 

* Auro Del Giglio é coordenador do núcleo de oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein

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