O hino do Estado de Minas Gerais tem o popular refrão de exaltação: ?Quem te conhece não esquece jamais. Oh! Minas Gerais?. Se alguns não conseguem apagá-la da memória, outros desenvolvem estratégias para conquistá-la. É o caso da Marítima Saúde, vertical de saúde do Grupo Marítima, que inaugurou em abril deste ano, uma unidade em território mineiro. O objetivo da operação é consolidar sua marca na região e fazer com que o Estado represente em três anos, 20% da carteira estimada no segmento saúde, que segundo projeção da empresa, deve chegar a 40 mil vidas seguradas e R$ 100 milhões em prêmios. De acordo com o diretor da Marítima Saúde, Eduardo Ribeiro do Valle Vidigal, a empresa já tem uma filial no Estado há mais de 30 anos, atuante no ramos de automóveis, alimentares e vida. ?Nos últimos cinco anos, essas divisões cresceram quase 400%. Aproveitando o bom momento da região e o crescimento econômico, vimos que saúde deveria fazer parte deste mercado também?. Dentro do processo de expansão da carteira, a empresa investiu aproximadamente R$ 7,5 milhões em seu novo sistema de Seguro de Saúde. ?Acreditamos que o Estado de Minas Gerais apresenta uma demanda crescente para serviços de saúde. Queremos investir para melhorar nossa rede de atendimentos e viabilizar meios, para que a população tenha acesso a um atendimento de qualidade?. Vidigal explica que a atuação da Marítima em Minas Gerais não é uma pretensão arriscada. Isso porque, de acordo com ele, algumas empresas já tem utilizado os serviços da seguradora por meio de subcontratos. Para alcançar o objetivo, a companhia pretende aumentar a agilidade na prestação de serviços, aliando isso à rapidez na remuneração e reembolso. ?Temos uma preocupação muito grande com relação à agilidade. Atualmente a burocracia é um dos principais entraves no sistema e é justamente isso que não queremos na Marítima?. Em seu planejamento de remuneração, a companhia costuma reembolsar os segurados em até cinco dias úteis nas consultas e dez dias úteis nas cirurgias eletivas. Médicos são pagos três vezes no mês. Já os laboratórios são pagos em datas específicas, conforme contrato acertado entre as partes. Além disso, para Vidigal, os empresários não querem depender de um único player no mercado de saúde suplementar. ?Hoje vários executivos estão refém de poucos fornecedores de saúde, por isso acreditamos que vamos nos consolidar no mercado mineiro?. Disputa territorial Mesmo com pretensões de trazer inovação para o local, a médica consultora da AON de Belo Horizonte, Aline Campos Magalhães, acredita que a seguradora vai precisar de um diferencial para conseguir se destacar no mercado em Minas Gerais. ?O povo mineiro é muito desconfiado e tem dificuldade em acreditar que vão ter algum tipo de benefício nas mudanças. Preferem ser tradicionalistas?. O fato de as pessoas em Minas Gerais optarem pelo convencional não é a única razão pela qual Aline acredita que a Marítima vai precisar se destacar paulatinamente no mercado. A Unimed-BH possui grande representatividade no Estado e já possui uma clientela consolidada. ?Eles têm produtos diversificados e uma população muito grande na carteira de pessoa física, que normalmente não é o foco das seguradoras?. Vidigal ressalta que a atuação da seguradora em Minas Gerais prevê o atendimento desde pequenas empresas, com o mínimo cinco vidas, até as grandes corporações com mais de dois mil funcionários. ?Eu acho a meta da Marítima ousada para Minas Gerais. Isso porque é um Estado grande e acredito que vai ser difícil eles atingirem um objetivo como esse em relação à carteira que possuem atualmente?, afirma o presidente da Unimed-BH, Helton Freitas. O diretor da Marítima Saúde diz não estar preocupado com o fato de a Unimed estar consolidada no mercado mineiro. ?A cooperativa é uma concorrente no Brasil inteiro. Temos um reembolso melhor do que a Unimed. A Marítima possui um processo de liberação mais ágil do que o deles?. Concorrência persistente Mesmo com a representatividade da Unimed-BH no mercado mineiro, a cooperativa está longe de ser isenta de concorrência. No ano de 2010, a operadora Amil passou a fazer parte do setor de saúde suplementar de Minas Gerais. Seis meses após sua inauguração no mercado, a representatividade da operadora no Estado ainda era incipiente. No entanto, a operadora vem conseguindo conquistar seu espaço no local. ?A Amil teve um lançamento precipitado, mas vem conquistando grandes empresas?, diz Aline. Freitas diz que a Amil é uma concorrente de peso e tem se tornado cada vez mais relevante do ponto de vista mercadológico. ?A operadora conseguiu ampliar sua carteira em 30% no ano passado. À medida que crescem se tornam mais competitivos, o que faz com que a Unimed-BH tenha mais atenção no monitoramento?. Por mais que Freitas veja a Amil como uma concorrente direta, Aline acredita que a operadora não concorre diretamente com a Unimed. ?O foco da Amil está voltado para as faixas de renda A e B. Já as ações da Unimed-BH são direcionadas para as classes C, D e E ?. Para ela, a Amil veio para fazer concorrência com a Bradesco Seguros e Sul América. Gargalos mineiros Para a médica consultora, se a Marítima quiser ganhar espaço em Minas Gerais vai precisar direcionar sua atuação para um nicho de mercado pouco explorado que é o de pessoa física. ?Para fazer um plano, as opções são mínimas ou as operadoras muito pequenas?. Além disso, Aline conta que a saúde pública no mercado mineiro deixa muito a desejar. ?O setor público aqui não atende de maneira adequada. As pessoas adquirem os planos de saúde para terem acesso a um tratamento um pouco melhor?. A falta de leitos nos hospitais também é um fator apontado por Aline. Ela diz que a Unimed está com uma rede bastante esgotada. ?A cooperativa está construindo novos hospitais. Estamos com déficit de leitos em Belo Horizonte?. Freitas concorda com Aline e diz que quem, de fato, quiser entrar em Belo Horizonte tem que investir na reestruturação de serviços, por mais que isso torne os investimentos mais custosos. O diretor da Marítima finaliza ao dizer que a empresa vai ficar atenta às necessidades do mercado para supri-las. Por hora, a seguradora está investindo na parte tecnológica, com um centro compartilhado de serviços. ?Investimos mais de R$350milhões, além da parte financeira e tecnológica. Estamos trabalhando na implantação de processos integrados e liquidação de sinistros para sermos mais competitivos nos próximos quatro anos?.