A máxima medir para gerenciar também é uma realidade para as empresas e suas ações de gestão da saúde populacional. Com os dados desintegrados e vindos de fontes diversas, a tendência é que, caso não haja um olhar para a integração, as informações sobre a saúde dos profissionais fiquem depositadas em silos e as ações para a gestão de saúde populacional totalmente desintegradas. O resultado para essa equação já é vivido por muitas empresas: aumento dos custos com os planos de saúde e total falta de conhecimento da saúde de seu principal ativo: o profissional.
Normalmente essas informações estão depositadas em diferentes fontes como os dados do plano de saúde, benefício de medicamentos, programas de saúde e qualidade de vida, saúde ocupacional e ambulatórios, questionários de saúde e planos odontológico. O desafio é integrar, cruzar e gerir a saúde do profissional a partir disso. ?Para fazer gestão de saúde populacional com os dados de hoje é difícil?, afirmou o diretor técnico da Funcional, Gustavo Guimarães, durante evento da Aliança de Saúde Populacional (Asap).*
E por que isso é importante? O executivo afirma que diante do aumento da expectativa de vida do brasileiro, há pela frente o envelhecimento dessa força de trabalho. Ou seja, as empresas precisam conseguir pelo menos retardar os custos e oferecer qualidade de vida melhor para os funcionários, porém é preciso agir agora.
Guimarães cita dados da Funcional que ilustram bem os problemas que as companhias podem ter no futuro. De acordo com um levantamento da Funcional, a frequência de internação de populações com mais de 60 anos ou mais é de 16,5%; no grupo composto por pessoas entre 40 e 59 anos, a taxa é de 9,3%. O executivo também mencionou um estudo Instituto de Estudo de Saúde Suplementar (IESS), que mostra o aumento de 40, 4% nos gastos com a população idosa no plano de saúde individual, comparando o crescimento de 2010 a 2030 e de 47, 9% nos planos coletivos no mesmo período.

Mapear para gerir

Quem já se alertou para cuidar de seus profissionais e com isso também retardar e evitar custos é a operadora de telecom Oi. A companhia implantou um programa para a integração e gerenciamento da saúde dos seus mais de 20 mil funcionários, que somados com os dependentes totalizam 50 mil vidas em todo País. A primeira ação da empresa foi mapear essa população nos 267 municípios onde atua. ?É preciso conhecer o perfil de saúde individual e coletivos?, afirma a médica da Oi, Daphne Braga.
E com vidas distribuídas Brasil afora é preciso traçar os perfis e considerar as realidades locais, senão serão apenas mais gastos. ?Quando conseguimos atuar de forma mais específica melhoramos o nível de saúde?, afirmou durante o evento. A executiva deu o exemplo de Manaus (AM), onde certa vez, foi questionada por um dos colaboradores da empresa, sobre o que resolveria o problema do alcoolismo naquela filial. Problema este, que ela não tinha ideia que ocorria. ?Ninguém assume o etilismo, ninguém vai colocar isso no atestado. Mas nas conversas e [nos exames] periódicos isso é dito?, explicou para em seguida questionar: ?será que adianta fazer um programa de etilismo para um lugar onde eu sei que não tem etilismo ou um programa de antitabagismo para um lugar onde a maioria não fuma??
Esse foi um dos objetivos da empresa: conhecer melhor a população e com isso trabalhar ações mais focadas e personalizadas, melhorando assim o nível de saúde e reduzindo o absenteísmo. A empresa já dispunha de diferentes programas voltados à saúde do colaborador como o benefício de medicamento, check-up dos executivos e exames periódicos, programas de qualidade de vida, planos de saúde e odontológico. Mas juntar e cruzar essas informações foi um ponto essencial para a gestão da saúde dos profissionais e seus dependentes. ?Conseguimos juntar todos os bancos de dados da parte ocupacional, dos programas de saúde e da parte assistencial. Isso é constante, as informações que chegam, avaliamos e fazemos as ações. Sempre estamos medindo e vendo que temos que melhorar?.
Assim nasceu o Programa Vida Saudável, com foco no gerenciamento de crônicos, mas também na prevenção daqueles predispostos a desenvolver as doenças crônicas, com mapeamento dos fatores de risco como: sedentarismo, estresse, obesidade e tabagismo. Além disso, a empresa se atentou para a depressão e as lombalgias graves, que são frequentes por conta do perfil da companhia. ?Dentro da empresa encontramos alguns casos, e essas patologias dentro da realidade da nossa empresa criariam uma série de problemas na empresa?, conta.
Dois anos e meio depois da implantação do programa, a Oi já apresenta resultados positivos. Hoje 1808 pessoas no programa, sendo 1307 colaboradores e 501 dependentes. Houve diminuição de 11, 2% na projeção da frequência de internações, ROI de 1.7 de redução no custo total, ou seja, a cada R$ 1 gasto, a empresa economizou R$ 1.7 e aumento de 21% na adesão aos medicamentos. ?É impressionante a quantidade de colaboradores que dizem que têm alguma doença crônica e não vão ao médico nem tomam o medicamento?. Daphne também comemora o aumento de 35% na adesão aos protocolos de tratamento de doenças cardíacas e 60% em diabetes. A personalização também teve um papel importante. ?Todos têm o cuidado individualizado e são traçadas metas com os indivíduos?, afirma.
*As informações foram apresentadas do debate sobre integração de informações na gestão de saúde realizado no último dia 28 de novembro pela Asap