Recursos humanos são sem dúvida um dos componentes fundamentais no segmento de tecnologia da informação (TI) para Saúde, ou e-Saúde, no que tange o desenvolvimento de soluções, planejamento de implantação, melhores práticas de operação etc. Embora haja um esforço de capacitação no País, oriundo de algumas universidades e organizações brasileiras, tanto escolas como empresas ainda não tem certeza sobre o tipo de profissional necessário para o desenvolvimento do setor.
Essa é a conclusão dos debatedores que participaram nesta terça-feira (22) do debate ?Força de trabalho e novos talentos em e-Saúde?, durante o último dia do eSaúde e PEP 2013, realizado pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) em São Paulo. Os representantes de universidades presentes reforçaram: formar mão de obra qualificada para e-Saúde não é um desafio trivial, muito embora instituições de renome ? como PUC, USP e Unifesp ? já ofereçam disciplinas e cursos de graduação e pós-graduação na área.
?Existem algumas particularidades que precisam ser melhor trabalhadas?, opinou Claudia Moro, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e integrante de um grupo de pesquisa em informática para saúde. ?Por exemplo, nos cursos de graduação em computação muito pouco se fala sobre segurança dos dados, privacidade. A saúde tem particularidades muito específicas que a maioria dos profissionais de computação não conhece.?
Para a professora, os alunos ainda estão muito distantes da informática, e nos cursos de medicina, por exemplo, esse contato ainda é raro. No entanto, conforme o Ministério da Educação aumenta a exigência de reforma dos projetos pedagógicos dos cursos das universidades, surge uma oportunidade para mudar esse quadro.
?Estamos em um momento inovador, com a proposta pedagógica de ter um curso colaborativo. Para formar um profissional de informática em saúde é preciso colaborar?, explica Cláudia Barsottini, referindo-se ao curso de especialização em informática em saúde da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em que atua como coordenadora. ?O curso foi proposto dessa forma porque a colaboração é importante. Sempre há dois lados e muitas interfaces.?
A Unifesp foi uma das primeiras universidades a incluir a disciplina de informática em saúde nos cursos de graduação. A pós-graduação, por sua vez, trabalha com o intuito de ser mais aberta, e recebe profissionais da área da saúde e de fora dela, como psicólogos, administradores, engenheiros etc. No entanto, os candidatos precisam apresentar uma carta ou autorização da chefia imediata dizendo que trabalham na área de tecnologia para saúde.
?Esta é uma área em que a formação profissional depende de uma imersão no ambiente de trabalho. A gente precisa ter a experiência de estar em uma equipe multidisciplinar?, concordou o professor responsável pela Sessão Técnica de Informática (STI) da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, Paulo Mazzoncini. ?A formação efetiva depende de uma atuação com ferramentas de TIC que vá além de trabalhar com uma visão simplesmente computacional ou olhando a solução como simples ferramenta.?
Contratação
Para o professor, a informática em saúde ainda é uma área em construção, e o mercado de trabalho é difícil de definir. Há, segundo ele, uma divisão clara entre profissionais de saúde e de informática, mas que tende a se quebrar.
?Não estamos formando adequadamente para o que o mercado quer. A USP ainda trabalha muito distante do mercado. Formamos bons professores, mas há falhas em áreas mais aplicadas?, explicou Mazzoncini. ?Temos tentado fazer um esforço para graduação, mas ela ainda é muito focada em áreas acadêmicas, aulas expositivas. Deveria ter mais tempo para focar na prática. É um trabalho difícil porque a universidade não é muito permeável a essas discussões.?
A dificuldade também decorre do próprio mercado, disse Cláudia Moro, que tem dificuldades em entender as competências dos profissionais multidisciplinares formados nos cursos de informática em saúde. ?O mundo continua exigindo caixinhas?, lamentou. ?A maioria das instituições não se prepararam para ter os egressos [dos cursos de e-Saúde]. Os CIOs não tem essa visão.?
Segundo ela, a maioria dos alunos formados pela PUC-PR são absorvidos por outras indústrias, que oferecem salários melhores, mas não aproveitam as competências desenvolvidas academicamente.
Mazzoncini concordou. Segundo ele, há dificuldade de contratar dentro das próprias universidade, citando a divisão de informática do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto. ?Mesmo dentro das instituições temos discutido muito isso. Os concursos públicos pedem perfil de analistas de sistemas quando deveriam pedir profissionais de e-Saúde?, lamentou.
?Quando existem esses profissionais o mercado de trabalho não consegue absorvê-los?, disse Cláudia Moro, que elogiou programas de certificação como o proTICS, da própria SBIS, para popularizar no mercado as competências dos profissionais de e-Saúde.