Um ditado do já distante século XX diz que a primeira impressão é a que fica. Na revolução digital podemos dizer que o contrário é verdade: a última impressão é aquela que ficará em nossa mente.

A corrida pelo pioneirismo nesse começo de século é exaustiva. Afinal aquilo que é inovador hoje corre o risco de não passar de uma estrovenga em poucos anos. Quem se lembra do netbook? Do blueray? Do e-reader? Isso sem esquecer que, para complicar nossa situação, no meio dessa corrida maluca ainda continuamos tropeçando em certas bugigangas do passado que insistem em estender sua vida útil entre nós. Com toda facilidade da Netflix ainda vemos vídeo locadoras abertas nas esquinas de nossa cidade…e com seres humanos dentro!

Sim. Vivemos uma época de grandes contradições. O brilho do novo convive naturalmente com assombrações do passado que se estendem em maior ou menor grau por setores inteiros da nossa vida e também dos negócios.

O setor de saúde, como sempre, entende bem este diagnóstico, afinal ele não se tornou num dos maiores bolsões de atraso digital do mundo sem motivos.

Temos um batalhão de profissionais especializados em garantir a continuidade. Claro, trata-se de gente bem intencionada, que garante o faturamento e o funcionamento seguro das coisas. Mas não serão eles que farão a transição – com atraso – para o século XXI.

Por isso enquanto ficarmos falando apenas sobre os diferentes tipos de tendência digital, esquecendo de falar sobre os diferentes tipos de profissionais necessários para lidar com elas, muito pouco irá acontecer.

Trata-se antes de mais nada de um exercício de auto crítica. Se não nos esforçarmos a incorporar a tecnologia em nossas vidas pessoais toda vez que formos utiliza-las no trabalho, será um desastre retumbante. O bug do milênio serão as pessoas.

É fato. Basta fazermos um tour por uma empresa de saúde para constatar. Vemos coisas que não acreditávamos que existissem mais. Se pudéssemos levar um filho ou algum representante da geração millenium junto, teríamos que nos preparar para lhe prestar alguns esclarecimentos dignos de um professor de história.

Vamos ver aparelhos de fax símile e bobinas e mais bobinas de papel, numa época em que imagens são facilmente compactadas em aplicativos especializados e transmitidas por rede de dados.

Vamos presenciar conversas insólitas ao telefone, com pacientes desesperados tentando interpretar um garrancho médico para uma atendente, numa época em que existem aplicativos de vídeo conferência a rodo por aí.

Veremos centrais telefônicas pegando fogo para dar informações sobre a rede de atendimento enquanto existem formas e mais formas de entregar essa informação em tela (o que dizer dos inúteis manuais de papel?).

Veremos apresentações pesadíssimas sendo enviadas por email, enquanto existem bancos de dados gratuitos à disposição nas nuvens.

Veremos até bilhetes numa época em que existem mensageiros leves, circulares numa época onde existem grupos virtuais, malotes numa época onde nada disso realmente importa.

(se você der sorte, periga tropeçar numa máquina de datilografia, aconteceu comigo recentemente).

Enfim, a lista seria muito longa para um post…mas acho que já deu para sentir o drama…sim, chega a ser dramático.

Enquanto os gestores das nossas empresas não incorporarem à suas vidas pessoais pequenas facilidades como o Hangout, DropBox, GDrive, Vine, Instagram, Whatsapp, Twitter, dentre tantas outras, será impossível que tenham ideias sobre como incorporar isso ao seu trabalho. E nesse caso, não adianta esperar que uma agência reguladora faça a mudança.

Sim, colega gestor: a revolução digital deve acontecer primeiro dentro de você.