Interessantíssimo artigo publicado no New England Journal of Medicine e intitulado The Bystander Effect in Medical Care. É assim destacado:
“Quando nove diferentes times foram ativados para ajudar no diagnóstico de uma condição complexa e desafiadora em paciente internado na unidade de terapia intensiva, houve caos e falta de ação, com todos os participantes passivos, cada um esperando que outro colega resolvesse”.
Algo conhecido como Efeito Espectador, e bem retratado neste vídeo:
No NEJM, descrevem período de somente 11 dias onde paciente foi visto por não menos que 40 médicos. Escancaram o problema da falta de coordenação do cuidado, na perspectiva deste fenômeno psicológico: Bystander Effect, também conhecido como Síndrome de Genovese, em alusão à história de Catherine Susan Genovese, esfaqueada até a morte próximo de sua casa em Kew Gardens, no Queens, Nova York. As circunstâncias de sua morte e a reação dos vizinhos dela (a falta de reação, na verdade) foram relatados em um artigo de jornal publicado algumas semanas depois e instigaram investigações deste fenômeno do comportamento humano. Como componente, existe o que chamam de “difusão de responsabilidade”, e as conseqüências podem ser perversas.
Mais informações no artigo original e neste de ABC NEWS.
Em Compreendendo a Segurança do Paciente, Artmed 2013 (muito em breve disponível), Bob Wachter também trabalha esta questão da fragmentação. Cita, por exemplo, estudo onde demonstraram que ser cuidado por diferentes médicos é um melhor preditor de complicações e erros hospitalares do que a própria severidade da doença de base do paciente. Wachter não nega o fato de que transições e equipes especializadas são necessárias na prática médica moderna, e serão cada vez mais. No entanto, nada disto impede que estimulemos a figura do coordenador do cuidado, ou que transições sejam pautadas por necessidades do sistema, jamais conveniência pura de um ou outro grupo envolvido.
Insisto que continuidade e segurança do paciente no hospital não significam APENAS ter “todos os parafusos apertados”, sendo esta uma das críticas que tenho à Acreditação Hospitalar. Nos manuais e na prática, percebe-se a necessária preocupação com “o conjunto dos parafusos”, mas pouca ou nenhuma pressão para que não sejam apertados, cada um deles, por um profissional diferente.
Dei visibilidade e relevância ao movimento brasileiro de médicos hospitalistas acreditando muito fortemente na importância da continuidade do cuidado e de sua coordenação. Trago isto em muitas de minhas manifestações, incluindo diversos textos deste mesmo Blog. Sem nunca ter negado a importância potencial de qualquer outra especialidade médica e não médica.
O Efeito Espectador na Saúde
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