Acaba de nascer o primeiro bebê brasileiro selecionado geneticamente em laboratório de maneira a não carregar um gene doente e de ser totalmente compatível com a irmã – que sofre de talassemia major, uma doença rara do sangue e que se não for tratada corretamente pode levar à morte. As informações são do jornal Estado de S. Paulo.

De acordo com a publicação, a criança nasceu no Hospital São Luiz para salvar a vida da irmã, que tem 5 anos e convive com transfusões sanguíneas a cada três semanas e toma uma medicação diária para reduzir o ferro no organismo desde os 5 meses.

Nos pacientes com talassemia major – a mais grave e a que realmente precisa de tratamento -, a medula óssea produz menos glóbulos vermelhos e, consequentemente, não consegue fabricar sangue na frequência necessária, podendo causar anemias graves. No Brasil, são pouco mais de 700 pessoas com a doença.

Técnica

De acordo com o jornal, a novidade, neste caso, é que além de não carregar o gene da talassemia major, o embrião selecionadotambém é 100% compatível com o da menina, o que vai facilitar a realização de um transplante de sangue de cordão umbilical.

Segundo o geneticista Ciro Dresh Martinhago, a técnica usada para identificar os genes doentes e também a possível compatibilidade é a mesma – de biologia molecular-, mas exige mais conhecimento específico no caso de analisar a compatibilidade.

De acordo com o RDO Diagnósticos, é coletada uma única célula do embrião para fazer a análise molecular. Ao todo são comparados 11 regiões do DNA da célula, sendo dois relacionados ao gene alterado e nove relacionados à compatibilidade

De acordo com o laboratório, a dificuldade técnica e a falta de profissionais experientes nessa área é um dos motivos que faz o método ser pouco usado em todo o mundo. O primeiro caso de seleção de embrião 100% compatível aconteceu em 2004, na Europa.

Decisão

Antes de decidir fazer a fertilização in vitro com o objetivo de tentar curar a filha, os pais entraram em contato com ao menos 30 médicos do Brasil e do exterior.

Na primeira tentativa, os seis embriões gerados no processo de fertilização foram descartados ou porque tinham a doença ou porque eram incompatíveis com filha. Mesmo assim, o casal não desistiu.

Na segunda tentativa, o casal conseguiu produzir dez embriões, dos quais apenas um não tinha a doença e era 100% compatível. Um segundo embrião compatível tinha apenas traços da doença (ela não se manifesta) e também foi implantado na mãe.

De acordo com o casal, até agora já foi concluído 90% do objetivo. Os 10% que ainda faltam são o transplante.

A coleta das células do cordão foi feita pela equipe do Hospital Sírio-Libanês, onde será feito o transplante. De acordo com a instituição, há outros relatos semelhantes na literatura e tem tudo para dar certo. Vamos esperar alguns meses porque se não der certo com o cordão, é possível coletar a medula do bebê.

Segundo a presidente da Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta), explica que a entidade está comemorando a conquista.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, Artur Dzik, o nascimento da criança é uma conquista.