A evolução das tecnologias de ablação é um dos destaques da Jornada Paulista de Radiologia (JPR 2024), que começou no dia 2 de maio, no Transamérica Expo Center, e ocorre até o dia 5 de maio. Organizado pela ela Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), o evento recebe a 6ª Jornada de Radiologia Intervencionista, que trouxe tecnologias ablativas disponíveis atualmente, como radiofrequência, micro-ondas, crioterapia, eletroporação irreversível e eletroquimioterapia. 

Mas qual o método ideal? A ablação ideal, portanto, é aquela que está disponível, que pode ser executada com segurança e indicada para o paciente certo, segundo Priscila Silva, médica radiologista intervencionista, preceptora da Residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE). 

É necessário avaliar a tecnologia disponível, se os profissionais médicos e operadores dominam a técnica selecionada, a biologia da doença e as condições de saúde do paciente.  

Técnicas de ablação 

Saiba como cada abordagem funciona, os principais benefícios e indicações:

Radiofrequência

A radiofrequência, desenvolvida nos anos 1990, é a tecnologia de ablação mais difundida, com crescente adoção no Brasil, especialmente nos últimos 15 anos. Esta técnica envolve uma ablação térmica, na qual o tumor é aquecido a temperaturas acima de 50 graus, resultando na necrose coagulativa, sem ultrapassar 100 graus. É indicada principalmente para casos selecionados de pacientes com hepatocarcinoma, nódulos pulmonares, renais e de tireoide, além de tumores malignos de tireoide e miomas uterinos. 

“Quando os pacientes são cuidadosamente selecionados, com doença localizada, a radiofrequência é adotada com intenção curativa, não apenas paliativa”, enfatiza Priscila. 

Micro-ondas

Na ablação por micro-ondas, assim como na radiofrequência, uma lesão térmica é induzida no tumor. Isso é feito por meio de um gerador que produz um campo magnético, aumentando a temperatura no tecido e resultando em necrose coagulativa. Comparativamente, na radiofrequência, ocorre aquecimento dos tecidos em contato ou próximos à ponta ativa, enquanto na ablação por micro-ondas, o tecido circundante é aquecido ativamente e simultaneamente, com distribuição homogênea.  

Entre os benfícios, está o menor tempo de procedimento, menor uso de sedativos, maior área ablada, uso de soro fisiológico para hidrodissecção e maior previsibilidade da área de ablação. As principais indicações são para casos selecionados de tumores malignos de fígado, câncer de rim e pulmão, osteoma osteoide, tumores suprarrenais, linfonodos, tumores ósseos e mamários, miomas, tireoide e paratireoide. 

Crioablação

Na crioblação, o calor é substituído pelo resfriamento, sendo adotado por meio de baixas temperaturas em ciclo de congelamento e descongelamento, utilizando-se argônio. Nesta técnica, o gás é comprimido, com a ponta da agulha sendo resfriada, gerando uma bola de gelo que causa a morte celular por meio da ruptura da membrana celular, dano microvascular, ativação de apoptose por processos imunobiológicos e descongelamento. 

Entre as vantagens, destaca-se o melhor controle e planejamento da área ablada e das margens de segurança, menor lesão de tecidos adjacentes, menos dor e possibilidade de repetição. As principais indicações incluem casos selecionados de metástases ósseas, tumor desmoide, câncer de pulmão e endometriose. Estudos clínicos estão em andamento para avaliar o uso da tecnologia em câncer de fígado, próstata, rim, pele e mama. 

Eletroporação irreversível

Nesta técnica, todas as células na região ablada são mortas, preservando as estruturas da matriz extracelular, vasos, vias biliares, intestino e sistema coletor. É indicada para casos selecionados de lesões hepáticas primárias e secundárias de localização central, carcinoma pancreático localmente avançado, tumores renais de localização central e tumores de próstata. 

“A eletroporação irreversível é mais uma opção no arsenal de radiologia intervencionista. Não utiliza energia térmica e é uma alternativa para casos não operáveis e não candidatos a terapias ablativas térmicas. Por meio dela, é possível personalizar a zona ablada, com segurança, próxima aos vasos e vias biliares”, explica Priscila. 

Eletroporação reversível

Por fim, não menos importante, a eletroporação reversível adiciona a injeção de substâncias. Consiste na aplicação de pulsos elétricos curtos e de alta voltagem, resultando em maior concentração de substâncias citotóxicas. Seus mecanismos de ação incluem o aumento da contração intracelular, vasoconstrição e indução de resposta imune.  

É aplicada em casos selecionados de malignidade da pele e subcutâneo, incluindo melanoma, metástases e lesões sangrantes. Estudos estão em andamento para avaliar seu papel em tumores de cabeça e pescoço, fígado e pâncreas, bem como em metástases ósseas dolorosas.