Entre os dias 31 de maio a 4 de junho, em Chicago (EUA), foram apresentados novos tratamentos para doenças oncológicas durante o Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO), que reuniu mais de 30 mil médicos.
O melanoma, tipo mais agressivo de câncer de pele, ficou em evidência devido a um estudo com 245 pacientes em que os pesquisadores confirmaram que ao adicionar um estimulante imunológico, chamado GM-CSF (sigla em inglês para estimulador de colônica macrófago-granulócito) ao tratamento com a droga Ipilumimab (substância do Yervoy, droga aprovada recentemente no Brasil) – aumenta a efetividade do tratamento.
Outro remédio mostrou resultados muito encorajadores quando comparados aos dados históricos do melanoma previamente já tratados. Pesquisadores também descreveram que o Selumetinibe, comparado a quimioterapia, aumenta a sobrevida de pacientes com melanoma ocular.
Para o oncologista do Instituto do Câncer Mãe de Deus e membro da American Society of Clinical Oncology, Stephen Stefani, estes avanços são muito promissores no sentido de que, após quase uma década sem novidades importantes, alternativas sofisticadas começaram a mostrar resultados. De acordo com ele, para o uso rotineiro na prática clínica assistencial ainda são necessárias algumas etapas de discussão científica, mas, cada vez mais rapidamente, devem fazer parte do arsenal terapêutico desta doença.
No Brasil, o melanoma corresponde a 4% de todos os tumores malignos de pele, porém, é responsável por 75% dos óbitos decorrentes da doença. E, nos últimos 20 anos, o número de casos triplicou em mulheres e duplicou em homens. De acordo com a Sociedade Americana de Câncer, a taxa de mortalidade por cem mil habitantes nos últimos 30 anos apresentou um aumento de 120% nos homens e 48% nas mulheres. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que anualmente ocorram cerca de 130 mil casos novos desse tipo de câncer no mundo, com maior incidência entre a população de pele branca.
?Apesar dos resultados serem preliminares, a comunidade científica parece ter descoberto como ?alertar e estimular? o sistema imunológico a combater esta doença que tanto preocupa a sociedade?, afirma Stefani.
Câncer do Pulmão
Novas moléculas de uso oral podem reduzir a progressão de alguns tipos de câncer de pulmão mais do que quimioterapia tradicional.
Estudo com 347 pacientes com câncer de pulmão avançado – especificamente um grupo com uma alteração no gene ALK – que receberam o medicamento crizotinibe tiveram 65% de redução do tumor, mais que o triplo do que o grupo que recebeu quimioterapia. O tempo de resposta também foi maior, quase 8 meses comparado com 3 meses.
Comentário Dr. Stephen: O estudo aponta para algumas tendências da oncologia moderna, com uso de drogas orais especificamente reservadas para grupos com determinadas características genéticas, personalizando a tomada de decisão médica
Câncer de Rim e de Fígado
Droga usada em câncer de rim e fígado tem atividade em câncer de tireóide.
Após 40 anos sem drogas aprovadas para tratamento de câncer de tireóide, o sorafenibe (Nexavar, droga usada em câncer de rim e de fígado) mostrou atividade nesta doença. Apesar de taxa de resposta pequena, 12% dos pacientes que usaram o remédio tiveram redução do câncer, os resultados animaram pesquisadores que observaram somente 1% de resposta em pacientes que não usaram o remédio.
Comentário Dr. Stephen: Drogas de uso oral tem sido cada vez mais presentes e, já no próximo ano, farão parte do arsenal dos pacientes com plano de saúde. O custo elevado deve limitar o acesso aos remédios para pacientes que dependem do SUS. Mais importante do que os resultados objetivos, é o conceito de haver uma direção que pode trazer resultados em uma doença muito carente de opções.
Câncer de Ovário
Nova droga em câncer de ovário é debatida no Congresso Americano de Oncologia, em Chicago.
O Pazopanibe (Votriente, comprimido aprovado no Brasil para tratamento do câncer de rim) foi avaliado em 940 pacientes com câncer de ovário. A progressão da doença em pacientes que usaram o medicamento foi, em média, após quase 18 meses, comparado com 12,3 meses de quem usou placebo.
Comentário Dr. Stephen: Apesar de ser medicamento oral, cabe mencionar que se trata de quimioterapia da mesma forma. Neste sentido, a recomendação de utilização – se houver aprovação dos órgãos regulatórios no futuro – deve ser rigorosamente debatida com paciente e supervisionada por especialista. Neste estudo, 1 em cada 4 pacientes experimentaram efeitos colaterais.
Câncer de Colo de Útero
Uso de Vinagre no exame ginecológico pode ajudar a reduzir mortes pode câncer de colo de útero. Estudo realizado por 15 anos na India, apresentado em destaque na ASCO, utilizando um esfegaço com vinagre e uma lâmpada mostrou ser uma estratégia de baixo custo para detecção precoce e redução de mortes por câncer de colo de útero. Dr. Ted Trible, do National Cancer Instituto (NCI) descreveu resultados, com entusiasmo, uma vez que as estimativas apontam para potencial de mais de 70 mil vidas salvas a cada ano com esta estratégia. O exame tradicional de triagem é o raspado de colo de útero – o Papanicolau – pode ser restrito em países de baixa renda como India.
Comentário Dr. Stephen: Estratégias de baixo custo e impacto tão importante merecem atenção, especialmente em países com baixa renda e uma prevalência alta de uma doença completamente curável quando identificada precocemente.
Câncer de mama
Tamoxifeno por tempo prolongado reduz risco de câncer de mama.
O medicamento amplamente usado na prevenção de recaída para pacientes que tiveram câncer de mama, especificamente aquelas com tumores relacionados a hormonios, é recomendado de maneira geral por 5 anos após cirurgia do câncer. Estudo de grande porte apresentado em Chicago sugere que o uso por 10 anos pode beneficiar ainda mais as pacientes. O risco de recaída foi 30% menor. A presidente da American Society of Clinica Oncology (ASCO), Dra. Sandra Swain chamou a atenção para importância deste estudo durante o evento: “os dados são importantíssimos e devem ser discutidos com atenção”.
Comentário Dr. Stephen: Estes dados vem corroborar outro estudo que aponta na mesma direção. Análise cuidadosa do ganho absoluto é fundamental para equacionar de forma adequada a relação de risco e benefício