Parece muito natural que tenhamos mais cuidados com pessoas e com as coisas que mais valorizamos, amamos e a quem atribuímos importância. Correto?

A prática dessa afirmativa nem sempre é coerente e traz, para o comportamental, aquilo que está fixado em nossas mentes como valores absolutos.

Por exemplo, em geral, as mães e os pais declaram que seus filhos são o centro da vida deles – pessoas às quais atribuem maior importância. Exatamente essa é a declaração de 99.9% dos pais que conheço.

Esses mesmos pais e mães têm rotina atribuladíssima, que compreende compromissos de trabalho, para sustento da vida de todos; entre outras tantas inerentes à condição de cidadão participante de sociedades dinâmicas. Logo, torna-se necessário contar com a ajuda de “anjos da guarda” para cumprir tarefas operacionais como alimentar, cuidar das roupas, garantir agendas e compromissos dos amados filhos, para garantir o crescimento e a evolução deles. Esses seres protetores, em maioria, fazem dessa honrosa atividade uma fonte de renda para alimentar a própria existência, assim, precisam de retribuição financeira e de reconhecimento verbal. Afinal, para que esses filhos sejam estáveis e seguros, precisam de cuidados diários e constantes; não-esporádicos.

O montante financeiro atribuído aos serviços prestados, em geral, é a materialização do valor que a esse atribuímos. Quando estamos diante da definição dos valores para remunerar os anjos da guarda – aqueles que cuidam das preciosidades das famílias – qual critério é mais comumente utilizado?

Tenho certeza de que muitas pessoas escolhem pagar o maior valor que lhes é possível, esquecem até mesmo da prática de mercado. Afinal será destinado o melhor para quem vai cuidar do que mais se valoriza na vida. Entretanto, o contrário também é observado.

Remunerar um trabalho vital para a manutenção dos principais valores é uma forma de demonstrar a quantidade ou mesmo a profundidade do valor atribuído. Quem assim atua não alardeia sua atitude positiva e coesa, nem busca reconhecimento social. É assim que se vivencia a honestidade e a ética, do contrário é necessário reconhecer a famosa dissonância cognitiva, que nada mais é do que distância entre o discurso e a ação.

Na vida corporativa, muitas vezes, agimos dessa maneira. Declaramos valorizar questões para as quais, no momento de atribuir valor e destinar investimentos, buscamos grandes economias e comparação com situações sem similaridade. Comparamos o incomparável. Ora, envidar mais esforços para os cuidados do objeto valorizado, dedicar-lhe mais dinheiro e mais tempo e atribuir a ele prioridade nas tratativas parece lógico.

Seria injusto e preconceituoso generalizar. Não é esse o caso. Apenas observo que, em muitas situações, ainda o discurso comum versa sobre a importância da marca, elemento vital para a sobrevivência de qualquer organização. Esse aspecto dissonante faz questionar sobre a disposição de os líderes – decisores dos investimentos remunerarem, com justiça, os profissionais – inclusos colaboradores diretos e indiretos e também terceiros, muitas vezes comprometidos parceiros – nessa tarefa de “cuidar” desse bem tão intangível.

Como ajudar aos que decidem e aprovam orçamentos a atribuírem valores baseados em importância? Pode-se pensar em apoiá-los na busca do entendimento sobre algo que parece intangível se comparado a outros ativos.

Como atribuir valor à dedicação de nossos “anjos da guarda”, comprometidos com nossos filhos, para o presente e para o futuro? Seria justo remunerar pela mesma média de valor de quem cuida de nossos objetos?

Como dar mais valor àqueles que dedicam o tempo e os melhores esforços na construção da marca de nossa organização?

Mesmo com mecanismos de atribuição de valores a marcas – muitas delas mais valiosas que as próprias empresas, a marca ainda é tão intangível quanto pode parecer tudo que é feito para mantê-la valiosa. Adicionalmente, o valor da marca e a imagem das organizações pertencem a quem as vê e avalia não a quem as pensa construir e valorizar.

Fica aqui minha declaração de profundo respeito aos profissionais que cuidam de nossos mais valiosos ativos e que observam remunerações e propostas de prestação de serviço desprestigiadas mesmo que quem assim o faz não tenha a real intenção de “desvalorizá-los”.

*Irani Ugarelli – com mais de quinze anos ade experiência na gestão de áreas de marketing, comunicação e relacionamento com clientes, possui sólidos conhecimentos das áreas adquiridos na vivenciação em empresas multinacionais como KPMG, Nortel Networks e SAP entre outras. Formada em Administração de empresas MBA -FGV – Gestão estratégica de mercados, especializada CRM, Certificação em “International Corporate Communications”, pela Universidade de Syracuse, Nova York. Atua como consultora em branding e gestão de marketing e comunicação.

**As opiniões dos artigos/colunistas aqui publicadas refletem unicamente a posição de seu autor, não caracterizando endosso, recomendação ou favorecimento por parte da IT Mídia ou quaisquer outros envolvidos nesta publicação

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