Há aquele dia que estamos com uma forte enxaqueca e isso nos impede de ter a produtividade de um dia normal. Também há aquele dia em que reparamos no colega ao lado, que trabalha sob forte tensão. Você até pensa “nossa, que estressado”, usando o sentido mais popular que a palavra tomou através dos anos, ou talvez aquilo desemboque em uma verdadeira crise estresse, daquelas em que o indivíduo vai parar no hospital. Muitas vezes sentimos e identificamos que nós e nossos colegas estamos doentes, mas poucas vezes avaliamos nossa responsabilidade: se estamos doentes por que vamos ao trabalho e não ao médico? Se somos doentes crônicos porque não tomamos às rédeas da nossa própria saúde e cuidamos dela? Claro que muitas vezes essa discussão pode não ser apenas uma questão de “querer”, pois esbarramos em obstáculos como acesso e recursos financeiros, mas enfatizo que a responsabilidade também é do paciente.
Por parte das empresas há também certa responsabilidade, que pode ser tanto impulsionada pelos custos arcados com o plano e seguro saúde ou pela oferta de condições minimamente saudáveis no ambiente de trabalho. Mas será que elas olham a fundo para a saúde de seus profissionais? Seus talentos vistos muitas vezes como os principais ativos da companhia? Aquele sentado em frente ao computador, todos os dias, que identificamos que está doente e numa situação clara de presenteísmo e nada é feito, ou melhor, ignorada a saúde do profissional, a ação seguinte é pedir para que ele execute mais tarefas? A análise dos casos de presenteísmo e absenteísmo dos colaboradores são altamente impactantes para as empresas, mas a saúde do colaborador ainda é vista como preocupação restrita aos custos do plano ou seguro saúde. Ora, se o custo é alto, por que não há uma efetiva política de bem?estar e cuidado da saúde dos funcionários? Por que isso parece se restringir as multinacionais que só replicam as diretrizes de seu país de origem e há poucas companhias nacionais? Essas foram algumas questões levantadas pelo IT Mídia Debate e pelo especial “Saúde Corporativa”, que você leitor encontrará nas próximas páginas. Sem dúvida alguma, a saúde dos profissionais será cada vez mais discutida pelas corporações e os representantes das empresas de saúde tem dois papéis muito claros: o primeiro, trabalhar para a saúde dos seus próprios funcionários, afinal, se a empresa “vende” saúde , deve incorporá-la também as boas práticas da organização. Segundo: atuar mais ativamente para a gestão de saúde populacional, pois você faz parte da cadeia que engloba desde aqueles que pagam a conta (as corporações), passando pelas fontes pagadoras, os prestadores de serviço e até a indústria médica e farmacêutica. Nós, os doentes, somos parte de uma população economicamente ativa e desfrutamos de um bônus demográfico, somos a maioria. Podemos ser a maioria saudável ou a maioria doente e isso está em nossas mãos como pacientes e nas mãos das empresas com seus gestores, afinal, o negócio da saúde não pode se restringir somente ao foco na doença. Se o caminho ainda for o da doença, vamos perder, pois nosso perfil populacional e demográfico nos alerta para as enfermidades crônicas, ao aumento da longevidade e, assim, a necessidade de prevenção, promoção e a gestão adequada da nossa saúde. Nós, os doentes, vamos viver mais. Quem pagará essa conta? Boa leitura!
Nós, os doentes
Edição de novembro traz especial sobre Saúde Corporativa, veja mais no editorial
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