Outro dia uma experiente médica me contou o quanto é comum as pessoas chegarem em seu consultório com um autodiagnóstico, do tipo: – doutora, eu sou depressivo. Para a ginecologista e também acupunturista Denise Grizante, se o paciente já se define assim e acredita nisso, qualquer remédio que ele tomar, vai contra ele mesmo, afinal, ele é um depressivo tomando um antidepressivo. Há um conflito entre a intenção da medicação e a intenção dele, mesmo que ele não tenha total consciência disso.
O PhD e ativista quântico, Amit Goswami, afirma que a visão materialista da medicina, que considera apenas as interações materiais, é problemática. Segundo o indiano, 70% das pessoas são tratadas pela medicina farmacêutica cujo tratamento não atua na causa das enfermidades. Esses mesmos 70% dependem da atitude do paciente em prol da cura. “Se [o paciente] acreditar, sentir no coração que pode ser curado, isso tem um poder muito grande no corpo. Quando o coração e o cérebro se juntam, a possibilidade de cura está escolhida. Neste ponto, o paciente escolhe ser curado e a possibilidade aumenta”, disse o físico indiano durante o Saúde Business Forum em maio deste ano (Punta Cana).
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Mesmo com todas as tecnologias inovadoras que não param de surgir para auxiliar tratamentos e até a relação entre médico e paciente, o quanto o indivíduo se coloca ainda hoje na posição de um paciente passivo à espera de uma mágica? Mágica esta de responsabilidade do mago doutor, que com sua varinha de condão tem o poder de prescrever algumas doses milagrosas. Não por acaso há muitas sátiras que fazem referências aos médicos como se fossem deuses.
No entanto, mágicas não acontecem na prática. Quantos médicos têm pacientes recorrentes, que “curam” um sintoma e, depois, voltam por outro motivo? Ou mesmo quantos pacientes se entopem de remédios para apenas minimizar os desconfortos, sem nenhuma esperança de cura efetiva? E assim vão vivendo…e assim os médicos vão medicando…
Será que a medicina paternalista de um Brasil-Colônia, ou mesmo uma cultura paternalista, ainda é a mentalidade que rege o sistema de saúde neste 2015? O quanto os potenciais do próprio paciente estão escondidos e negligenciados pelos médicos e por eles mesmos? Ou por nós mesmos?
Olhando todos os dias para o que anda acontecendo no setor de saúde, mesmo com temas como promoção e prevenção à saúde em evidência, a possibilidade de uma parceria em prol da cura entre médico e paciente ainda é bem pouco compreendida. Mas felizmente não é desconhecida.
“Eu convido o paciente para ser meu parceiro na cura. Aponto para o médico interior que tem nele, mas muitas vezes consigo perceber quando alguns não querem”, contou Denise, que há mais de quarenta anos exerce a medicina e, hoje, sabe que ela não é responsável sozinha pela melhora do paciente, que tem sua parte fundamental nesse processo de cuidado.