Capitais como Belo Horizonte, Cuiabá, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo estão entre as que informam taxa média de ocupação de leitos dedicados a Covid-19 na chamada zona vermelha, quando mais de 70% das unidades estão ocupadas. Belo Horizonte e Porto Alegre já chegaram a anunciar taxas na faixa dos 80%; Cuiabá, 70% e São Paulo, 77%. E os números mudam para melhor ou pior, conforme o avanço da pandemia e as medidas tomadas pelas autoridades da saúde. Em regiões mais ao norte do país, o cenário da ocupação de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) é ainda mais grave.

É preciso ampliar a capacidade de atendimento da saúde pública e do sistema suplementar com expansão de unidade e aumento do parque instalado. “Além disso, muito importante é adotar eficiência em todos os processos e otimizar o fluxo de pacientes com a Covid-19 e outras doenças”, afirma Lauro Miquelin, CEO da L+M, que, além de especialista em gestão de empreendimentos de saúde, aconselha e orienta Comitês de Crise Covid-19 em instituições de saúde de todo o país. Entre essas organizações estão: Fundação São Francisco Xavier (Usiminas – MG), Unimed Rondonópolis (MT), Unimed Missões (RS) e Fundação Padre Albino Catanduva (SP).

Não temos informações confiáveis

A pandemia do novo coronavírus expôs gargalos em nossa sociedade em todas as áreas. Se considerarmos o setor da Saúde, a lista é grande e escancarou mazelas que já eram evidentes, conhecidas de líderes da Saúde, mesmo em um cenário sem Covid-19, ressalta Miquelin. Na opinião do executivo, é preciso conhecer o parque instalado de organizações de saúde e valorizar a eficiência sistêmica. Segundo ele, quem atua na saúde sabe que as informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) não são confiáveis. “Isso acontece por causas históricas e o impressionante é que continuamos fazendo políticas públicas e orçamentos de investimentos e custeio das organizações privadas sem precisão de informações”, destaca.

Precisamos de R$ 125 bi de investimento

Na projeção realizada com base em informações do banco de dados da L+M – construído ao longo de mais de 30 anos de atuação da empresa – apenas para realizar as reformas na infraestrutura de hospitais e edifícios de atenção básica de saúde já existentes no Brasil, sem qualquer tipo de ampliação, seriam necessários investimentos da ordem de R$ 125 bilhões.

Entre os caminhos apontados pelo especialista para fazer frente a essa falta de qualidade dos dados do CNES está aplicar as regras já existentes para penalizar gestores pelas falhas e ou omissões de informações. Ele também defende a ideia de “executar um censo de espaços, tecnologias e operações das organizações de saúde como instrumento de Política de Gestão de Saúde”.

Visão e ação sistêmica são essenciais

Outro legado da pandemia foi deixar ainda mais claro a evidência da importância da eficiência sistêmica nas organizações de saúde. Atuar com visão e ação sistêmica é fundamental na implantação de empreendimentos de saúde – pessoas, processos, prédios e tecnologias andam juntos para evitar desperdícios e fazer tudo funcionar, proporcionando o melhor estado possível de bem-estar para todos. “Na L+M criamos uma palavra que parece nome de biscoito napolitano, que ajuda a lembrar de todos os ingredientes que fazem tudo funcionar: PeProCuTe. ‘Pe’ de Pessoas, ‘Pro’ de Processos, ‘Cu’ de Cubos componentes do edifício e “Te” de Tecnologias.”, sintetiza.

Hospitais de campanha

Infelizmente, exemplo recente de falta de eficiência sistêmica é a implantação dos hospitais de campanha durante a pandemia. “Apesar dos esforços individuais e da boa vontade, ocorrem desperdícios intoleráveis com a rapidez na compra emergencial das montagens e de equipamentos de suporte a vida, dessincronizada do cronograma de recrutamento e capacitação de pessoal; e da aquisição de medicamentos do primeiro estoque”, avalia.