A Organização de Mundial da Saúde classifica o consumo de carne processada (bacon, salsichas…) como carcinogênico. Estatisticamente, o consumo diário de 50g de carnes vermelhas processadas aumentou em 18% o risco de câncer de cólon e reto, ou seja, uma pessoa com risco médio de 3% de ter câncer de intestino grosso na sua vida, passa a ter 0,24% a mais. Para colocar em uma perspectiva, o cigarro aumenta em 4000% o risco de câncer de pulmão… Não que uma coisa inocente a outra… o objetivo aqui é fazer uma reflexão sobre o que significa risco em medicina.
O novembro azul também se presta para este debate. O senso comum diz que a melhor maneira de lidar com o câncer é fazer o diagnóstico e iniciar um tratamento agressivo o mais cedo possível. Essa crença faz com que as pessoas não se preocupem muito sobre quais os malefícios que um exame ou tratamento podem causar (overdiagnosis e overtreatment). Quando colocado em uma perspectiva científica crítica, o rastreamento com PSA de forma sistemática e não crítica não conseguiu reduzir a mortalidade do câncer de próstata. Um bela revisão da Cochrane convida a esta análise.
A informação do Novembro Azul deve se concentrar em definir como debater o tema com seu médico, identificar quem eventualmente pode e deve se beneficiar de investigação e fomentar soluções mais sustentáveis.
Evidente que cabe lembrar que existem várias variáveis não mensuráveis, por exemplo, o sofrimento subjetivo da experiência prévia de um familiar com câncer. Isso tudo mostra como medicina por ser uma áreas incertezas e das probabilidades. Navegamos em um oceano de milhares desfechos e decisões e cabe ao profissional de saúde – principalmente nestes tempo em que a relação médico paciente passou a ser mais horizontal em detrimento ao modelo vertical prévio de “médico manda paciente obedece” – ajudar o paciente e família a tomar a decisão mais acertada. As decisões passam pela visão critica da ciência e comunicação clara e disponível – obrigação do profissional da saúde.