Companheira de Brad Pitt, embaixadora das Nações Unidas, mãe de seis filhos ? sendo três adotivos, e primeiro lugar na lista das celebridades mais influentes do mundo pela revista Forbes. Angelina Jolie está sempre em exposição. E, como não poderia deixar de ser, a atriz ganhou a capa dos principais semanários do mundo ao fazer uma mastectomia preventiva onde, segundo os médicos, a decisão de retirar as mamas reduziu de 87% para 5% as chances de ter um câncer no local.
A iniciativa partiu do resultado das análises dos genes BRCA1 e BRCA2. Em condições normais, eles ajudam na estabilidade do material genético; quando sofrem mutações, porém, aumentam os riscos da paciente desenvolver cânceres de mama e de ovário. O exame, portanto, não se trata de um diagnóstico, mas sim de uma probabilidade, e ainda é indicado apenas para quem tem um histórico familiar forte de incidência da doença. Pelo tamanho da repercussão internacional do caso de Angelina Jolie ? que se enquadra nesse perfil -, o assunto também impactou o segmento no Brasil.
?A procura por esse exame aumentou muito, mas não é indicado para todos, por isso precisamos orientar as pessoas. Na nossa clínica, eu diria que triplicou o número de pacientes procurando por isso, mas só entre 30% e 40% acabam realizando o exame. Claro que a posição final é do paciente e do médico, mas nossa parte técnica de geneticistas e especialistas em oncologia precisam passar essa orientação?, explica o diretor de apoio laboratorial do Hermes Pardini, Alessandro Ferreira, que ainda revela que dentro da empresa a área de genética tem crescido 40% ao ano e cada vez mais representa uma parcela relevante do faturamento da companhia.
Ferreira aponta ainda um certo desconhecimento do mercado em relação a custos e aplicações de exames que pesquisam mutações genéticas. Segundo ele, o laboratório mineiro faz um constante trabalho de apresentação de técnicas disponíveis para difundir os serviços. ?Temos recebidos contatos de várias operadoras (diversos procedimentos ainda não são cobertos) que marcam reuniões científicas, palestras, e querem entender a utilidade, principalmente nas áreas de oncologia e cardiologia?.
Percebendo esse caminho, o Pardini está oferecendo o PreventCode, um teste genético preventivo e rápido que mostra as chances do desenvolvimento de determinadas doenças, como diabetes tipo 2, obesidade e, claro, cânceres e problemas cardiovasculares.
?Como ele não dá um diagnóstico, a gente faz um relatório que diz para o médico: olha só, é bom ter um cuidado aqui, outro ali. Às vezes o paciente tem tendência a ter obesidade e então você pode fazer uma alteração na alimentação da pessoa ? neste caso, está sendo muito bem visto por nutrólogos e nutricionistas?, conta Mariano Zalis, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Progenética Hermes Pardini.
Os exames do PreventCode variam entre R$ 900 e R$ 2,5 mil. Para Zalis, as operadoras de saúde ainda não o enxergam como algo que irá entrar no rol de cobertura, já que ainda é feito num conceito de prevenção. ?Tem ainda uma questão ética de começar a mostrar a possibilidade de ter qualquer doença ou não, já que diz respeito a uma coisa muito privativa, de mudança de hábito, alimentação, de tomar cuidados?, completa.
Custos e gargalos
A tecnologia para tais tipos de exames não é barata, mas os especialistas ouvidos pela reportagem mostraram otimismo em relação à queda dos custos e acessibilidade aos serviços. ?Se a gente comparar, o primeiro sequenciamento do genoma humano custou US$ 1 bilhão, e hoje você conseguiria fazer nas mesmas condições com uns US$ 10 mil. Os exames variam muito, vão de R$ 1 mil a R$ 15 mil, porque depende do tamanho da amostra que você quer mensurar. Mas, de forma geral, tivemos uma queda de 40% nos preços nos últimos dois anos?, diz o diretor executivo de desenvolvimento de negócios do laboratório DLE, Gustavo Campana.
Sobre a cobertura dos planos de saúde, ele acredita que aos poucos os exames vão entrando no rol – ?por exemplo, se o paciente tem uma doença ainda sem diagnóstico e todas as possibilidades foram esgotadas, então ele é encaminhado para um teste genético?, diz -, até porque todo esse pacote de exames complexos, que envolvem genética e biologia molecular, cresce numa proporção muito maior que os convencionais.
?Eu diria que existe uma demanda reprimida no País. Hoje, no caso da DLE, o teste genético é o principal foco do crescimento da empresa e em dois anos deve se tornar a principal receita. Claro que ainda há gargalos no desconhecimento de algumas patologias, mas se conversarmos daqui um ano teremos muito mais testes possíveis, com certeza?, vislumbra.
Outra questão é a da mão de obra qualificada, como aponta a especialista em genética do Centro de Diagnósticos Brasil, Camila Guindalini. ?Temos um exame cariótipo, feito na pediatria que inclusive o SUS já cobre, mas é extremamente manual e depende de um citogeneticista, profissional extremamente raro. Então às vezes temos de trazer uma pessoa para que forme outros. O preço que pagamos por tecnologia é um problema sério, claro, mas temos também essa questão da formação de especialistas?.
Estética e genética
Teoricamente, uma mastectomia preventiva torna mais fácil a reconstrução dos seios por cirurgia plástica, já que, como ela toma o mesmo procedimento para ambas as mamas, é menos complicado garantir a simetria em comparação a casos em que a mulher tira apenas um quadrante da mama, por exemplo. De acordo com o cirurgião plástico Leonardo Aguiar, o custo do mapeamento genético vem caindo e tem gente nos EUA e na Europa que acredita que em dez anos metade da população mundial vai ter os genes sequenciados ao menos uma vez. ?Então quando isso se torna mais comum e a Angelina Jolie mostra que baseada em exames e decisões médicas ela retira o símbolo da feminilidade, o cirurgião plástico precisa estar atento para caminhar ao lado com a reconstrução em prótese. Agora não é mais o médico que é dono da saúde do paciente. É o paciente que tem poder sobre a própria saúde, e isso é uma quebra de paradigma que precisamos estar atentos?, pontua o médico, que recentemente participou da Futuremed, capacitação promovida pela Nasa sobre alta tecnologia na medicina.