Longe do falso discurso verde, próximo do compromisso com a sustentabilidade do negócio e da construção de um legado, uma nova liderança está nascendo também no mercado de saúde. A complexidade dos ambientes de negócios desde a década de 1990 mudou a perspectiva de estudos e modelos de liderança e gestão, e colocou a construção social em primeiro plano. Com isso, a compreensão dos mecanismos da economia global e os impactos locais, culturais e ambientais caracteriza o líder globalmente responsável.,13,Este é o tema do Saúde Business Forum 2011,  de 21 a 25 de setembro, na Praia do Forte, na Bahia, com a presença de 150 das principais lideranças de hospitais, operadoras, cooperativas, centros de diagnósticos e secretarias de saúde, com poder de decisão econômica e estratégica na realização de negócios.,13,Pois no mundo da saúde, esse tipo de líder navega por um mercado competitivo, de contextos globais, marcos regulatórios, morosidade das agências, carga tributária entre outras barreiras. ,13,O conceito  não é novo, surgiu em 2004 com a The Globally Responsible Leadership Initiative (GRLI), a primeira experiência das Nações Unidas a reunir teoria e prática, com escolas de negócios e empresas voltadas a definir parâmetros e metodologia para a formação de uma nova liderança empresarial no mundo. A empreitada veio no bojo das repercussões negativas de crimes ambientais de impacto social como a que enfrentou a indústria farmacêutica norte-americana ao recusar-se a assinar, até 1993, um termo de compromisso do World Resource Institute, aprovado pelas Nações Unidas, pela preservação da biodiversidade.,13,Outro caso emblemático a ilustrar os impactos sociais foi o da Nike que enfrentou a revolta dos usuários na década de 1990 por contratar fornecedores que usavam mão de obra escrava, contratempo enfrentado também pela rede de lojas Zara, atualmente. ,13,Assim, os reflexos sociais vêm sendo cada vez mais considerados no contexto de responsabilidade global das lideranças nas organizações. ?O líder pensa e age de modo global, com visão da interconexão de seus negócios. Amplia o propósito corporativo, presta contas a sociedade, não visa o lucro imediato, pois considera o que isso implica. Tem a ética como cerne de suas ações e compromete-se com a educação de seus colaboradores e a formação responsável e sustentável de seus executivos?, define o coordenador de projetos da Escola de Administração da FGV, Rogério Figueiredo Strumpf.,13,Já na década de 1980 seu perfil era defendido pelo norte-americano Bill Drayton, fundador do Instituto Ashoka, entidade que identifica e financia empreendedores com ideias inovadoras de impacto social em 70 países. ?Os líderes globais têm ideias transformadoras e sabem como implementá-las para mudar uma realidade social. Ele tem fibra ética, é carismático e, acima de qualquer coisa, atrai a comunidade, o setor privado e público para atuar com ele?, pontua a diretora da entidade no Brasil, Monica de Roure.,13,O instituto observa os líderes nas áreas de desenvolvimento econômico, saúde, direitos humanos, educação, meio ambiente e participação cidadã e Monica cita como exemplo brasileiro o de Wellington Nogueira, diretor do Doutores da Alegria, cuja iniciativa está presente em 13 hospitais do País e tornou-se referência mundial. ?Ele forma parceiros que seguem seu exemplo. Já identificamos no Brasil 340 desses líderes que conquistam seguidores. Eles estão no setor privado, social e público e são lideranças globais que podem mudar o mundo?.,13,Recentemente, o instituto Ashoka fechou parceria com a farmacêutica de capital nacional Boehringer Ingelheim para o projeto Mais Saúde, que financiará líderes empreendedores em saúde.,13,Afinal, o tema não só atende aos interesses da companhia como está na pauta social. Uma pesquisa realizada pela consultoria Edelman com 13 mil pessoas, de 11 países, em 2010, revelou que a maioria (70%) valoriza empresas que investem em saúde e meio ambiente, sendo que, 65% dos entrevistados comprariam produtos de empresas com essa preocupação.,13,Na iniciativa privada, o professor da Fundação Getúlio Vargas, sócio da Amrop Panelli Motta Cabrera de Executive Search e keynote speaker do Saúde Business Forum 2011, Luiz Carlos Cabrera afirma que o líder globalmente responsável sabe analisar as prioridades da empresa e alinhá-las em benefício de sua cadeia de negócios e da comunidade.,13,E no setor de saúde é onde ele mais se destaca já que, ao lado da educação, o setor é considerado emergente no mundo. ?Por décadas, os negócios nesses setores foram administrados por seus profissionais, professores e médicos. Quando o desafio do crescimento, da tecnologia, de TI começou a ficar extremamente acelerado, essas organizações tiveram de modernizar suas gestões e seus líderes naturais, que dependiam de carisma, foram substituídos pelos globalmente responsáveis. Isso aconteceu independente do tamanho do hospital, da clínica e dos prestadores de serviço?.,13,Para ele, um diferencial do líder dentro desta ótica multidisciplinar é sua capacidade de construir valor à organização além das metas monetárias. ?A atuação no plano econômico continua sendo atributo importante da liderança, mas ele deve atuar no âmbito social, cultural e ambiental. No social, ajudando no desenvolvimento das pessoas a sua volta. No cultural, como zelador e divulgador dos valores da organização e das pessoas, do conjunto dos indivíduos na comunidade, fornecedores e clientes. O quarto eixo é ambiental. Ele atua preocupado se, de alguma forma, prejudicará a biodiversidade?.,13,Conquista de mercados, oportunidades de expansão de negócios, construção de parcerias estratégicas e filantropia são preocupações comuns dos líderes globalmente responsáveis, sendo que no último tema, o retorno é visto sob a perspectiva moral, de aceitação social e legado futuro. E há uma forte ligação entre como eles administram os negócios e suas empreitadas filantrópicas, de acordo com os jornalistas Matthew Bishop e Michal Green, em constações no livro Philanthrocapitalism.,13,Habilidades,13,Na análise do professor Cabrera, o conjunto de responsabilidades desse novo líder exige habilidades específicas. ?No aspecto econômico, ele tem de saber como equilibrar o interesse dos acionistas e o social, do corpo de colaboradores, e dos stakeholders. Atua com competência, não porque o lucro seja o principal objetivo, mas é uma premissa, e com habilidade e determinação entrega resultados, inclusive na relação estratégica da empresa. Os outros atributos são os de relacionamento com as pessoas, que evoca habilidades como estar disponível, saber ouvir, opinar, elogiar e perdoar?.,13,Do lado dos valores, o consultor defende a compreensão de como mobilizar as pessoas a compartilharem os valores. ?O que fixa um indivíduo na empresa não é a simples relação de emprego, mas é a identidade com a causa da empresa?.,13,Nesse sentido, a pesquisadora do programa de pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina, Angela Maria Fleury de Oliveira, identificou que, num processo de responsabilidade social empresarial, a liderança exerce vários papéis na comunicação: ?ganha os atributos da transparência, da honestidade de propósitos, da integridade. Sem eles, não é possível gerar confiança e credibilidade nas relações e, assim, poder ?fazer junto?, para solucionar os problemas complexos?, afirma em estudo realizado com várias lideranças.,13,Métricas,13,Organizações com processos de melhoria instalados não são as únicas capazes de destacar líderes globalmente responsáveis. ?Não vejo uma relação direta entre esses esforços e a presença da liderança responsável, que está associada à satisfação que evoca?.,13,Sob uma ótica global, cabe a esse líder equalizar uma agenda positiva que englobe um mapa de materialidade da empresa e suas contribuições específicas em termos de sustentabilidade. Relatórios internacionais como o PNUD contribuem com a avaliação de desafios sustentáveis mais ou menos importantes para a empresa e o País, sendo necessário assumir investimentos ou esforços de coordenação ou de alianças estratégicas.,13,A Fundação Dom Cabral, por exemplo, sugere uma matriz de posicionamento que baliza as ações desse tipo de líder. A ferramenta avalia três dimensões da liderança globalmente responsável, classificadas como Elementar, Comprometido e Transformador e o estágio de desenvolvimento da empresa em cada uma.,13,Perspectivas,13,Cabrera diz que as métricas para mensurar a efetividade desse tipo de liderança são de nível de satisfação dos clientes, colaboradores, mercado e na imagem que a empresa reforça na comunidade. ?Porque o desgaste de uma empresa por não se colocar numa questão ambiental adequadamente é grande, da mesma maneira quando trata mal os clientes?.,13,E esse nível é medido de várias formas. ?O valor da ação de uma organização mede a satisfação com seus produtos. Mas isso não basta. Tem ainda a sua capacidade de atrair clientes, fornecedores, de ser respeitada e admirada?.,13,No Hospital Santa Paula, em São Paulo, por exemplo, a admiração foi atingida via engajamento dos stakeholders, como conta a diretora de marketing Paula Gallo, apontada como uma liderança dentro da instituição. ?A mudança de cultura mexeu nos costumes das pessoas, e a direção optou por envolvê-las em todos os projetos com metas e gincanas. Nos dois últimos projetos, lançados esse ano, a campanha envolveu até os familiares dos colaboradores para inserir o valor na cultura?.,13,E a conscientização extrapola as paredes do hospital com o projeto Família Feliz com a Gente. ?Enviamos até as revistas à casa dos colaboradores do hospital, com informações sobre reciclagem e até oportunidades de renda para os membros de sua família?.,13,Este ano, o hospital venceu o 10º Marketing Best Sustentabilidade pelos cases Bosque Sustentável e Embalagem Sustentável. O primeiro é fruto de um estudo de mais de um ano sobre toda a emissão de carbono e os efeitos da operação do Santa Paula para o meio ambiente e a decisão do plantio de mais de mil árvores para a compensação de carbono em um ano. O segundo é a substituição das garrafas PETs de plástico por embalagens Tetra Pak para minimizar os efeitos causados pelo lixo no hospital.,13,Distinções,13,O professor Cabrera esclarece que a associação do termo sustentabilidade com liderança responsável é natural. ?Se dá porque uma ação sustentável é boa para hoje e o futuro, para as pessoas e para o ambiente?.,13,Coordenador de projetos da Escola de Administração da FGV, Rogério Figueiredo Strumpf diz que a associação dos termos existe devido o conceito original de desenvolvimento sustentável, usado de forma errônea de 1998 para cá, e cuja definição por si só já gera discussão. ?É centrada no tripé sociedade, meio ambiente e economia, enquanto a liderança globalmente responsável vai além. Envolve ética, lógica, estética e cultura?.,13,Autor do livro Líderes Sustentáveis, com depoimentos de 10 executivos e presidentes de grandes companhias que identifica quem são e como pensam e agem, Ricardo Voltolini diz que são pessoas cujos drivers de decisões são as virtudes e valores de sustentabilidade. ?Eles praticam esses conceitos cotidianamente em seus atos e escolhas. Preocupam-se com a coerência do que dizem e fazem, como fundamental para mudar sistemas, modelos e estratégias e tem coragem para isso?.,13,São líderes com uma compreensão maior que a média da lógica da interdependência entre os sistemas produtivos e o social e acreditam que o melhor lucro da empresa vem da conjugação dos resultados ambientais e empresariais, numa orientação sistêmica, tratam do todo, que são fragmentos para muitos líderes?.,13,Outra característica para Voltolini é ver a sustentabilidade na ótica de oportunidade e não de risco. ?Esses líderes colocam o tema numa visão propositiva e abrem as perspectivas da empresa nesse sentido?.,13,Em movimento,13,Há 12 anos como executivo da GE, o CEO e presidente da unidade Healthcare Latin America, Rogério Patrus é um dos protagonistas da indústria da saúde orientados pelos conceitos de Liderança Globalmente Responsável. ?É preciso ética nos negócios, pois é mais importante para a companhia manter seus valores e deixamos isso claro para nossa equipe?, garante.,13,Ele busca a adesão do time estabelecendo vínculos pessoais, além dos profissionais. ?Entendendo cada membro, sendo flexível como o momento de vida de cada um deles?, detalha.,13,Recentemente, o escritório de São Paulo da GE foi certificado como Health Ahead, um movimento pela qualidade de vida dos funcionários. ?No México, eles celebraram a perda de 3,70 metros de cintura. No Brasil, foi a metade. Me preocupo com o bem-estar de profissionais motivados e saudáveis?.,13,Visão global e holística que, da mesma forma, baliza as operações mundiais da companhia. ?Somos em 190 líderes. Officers que exercem essa liderança e somos medidos por nossa atitude e normas de conduta. Assinamos um documento para agir 100% em compliance de acordo com o código de conduta da GE?.,13,E dentro desse contexto, a preocupação com sustentabilidade e seus pilares é a mesma nas ações nos Estados Unidos e América Latina. ?O board trata as sete regiões da mesma forma para a tomada de decisões. Customizando as soluções e entendendo as necessidades da comunidade local. É fundamental essa conectividade global para melhorar a qualidade de serviços à população?, conta Patrus que, em setembro, fará uma palestra nos EUA para o grupo de diversidade da GE sobre liderança globalmente responsável.,13,*Você está participando do Referências da Saúde? Ainda não? Para entrar no estudo que engloba todos os players do setor, basta enviar e-mail para: [email protected]