Diversos desafios e novos conceitos têm sido propostos ao setor de Saúde e, consequentemente, à Medicina Laboratorial nos últimos anos, colocando este mercado em constante e acelerada transformação.
O aumento dos custos do setor, em virtude do envelhecimento da população e da incorporação de tecnologia, associado ao modelo assistencial centrado na doença, e não na prevenção, e ainda a remuneração por procedimentos ao invés do pagamento por performance, entre outros, têm levado a uma grande dificuldade de financiamento dos serviços médicos em geral.
A constante pressão por redução nos custos, a necessidade de operações com alta produtividade e a grande competitividade do mercado fizeram com que inúmeras ferramentas de gestão, advindas de diferentes setores de produção, passassem a ser aplicadas dentro dos laboratórios.
Entre essas está o Lean Thinking, ou Mentalidade Enxuta, cuja filosofia gerencial tem como principal foco o cliente e o que ele enxerga como valor no produto ou serviço que quer adquirir.
Desenvolvida pela empresa automobilística japonesa Toyota, o Lean, também conhecido como Sistema Toyota de Produção, baseia-se na busca contínua da perfeição por meio da eliminação dos desperdícios presentes em virtualmente todos os processos que não geram Valor ao cliente. Sua forte abrangência e disseminação por diferentes setores deram-se principalmente após a publicação, em 1996, do livro “Mentalidade Enxuta”, por Womack e Jones.
O Lean, segundo Taichii Ono, vice-presidente da Toyota, pode ser demonstrado através de cinco princípios, sete categorias de desperdícios e por seus pilares de gestão. Os princípios que suportam esta filosofia de negócio são: Valor – definido pelo cliente e por sua expectativa; Fluxo de Valor – mapeamento e distribuição das atividades que geram Valor; Fluxo Contínuo – criação de processos alinhados e com fluidez para a geração do Valor; Produção Puxada – o cliente determina o ritmo da produção e a Perfeição – busca constante pelo aperfeiçoamento da empresa.
Os desperdícios da cadeia produtiva são: Superprodução – produção maior do que o mercado pode absorver; Movimentação – deslocamentos excessivos; Espera – de pessoas, produtos ou atividades, por não estarem alinhadas às atividades relacionadas; Transporte – não visto como valor pelo cliente; Estoque – capital em espera; Processamento desnecessário – atividades em excesso e não alinhadas com a produção puxada e, finalmente; Correções – necessidade de novas atividades por geração de erros no fluxo produtivo – “não fazer certo pela primeira vez”.
Na construção de uma produção baseada nos princípios do Sistema Toyota de Produção, dois importantes pilares sustentam todo o modelo de gestão, são eles a o Just -in- time e o Jidoka.
O Just-in-time, considerado por muito tempo como sinônimo do sistema Lean, faz com que a empresa produza ou disponibilize para seus clientes apenas aquilo que for necessário, no momento e local onde houver esta necessidade, e ainda, na quantidade certa.
Já o pilar Jidoka trata da detecção de defeitos durante a produção ou atividades, por operadores auxiliados por máquinas e em tempo real. Esta abordagem necessita da utilização de dispositivos inteligentes que permitem uma produção à prova de erros, denominado pelos japoneses de poka-yoke.
Alinhado e no centro dos pilares do sistema estão, as pessoas, fundamentais na busca por melhorias, na manutenção de todo o processo e na utilização das diferentes ferramentas operacionais de suporte à implementação do Lean.
Como principais objetivos do Lean estão a diminuição do tempo total de processamento (lead time), a redução dos custos relacionados a produção, o aumento da produtividade, a qualidade e, finalmente, a percepção e entrega de Valor ao cliente e a maior satisfação das pessoas envolvidas no processo.
Inúmeros artigos publicados demonstram os benefícios do Lean quando aplicados em Medicina Laboratorial, como por exemplo, Novis, D. e Konstantakos, G. demonstram a redução de erros nos processos laboratoriais (1); Persoon, T. et al. abordam redução do tempo de processamento e aumento da produtividade nos processos (2); já Melanson et al. comprovam uma maior satisfação do cliente no momento da coleta (3) e Joseph T a diminuição da movimentação e espaço necessário, aumento de produtividade e ganhos de eficiência nos processos de 60% com redução de desperdícios (4). Esta ferramenta é considerada hoje como uma tendência na Medicina Laboratorial na busca pela excelência operacional (5).
Referências
1. AM J Clin Pathol 2006; 126:S30-S35),
2. AM J Clin Pathol 2006; 125:16-25
3. AM J Clin Pathol 2009; 132:914-919)
4. Med lab Observer – Fevereiro 2006
5. Clinical Chemistry 2007, 53:10
*Sócios da Formato Clínico – Projetos em Medicina Diagnóstica
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