Com o filme Metropolis de 1926 surge no imaginário popular a primeira ideia de uma inteligência artificial (“IA”) com poder de controlar e destruir a humanidade. Contudo, somente após o caos gerado pela 2ª. Guerra Mundial, um matemático (Walter Pitts) e um psiquiatra (Warren McCulloch) se reuniram para descrever o primeiro modelo artificial de um neurônio biológico no artigo “A Logical Calculus of the Ideas Immanet in Nervous Activity” de 1943. Neste estudo, o modelo descrito é formado por um vetor de entradas e sinapses representadas por pesos numéricos, ou seja, o neurônio simplesmente obedece à lei do “tudo ou nada” pois somente pode se encontrar em dois estados: ativado ou desativado. Em seus estudos adotaram o conceito de sistema binário, no qual a numeração posicional em que todas as quantidades se representam possui a base em dois números, zero e um. Este artigo é considerado o marco inicial das chamadas redes neurais artificiais (“RNAs”), que são modelos matemáticos/computacionais que possuem unidades de processamento, interligadas entre si por conexões que representam pesos, executando operações em paralelo e de forma distribuída . Portanto, este artigo foi o primeiro embrião para a compreensão do que seria uma rede neural artificial, tão utilizada nas machine learnings.
Contudo, considera-se o “pai da IA” o cientista e matemático do MIT John McCarthy que, em 1955, cunhou o termo “inteligência artificial” e, em 1958, criou uma linguagem de computadores denominada LISP que se tornou a linguagem básica de programação ainda utilizada tanto em robótica quanto em aplicações científicas e diversos serviços com plataforma na internet . Portanto, ao contrário do que muitos pensam, IA não é um tema novo.
Especificamente na área da saúde, há enorme empolgação e grandes investimentos para a aplicação de IA. Neste sentido, por exemplo, a IA, por meio do uso de softwares como o TensorFlow da Google, permite maior precisão nos diagnósticos de doenças cerebrais através do exame de ressonância magnética . O TensorFlow também realiza associações entre os sintomas, de acordo com a enfermidade e o histórico do paciente. Já a Verb Surgical, uma parceria entre a Google e a Johnson & Johnson, ambiciona conectar cirurgiões à uma plataforma que lhes possibilite realizar cirurgias, administrar cuidados pré e pós operatório dos pacientes. O Watson, da IBM, aproveita conteúdos da literatura científica e os confronta com dados genéticos ou clínicos dos pacientes para sugerir as melhores opções de tratamento, inclusive para ser utilizado em programas de assistência social do governo .
Um caso extremamente interessante de utilização de IA tem ocorrido no Japão, onde 27,35% da população possui mais de 65 anos de idade. Atualmente, há 5000 Enfermeiros Robôs residenciais em teste no Japão que realizam desde as tarefas mais simples, como auxiliar na movimentação física, verificar sinais vitais básicos e ministrar medicamentos até servir de interface para os pacientes se comunicarem com os médicos. O Japão economizará US$21bilhões por ano em saúde utilizando-se de robôs para o monitoramento dos idosos.
Contudo, a despeito dos incríveis avanços na área da saúde com a utilização de AI, em um artigo científico redigido em coautoria pela Universidade de Harvard e do MIT em 2019, denominado “Adversarial attacks on medical machine learning” , chegou-se à conclusão que os denominados sistemas de machine learnings da área médica poderão oferecer falhas decorrentes de inserções de dados que levam em consideração, antes de tudo, a influência dos bilhões de dólares gastos na própria indústria médica, muitas vezes adotando-se critérios nada éticos.
A grande questão em discussão não é se possuímos tecnologia ou se os algoritmos criados são bons o suficiente para recriarem a mente humana mas, sim, se os indivíduos que alimentarão de informações estas IA possuem conhecimento e ética para não causarem um enorme desastre à humanidade.