No dia 31 de maio, celebra-se internacionalmente o Dia Mundial sem Tabaco. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o cigarro mata seis milhões de pessoas anualmente e é a maior causa isolada evitável de mortes precoces em todo o mundo. O tabagismo é fator de risco para cerca de 50 doenças, e também responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão, além de estar relacionado a vários outros tipos de câncer.

O pneumologista Ricardo Henrique Sampaio Meirelles, coordenador da Clínica da Cessação do Tabagismo do Grupo COI, lida diariamente com o combate ao fumo. Na clínica, ele atende não só pacientes com câncer de pulmão, laringe, boca etc, que são tratados no COI, como seus familiares fumantes e também a população tabagista em geral, que deseja parar de fumar. Dr. Ricardo acredita que o primeiro passo para abandonar o cigarro é o desejo em parar de fumar, além de procurar tratamento com apoio de um médico. Ele selecionou informações importantes para quem quer largar o cigarro:

– É preciso entender que o tabagismo é uma doença decorrente da dependência à droga nicotina, presente em qualquer derivado do tabaco. Esta dependência é um processo complexo que envolve a inter-relação entre fatores fisiológicos, psicológicos e comportamentais. Após uma tragada no cigarro, a nicotina atinge o cérebro em 7 a 19 segundos, liberando para o sangue substâncias químicas que dão uma sensação muito forte de prazer e bem estar.

– Em decorrência do cigarro estar presente na sua rotina diária, o fumante passa a incorporá-lo a situações corriqueiras, associando-o a essas situações, como fumar após tomar café, após as refeições, ao assistir televisão, ao ler, falar ao telefone, ingerir bebidas alcóolicas, ligar o computador, etc. O indivíduo busca no cigarro o alívio de tensões internas, tais como angústia, sensação de vazio, depressão, ansiedade, medo, stress, além de imaginá-lo como um companheiro, em momentos de solidão. Ele passa a ser uma “válvula de escape”, uma “solução mágica” ou mesmo uma fuga para os problemas que aparecem.

– Portanto, para que um fumante deixe de fumar de uma maneira eficaz é necessário que se faça um tratamento, através de orientações de como parar de fumar, dando dicas de como conseguir resistir ao desejo de fumar, e como passar por situações em que estava acostumado a fumar, sem acender seu cigarro. O importante é que o ex-fumante mude seu pensamento e seu comportamento para viver sem cigarro. O foco principal é a detecção de situações de risco que levam o indivíduo a fumar, e o desenvolvimento de habilidades no paciente para enfrentar essas situações, que são facilitadoras da recaída.

– Dependendo de cada caso, muitos fumantes podem se beneficiar da utilização de medicamentos que têm a finalidade de diminuir os sintomas da síndrome de abstinência da nicotina, ou seja, a falta da nicotina no cérebro, fazendo com que parar de fumar não seja tão sofrido. Os medicamentos utilizados no tratamento do tabagismo e que possuem comprovação científica são a Terapia de Reposição de Nicotina, através de adesivo transdérmico, goma de mascar e pastilha; e medicamentos sem nicotina, como a Bupropiona e a Vareniclina.

Por isso, a abordagem realizada pela Clínica de Cessação do Tabagismo, do Grupo COI, não visa apenas a parada do fumo, mas principalmente a manutenção da abstinência. O plano é tornar o indivíduo agente de mudança de seu próprio comportamento, valorizando sua autoestima e reforçando os benefícios que sente ao parar de fumar.

“Da mesma forma que campanhas de massa propagaram o cigarro há algumas décadas, esperamos que campanhas como o Dia Mundial sem Tabaco ajudem a reduzir os drásticos números que envolvem o tabagismo”, comenta Dr. Ricardo Henrique Sampaio Meirelles.

Cigarro eletrônico: uma opção eficaz?

Recentemente especialistas têm discutido o uso de cigarros eletrônicos no tratamento do tabagismo. Porém, ainda não há estudos científicos suficientes que indiquem seu uso. O cigarro eletrônico é um dispositivo eletrônico que imita um cigarro comum (de tabaco). É constituído de três partes: uma bateria com alguns componentes eletrônicos, um vaporizador (também chamado atomizador) e um cartucho que contém nicotina e propilenoglicol, substância química sem cheiro e sem sabor, usada para criar a névoa falsa, semelhante à fumaça. Alguns modelos contam com uma luz na ponta, simulando a brasa do cigarro comum.

“Quando o fumante suga o ar pelo cigarro eletrônico, um sensor ativa a bateria, que aquece a ponta. Ela fica vermelha e quente, simulando um cigarro normal. Enquanto isso, o atomizador vaporiza o propilenoglicol e a nicotina. Na inalação, o vapor leva uma dose de nicotina aos pulmões, sendo que o resíduo do aerossol é exalado para o ambiente”, explica o pneumologista.

Estudos encontraram substâncias tóxicas e cancerígenas nos cartuchos do cigarro eletrônico (dietilenoglicol e nitrosaminas). Além disso, níveis de nicotina informados pelos fabricantes podem ser maiores do que a quantidade de nicotina encontrada. Muitos fumantes precisam tragar o vapor do cigarro eletrônico com mais intensidade, pois a densidade do aerossol cai depois de 10 tragadas, o que faz com que o fumante precise sugar ainda mais forte para conseguir produzir o gás pressurizado, como uma forma de compensação.

Desta forma, ainda não existe segurança no uso dos cigarros eletrônicos, cuja comercialização e importação é proibida pela ANVISA no Brasil.